Os efeitos colaterais da pandemia do novo coronavírus seguem aparecendo. Em pesquisas realizadas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Federação da Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o cenário difícil para a recuperação da indústria foi evidenciado. Fatores como a falta de insumos e a alta nos preços de matérias-primas são impeditivos para a volta do crescimento no setor, que tenta voltar às atividades após o fim do período de isolamento e da retração econômica causada pela pandemia.
Itens como o papelão, plástico e aço estão escassos e mais caros no mercado, e os empresários relatam que a dificuldade em adquirir esses produtos afeta diretamente o trabalho das companhias, que são obrigadas a atrasar entregas ou recusar novos pedidos. Outro problema causado pela falta de oferta e alta na demanda é a elevação dos preços. A estimativa é que esses produtos estejam até 30% mais caros e o consumidor no varejo pode acabar recebendo esse repasse de preço.
Dificuldades
As pesquisas realizadas pela CNI e Fiesp foram realizadas nas primeiras duas semanas de outubro e ouviram, respectivamente, 1.855 e 414 empresas do setor de indústrias.
No levantamento da CNI, 68% dos empresários alegaram encontrar dificuldades ao adquirir os materiais usados na produção no mercado brasileiro. O mesmo cenário se repete quando a tentativa é de apelar para a importação. 56% das fábricas encontra dificuldades.
Nos preços, 82% das indústrias dizem estar pagando mais caro pelos insumos, e para quase um terço dessas empresas, o aumento nos preços é considerado acentuado.
Na pesquisa da Fiesp os resultados foram semelhantes. 59,5% dos empresários consultados estão tendo dificuldade ao comprar materiais como o papelão, e os preços estão até 30% mais altos do que antes da pandemia. A procura pelo aço é ainda maior. 67% dos entrevistados relatam que a escassez do produto é muito alta.
Indústria não estava preparada para a demanda
As restrições impostas pela pandemia obrigaram as indústrias a diminuírem suas atividades e, em alguns casos, até paralisaram totalmente as cadeias de produção. Devido à baixa procura na época, o estoque reduzido foi suficiente para atender aos pedidos que chegavam. Porém, com a crescente retomada da economia, que acelera cada vez mais seu ritmo, as indústrias não estão conseguindo acompanhar. Os fornecedores ainda estão caminhando em marcha mais lenta, com estruturas desmobilizadas e estoques muito baixos.
A desvalorização do real também é um fator condicionante nesta situação. O preço dos insumos importados ficou muito mais caros. Além disso, muitas das matérias-primas nacionais também têm sua cotação referenciada pelo dólar.
O setor ainda deve sofrer até se adaptar às demandas e conseguir recuperar o ritmo de antes da pandemia.