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Agronegócio e o Aumento de Preços do Mercado Agrícola

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Não é de hoje que o Brasil é chamado de celeiro mundial de alimentos. O ‘mindset’ do produtor rural brasileiro é de que nós vamos alimentar o mundo. O agronegócio é uma peça chave do nosso país. A pujança dos últimos anos com aumento de produtividade, expansão de área plantada, forte investimento em novas tecnologias e grande crescimento da demanda mundial por alimentos, tornaram o agro brasileiro um player muito competitivo em âmbito global.

Na economia brasileira também tem grande importância. De acordo com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em 2019, a participação do agro no Produto Interno Bruto (PIB) nacional foi de 21,4%. Sabendo que tivemos certa desaceleração na indústria e nos serviços, devido à crise gerada pela pandemia, a tendência é de que tenhamos um aumento de participação em 2020. De um modo geral, o setor primário (agricultura, pecuária, mineração, etc.) como um todo, ficou ainda mais participativo no levantamento de tudo aquilo que produzimos no país neste ano.

Mas, como toda essa força na produção agrícola nacional, grande parte das pessoas não estão entendendo qual o real motivo do aumento geral de preços nos alimentos. Afinal de contas, parece contrastante que no “celeiro do mundo” estamos com falta dos mesmos. Qual o motivo da elevação de preços no mercado agrícola? As famílias brasileiras mudaram os hábitos de consumo? Agricultores tem lucrado com essa supervalorização no preço de commodities?

É claro que estamos passando por um período turbulento. E isso não é somente no mercado agrícola. Em geral, podemos notar o aumento de preços em vários produtos, desde alimentos básicos até itens supérfluos. Com a COVID-19, que alterou muitas coisas em nossas vidas, percebemos várias mudanças no comportamento dos consumidores (hábitos de consumo).

Portanto, não podemos colocar a “culpa” somente em um item dessa engrenagem toda que se chama agronegócio. São vários pontos a serem analisados. No quesito produção, tivemos quebra de safra em 2020, principalmente na região Sul do Brasil, devido à estiagem. Somente no Rio Grande do Sul, a safra de soja teve uma redução de 43,4%, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Um detalhe considerável, com toda certeza, foi o aumento da demanda por alimentos. As famílias começaram a ficar mais tempo em casa, cozinhando e consumindo em maior quantidade. Sem falar na estocagem, pois muitas pessoas, por medo de faltar produtos nos mercados, compraram boa quantidade de um mesmo produto, com o objetivo de ter o suficiente por meses.

O auxílio emergencial foi outro agravante. O programa do Governo Federal de forma a beneficiar trabalhadores, desempregados, empreendedores, etc. que estivessem passando por dificuldades devido a pandemia, atendeu também muitas famílias que viviam com falta de alimentos, melhorando assim o nível de vida de cada uma delas. Principalmente aquelas que estavam em situação de miséria. Com dinheiro na mão, as pessoas de baixa renda passaram a se alimentar com mais qualidade. Com isso, praticamente todos os produtos da cesta básica tiveram aumento de preço.

Outro fator importante, e que impulsionou o aumento de preços do mercado agrícola, foi o crescimento das exportações. Anualmente, além de ter um grande volume de vendas para todos os continentes, de forma especial, em 2020, temos um câmbio favorável para exportar. Com isso, fica conveniente para vários países comprarem do Brasil, pois o dólar com relação ao real proporciona preços bastante atrativos. E com o aumento da demanda mundial, exemplo disso é o óleo de soja, também aumentou consideravelmente o preço para nós consumidores brasileiros.

Alguns fatores são ainda pontuais, como exemplo cito o arroz, em que tivemos por vários anos redução da área plantada e pouco investimento, pois o custo de produção estava alto e muitos produtores ficavam com medo de investir e correr o risco de não cobrir as despesas. Com isso, ainda tivemos aumento da demanda por este produto (item da cesta básica), resultando em um aumento de preços inimaginável meses atrás.

Olhando pelo lado dos produtores rurais, não percebemos grandes lucros, pois o custo de produção também cresceu em praticamente todas as cadeias produtivas, com essa elevação geral de preços dos últimos meses. Insumos como ração para animais, fertilizantes e defensivos tiveram aumento, pois geralmente são cotados em dólar. Máquinas agrícolas tiveram reajuste no preço devido ao alto valor pago pelo aço, ferro, borracha, componentes eletrônicos, etc., ou seja, matéria prima para fabricação.

Embora seja um setor que consegue bons resultados há vários anos devido à alta demanda mundial e ao profissionalismo dos profissionais do agronegócio no país, percebo muitos desafios pela frente, como ampliar nossa infraestrutura para escoar a produção (armazenagem, rodovias, aeroportos, etc.). Contudo, o Brasil está fazendo sua parte na produção agrícola e pecuária. Devemos melhorar em todos os quesitos. Este é o pensamento para as próximas décadas: ter como meta aumentar a produção e a qualidade dos produtos agrícolas, sabendo utilizar melhor a área plantada e com redução de custos. A tecnologia é uma importante aliada para isso.

Seguimos em frente. O campo não para!

Denis Kohler Bubolz

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