No primeiro pregão após o anúncio da vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais dos EUA, a Bolsa de valores brasileira recebeu R$4,5 bilhões em aportes de estrangeiros. O valor representa a maior entrada de capital estrangeiro em um único dia desde 2007.
O resultado também é maior que toda a entrada de capital estrangeiro registrada durante o mês de outubro (R$2,9 bilhões). O aporte também foi capaz de reduzir o capital retirado da Bolsa, que atualmente soma R$77,2 bilhões em 2020, valor recorde para um único ano no mercado brasileiro.
O saque de capital da Bolsa brasileiro tem três principais motivadores: as incertezas proporcionadas pelo processo eleitoral americano no mercado internacional, o mal desempenho da economia nacional diante da pandemia do novo coronavírus e o consequente cenário de comprometimento das contas públicas. Com Biden eleito durante o final de semana e a Pfizer trazendo notícias animadoras sobre sua vacina, o mercado internacional ganhou fôlego no início desta semana.
Países emergentes se viram beneficiados, recebendo aportes estrangeiros. Investidores, com o apetite por risco recuperado, voltaram a dar atenção a mercados destas economias emergentes, como é o caso da Bolsa brasileira. Ouvido pelo Estadão, Cesar Mikail, gestor da Western Asset, afirma que não há sinais de que fluxos como o de segunda-feira serão uma tendência, uma vez que a continuidade de resultados como esse dependerá do humor de grandes investidores.
Para atrair mais atenção dos investidores e, consequentemente, mais capital estrangeiro, o Brasil precisa superar o terceiro obstáculo, ou seja, quando as contas públicas estiverem sob controle. É necessário frear o endividamento brasileiro, que se aproxima cada vez mais de 100% do PIB nacional.
Para Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável do BTG, o fluxo de capital estrangeiro na bolsa nesta segunda reflete a recuperação e otimismo do mercado internacional, e não um por influência do cenário brasileiro.“A entrada é mais pela questão global do que pelo otimismo com o Brasil”, afirmou em depoimento ao Estadão.
Para outros especialistas ouvidos pelo jornal, os riscos envolvidos em investimentos no Brasil ainda são uma preocupação que afasta investidores do país, e continuará a afastar enquanto o mercado considerar que as contas públicas do país estão comprometidas.
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