Notícias

Erros colocam posição do Brasil em xeque quanto a vacinação

5 Minutos de leitura

Com o maior programa público de imunização do mundo, com a distribuição de 300 milhões de doses em todo o território nacional, o Brasil era visto no exterior como exemplo de competência neste setor, assim como na produção de vacinas. A pandemia do Covid-19,vem  questionando essa posição. 

O questionamento faz referência ao registro de que 46 países, entre eles, Argentina, Rússia, Canadá, França e estados Unidos, no início de 2021 já haviam iniciado a vacinação em massa e o Brasil ainda não havia autorizado o uso emergencial de nenhuma, tendo iniciado a vacinação de grupos prioritários, oficialmente, no início desta semana, na segunda-feira (18), um dia após a autorização da Anvisa para o uso de 8 milhões da Coronavac e a britânica Oxford. 

Aponta-se que no final do ano de 2020, o presidente Jair Bolsonaro assinou uma MP, destinando R$ 20 bilhões para a vacinação da população e para aquisição de seringas, agulhas e toda a logística que a situação demanda. Porém sucessivos equívocos atrasaram a chegada da vacina, fazendo com que especialistas levantassem incertezas quanto ao sucesso da vacinação em massa. 

O que se tem até agora são 6 milhões da Coronavac distribuídas pelo Brasil. Outras 2 milhões de doses que foram fabricadas pelo laboratório indiano Serum, devem chegar na tarde desta sexta-feira (22) no Rio de Janeiro. A carga está vindo em um voo comercial da companhia aérea Emirates. O pedido pelas vacinas foi feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em 8 de janeiro.

OS ERROS

Com a visão de que é através da estratégia que se vence uma guerra, vários especialistas acabaram por expor suas opiniões sobre os erros de planejamento que acabam influenciando na aquisição das vacinas. Um deles refere-se à posição do governo federal quanto investir em poucas vacinas. O que se comprou até agora – mas ainda irá demorar para chegar – foram 260 milhões de doses da Oxford em parceria com a AstraZeneca, porém com mais da metade das unidades (16 milhões) aportando no Brasil somente no segundo semestre deste ano. 

Há ainda 42,5 milhões através do Covax Facility (Fundação Bill e Melinda Gates). Não há nenhuma informação sobre a aquisição das vacinas da Pfizer e Moderna, que já estão sendo utilizadas de forma emergencial na Europa e também nos EUA. O estado de São Paulo saiu na frente e garantiu 46 milhões de doses da Coronavac. Sem essa iniciativa, o Brasil não teria uma única pessoa vacinada em todo o território.

O grande problema é que o Brasil acabou ficando, conforme os analistas, preso a poucos laboratórios, e com a demora na decisão de firmar contratos, esses mesmos laboratórios acabaram por firmar a venda para outros países. E o Brasil paga hoje como consequência o preço que a lei da oferta e da procura oferece, o mesmo que se deu quando o governo decidiu adquirir seringas e agulhas em um pregão internacional. 

A falta de planejamento é outro erro apontado pelos analistas, que direcionam o problema a falta de posicionamento do Ministério da Saúde, uma falha iniciada no começo da pandemia. Estes mesmos analistas mostram preocupação quanto ao fato das vacinas estarem sendo adquiridas somente agora. Eles observam que o ex-ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, que ficou 15 meses à frente da pasta, já havia indicado a importância de se ter vários fornecedores.


Saiba mais

Brasil inicia vacinação contra Covid-19, veja as principais informações


Lembrando que Mandetta deixou o cargo dia 16 de abril de 2020, após desgastes com o governo federal, quando se posicionou contra o uso da cloroquina, amplamente divulgada pelo governo federal como protocolo de tratamento contra o Covid-19. O próximo ministro, Nelson Teich acabou deixando o MS um mês após ter assumido. O motivo foi o mesmo de Mandetta.

Uma grande responsabilidade frente aos erros está sendo direcionada ao setor de logística, ainda mais quando o Brasil é apontado como um país mais caro quando se trata de transporte. Aqui, a estimativa de custos logísticos fica em torno de 12% do PIB, enquanto que em países como Estados Unidos e Canadá, que possuem a mesma proporção em termos de dimensões, este índice cai para 8%. 

Com aeroportos espalhados em grandes centros e cidades em destaques, o problema aqui é como chegar nos locais mais distantes  do país, um problema notificado no Amazonas, quando as cidades pequenas sofreram com o desabastecimento de oxigênio. 

Este problema quanto ao planejamento foi relatado por docentes da Fundação Getúlio Vargas, que emitiram um documento no qual diziam que o governo federal considerava prematura a discussão sobre os desafios da logística. Enquanto isso, várias outras instituições ligadas ao setor de saúde pública já cobravam do governo um planejamento a contento. 

O alerta sobre a situação foi feito inclusive pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), que advertiu o governo federal brasileiro sobre a necessidade premente de se iniciar um planejamento centralizado dado o tamanho da importância que o assunto demandava, junto a empresas aéreas e rodoviárias e fluviais.  

Para se ter uma ideia, os especialistas em saúde observam que o problema vai ser maior ainda se o Brasil comprar as vacinas da Pfizer e da Moderna, em razão da temperatura baixíssima que precisam permanecer durante o transporte. 

Há ainda uma outra questão manifestada pelos especialistas, que é a dependência do Brasil hoje em relação a países do continente asiático, a China e a Índia, os dois principais produtores de vacina do mundo em virtude da grande população: China, com cerca de 1,3 bilhões de habitantes; Índia, com 1,1 bilhão.

E se há algo que veio para complicar ainda mais, dizem os analistas, é a posição de Bolsonaro desde o início contra a vacina chinesa e as acusações de que o Covid seria um vírus chinês.  Problemas com a China não são só em relação à vacina, fato que deixou o Brasil em uma posição de isolamento. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, é identificado como “antiglobalista” e sempre atacou os chineses. 

Já no caso da Índia, sabe-se que o Brasil deixou de se alinhar com países em desenvolvimento no pedido de quebra de patente farmacêutica em produtos e medicamentos voltados ao combate à pandemia. Nessa questão, o governo federal favoreceu a composição com países desenvolvidos na Organização Mundial do Comércio (OMC), como a União Europeia. 

Como consequência, a Índia considerou como “ser deixada de lado” e colocou países como Butão e Seychelles, entre outros, na prioridade para receber as vacinas. 

O Brasil tem um currículo invejável na erradicação de doenças. E poderia hoje estar na liderança em relação a vacinação da população quanto ao Covid-19. O problema é o programa político, relatam os analistas. 

Foto: Anete Poll

Quer investir no mercado de ações mas não sabe por onde começar?

Preencha o formulário abaixo que um assessor da GX Investimentos irá ajudar em sua jornada a liberdade financeira
smart.money

Postagens relacionadas
Notícias

Setor de Serviços surpreende e cresce 0,9% em maio, acima das expectativas

1 Minutos de leitura
O volume de serviços no Brasil apresentou um crescimento surpreendente de 0,9% em maio, superando a previsão dos analistas de uma alta…
Destaques do diaNotícias

Relatório Focus: projeções para Inflação de 2023 e 2024 caem, enquanto expectativas para o PIB aumentam

1 Minutos de leitura
Em uma nova edição do Relatório Focus, divulgado pelo Banco Central, as projeções para a inflação brasileira de 2023 e 2024 foram…
Notícias

IBC-Br surpreende e cresce 0,56% em abril, superando expectativas do mercado

1 Minutos de leitura
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma espécie de “prévia” do Produto Interno Bruto (PIB), apresentou um crescimento…