Os pacotes de auxílio do governo brasileiro foram capazes de reduzir os impactos da pandemia. O mercado, porém, está preocupado com o tamanho da conta que esses pacotes geraram.
Investidores têm cada vez mais fugido da moeda brasileira e de investimentos domésticos. Títulos do governo estão com demandas menores, com investidores apreensivos e indispostos a comprar qualquer coisa além de títulos de vencimento a prazos cada vez menores.
A União se encontra em uma situação muito apertada, o governo tem um montante superior a R$600 milhões. Com a situação apertada, o mercado se tornou ceticista quanto à capacidade do governo de emitir títulos a partir de 2021.
Com mais de US$107 bilhões destinados para o combate à pandemia de COVID-19, os pacotes de socorro do governo brasileiro são considerados desproporcionalmente grandes para o tamanho da economia brasileira. Os pacotes representam cerca de 8% do PIB brasileiro, um número bastante acima da média dos países emergentes e proporcionalmente maior que os pacotes executados em países de economias mais saudáveis que a brasileiro, como o Reino Unido e a Nova Zelândia.
De certa forma, o Brasil pode ser considerado uma “cobaia” de um experimento realizado por seu próprio governo: a economia brasileira é capaz de pagar pelas despesas trazidas pela pandemia ou o país se afundará em uma crise econômica de grandes proporções a partir do primeiro trimestre de 2021?
Até agora, o mercado dá indícios que a resposta para a pergunta acima é a segunda alternativa. Como citado antes, há um enorme ceticismo quanto à capacidade do Brasil de cumprir seus compromissos a partir de janeiro de 2021. Em entrevista à Bloomberg, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga afirma que um desastre econômico é uma possibilidade cada vez mais plausível no Brasil.
A dívida pública brasileira está cada vez mais próxima de 100% do PIB nacional. O cenário se torna mais preocupante quando consideramos o histórico de inadimplência e inflação alarmantes do país, que dificultam o financiamento da dívida. Investidores também se mostram preocupadíssimos com a velocidade em que a dívida pública vem crescendo no Brasil, que passou de 65% para 95% do PIB nos últimos cinco anos.
O subsecretário da dívida pública do Tesouro, José Franco de Morais, porém, afirma que até o final de 2020 o governo federal terá em caixa os recursos necessários para os débitos dos primeiros quatro meses de 2021. É importante afirmar, também, que a dívida pública brasileira é mais de 90% expedida em moeda nacional, um cenário incomum para um país emergente. O endividamento em moeda nacional é um fator que pode facilitar o financiamento da dívida, especialmente no cenário atual, em que o real se viu desvalorizado em mais de 30% no mercado internacional em 2020.
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