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Pandemia confirma desigualdade racial no mercado de trabalho

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Diferença na taxa de desemprego entre pretos e pardos e o restante da população alcançou 5,45 pontos percentuais, o maior patamar desde 2012. Este dado, levado a público através de levantamento do IBGE, aponta que a maior parte da população negra está hoje atuando no mercado informal, não podendo trabalhar em função das medidas de distanciamento social.

Mas essa disparidade de vagas de trabalho começou lá em 2015, avançando 2016 adentro, chegando então ao índice histórico agora em 2020, com a pandemia indisponibilizando milhões de vagas. Em junho, em pleno aumento dos números do Covid-19 no Brasil, foi que a taxa da desigualdade chegou ao número histórico. Lembrando também que a última vez que a diferença bateu os 5 pontos percentuais foi lá no início de 2017, mais precisamente em março, quando assinalou 5,24 pontos.

Na metade de 2020, o desemprego chegou a 15,8% entre pretos e pardos. Já entre brancos, amarelos e indígenas, este número ficou bem abaixo, registrando 10,4%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do IBGE. A explicação para isso é que os cargos que exigem menos qualificação, costumeiramente ocupados pela população negra, são os primeiros a serem cortados em situação drástica, que foi o que aconteceu. Entre abril e junho, o número de pessoas que desenvolvem atividades informais caiu 24,9% na comparação com o mesmo período ano passado, de acordo com o IBGE.

REDUÇÃO NO TRABALHO DOMÉSTICO

Observou-se também que no 2º trimestre, houve uma redução de 24,6% em outra posição ocupada pela população negra, que é o trabalho doméstico. O resultado se mostra negativo, com uma taxa de desemprego entre mulheres negras (pretas, pardas e indígenas) em 18,2% em junho. Entre as brancas esse índice ficou em 11,3% e entre homens brancos, 9,5%.

Entretanto, há economistas que apontam a existência de outros pontos que contribuem para essa discrepância, como o do preconceito. Isso porque o número de anos que os negros têm dedicado aos estudos cresceu 12,1% entre 2014 e 2019, enquanto entre os brancos o avanço foi de 7,5%, o que indica que a desigualdade na qualificação vem sendo reduzida. 

Mas mesmo assim, a renda da população negra caiu 4,9% no período e a da branca cresceu 1,8%. Os especialistas apontam ainda que a distância educacional entre negros e brancos pode voltar a crescer com a pandemia. E começa lá nos primeiros anos de ensino, já que dados do IBGE mostram que 17,3% das crianças negras não receberam o material para estudar em casa em agosto. Entre brancos, esse número novamente cai drasticamente, para 8,3%.

AS DIFERENÇAS QUE SEMPRE EXISTIRAM

No entanto, a pandemia só fez mostrar mais a desigualdade racial, porque as diferenças sempre existiram. O documento do IBGE informa ainda que não importa a camada social, na escolha entre um branco e um negro, a discriminação sempre pesou mais para o lado do negro. Por sua vez, sociólogos apontam a extrema necessidade de se falar sobre o assunto, de expor essa situação. Ninguém pendura uma placa dizendo que a empresa não contrata negros. Isso acontece naturalmente, dando a opção da vaga para os brancos, afirmam sociólogos. Economistas dizem que a desigualdade racial no mercado de trabalho nada mais é do que um reflexo das condições sociais da população. Um primeiro passo para uma mudança, seria possibilitar o acesso a oportunidades. 

Empresas que atuam para reduzir essa diferença no mercado de trabalho observam que no primeiro semestre deste ano o impacto da pandemia foi grande. No entanto, a morte de um negro norte-americano parece ter acordado posições. Após o assassinato de George Floyd, americano negro que foi estrangulado por um policial branco em maio, cena assistida no mundo inteiro através de redes sociais, uma ONG que seleciona e treina trabalhadores negros, apontou o crescimento de 400% o número de empresas que buscaram a especializada para treinamento.

Em uma empresa que seleciona negros para o mercado de trabalho, a procura cresceu 250%, também na esteira do caso Floyd. Ainda teve crescimento em seu próprio quadro de recursos humanos. As duas lamentam que apenas uma comoção mundial tenha a capacidade de promover este crescimento em programas de diversidade. Percebem ainda que essa dívida histórica é melhor entendida por multinacionais, tanto que aqui no Brasil 90% empresas que buscam a orientação das especializadas na colocação de negros no mercado de trabalho, são  direcionadas pelas matrizes internacionais. No Brasil, muitas empresas negam a existência do racismo.

EM RIO GRANDE

Para o coordenador municipal da Política de Promoção da Igualdade Racial em Rio Grande, Chendler Siqueira, também integrante da União Nacional de Negros e Negras pela Igualdade, “a pandemia apenas desnudou a nossa desigualdade racial. Evidenciou que são os negros e negras que mais foram afetados tanto pela doença como pelas consequências dela, desmentindo assim a ideia inicial de que essas consequências seriam igualmente sentidas na sociedade como um todo”, apontou.

Chendler ressaltou ainda que “prova disso está no mercado de trabalho, onde os primeiros a serem dispensados foram os negros, detentores dos postos mais baixos e com menor estabilidade. Não é coincidência que a população preta é a majoritária nesses postos de trabalho. Isso vamos conseguir compreender olhando a história do nosso Brasil. Historicamente nosso País foi construído para que a raça negra fosse a população com menos acesso a escolaridade e formalização. Com isso sobram apenas os postos mais baixos, que garante apenas a sobrevivência”, finaliza o representante dos movimentos negros.

E nesta sexta-feira, 20 de novembro, data em que comemora-se o Dia da Consciência Negra, o  coordenador destaca que “ratificamos a importância desta data no Brasil e no mundo ao nos depararmos com situações cotidianas de racismo e intolerâncias. O indiciamento de quem quer que seja, por atos, palavras ou disseminação de pensamento de ódio, racista e/ou preconceituoso deveria ser habitual em nosso País. Mas infelizmente a própria condição do racismo estrutural e institucional, presente no Estado, ameniza as agressões e não as tipifica no crime cometido, que é sim o de racismo”, finaliza.

Foto: Reprodução/Márcia Foletto

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