CuriosidadesEducação Financeira

De onde vem o dinheiro?

8 Minutos de leitura

Conhecemos o dinheiro por várias faces. A mais comum delas é o papel, que retiramos em nossas instituições financeiras e usamos como moeda de troca para produtos e serviços. É a forma mais direta e comum no atual regime financeiro, mas essa realidade está mudando rápido.

Comparado com a história do sistema financeiro na humanidade, a criação dos primeiros bancos digitais na década de 90 é uma inovação extremamente nova, assim como o uso das primeiras maquininhas de cartão de crédito, tão comuns hoje em dia.

Com o lançamento de ferramentas cada vez mais modernas, como o PicPay e o Pix, o brasileiro deve se modernizar cada vez mais, facilitando compras e transações financeiras pessoais, agilizando processos e fórmulas matemáticas via Inteligência Artificial. No ritmo atual da modernização do sistema financeiro, é provável que o dinheiro em papel perca boa parte de sua relevância.

O dinheiro é uma das ferramentas sociais mais importantes da humanidade. Presente em praticamente todo tipo de troca, é difícil imaginar um mundo onde o sistema financeiro não existe. Esse mundo, porém, certamente existiu.

Para entendermos como hoje conseguimos acreditar que um pedaço de papel tem um valor X, e que ler um QR Code em um loja possibilida enviar uma quantidade de dinheiro virtual — que todos acreditamos que existe um valor intrínseco —, precisamos voltar em um tempo em que a norma era o commodity money.

Uma galinha por cinco sacas de trigo

Muito antes do nosso regime financeiro atual, e muito antes da globalização do mundo do mercado, quando mercadores viajavam grandes distâncias para realizar comércio, a humanidade vivia através da troca. É um sistema rudimentar, mas que fazia completo sentido para a época.

Quando o ser humano começa a se sedentarizar no período Neolítico (7000 a.C. até 2500 a.C.), ou seja, fixar-se em algum lugar específico, a prática da agricultura começa a se tornar padrão das sociedades mais rudimentares. É um período crucial para a humanidade, pois além da formação das primeiras sociedades complexas, fixar-se em um lugar abriu a possibilidade de pessoas começarem a comercializar aquilo que é produzido em excesso.

Além do início das trocas de commodities entre pessoas do próprio grupo, como o trigo, gado e sementes, pequenas trocas comerciais começam a acontecer entre um grupo e outro, de acordo com os interesses e necessidades de cada um. Embora o dinheiro de papel facilitaria esse processo, diminuindo a incidência de rompimento de trocas por falta de interesse ou necessidade, é possível que uma moeda não teria utilidade na época.

Posteriormente, as próprias commodities, e produtos de alto valor social, começaram a ser usados como moedas. Na China antiga, por exemplo, facas e espadas começaram a ser usadas entre o período 600 e 200 a.C. como moeda. Na Europa, durante o império romano, o sal foi moeda de troca.

Exemplos mais extremos acontecem em lugares como na ilha de Yap, na Micronésia. Discos circulares de pedra de mais de 3m de comprimento eram usados como moedas em transações. Como era um objeto pesado, seu valor era reconhecido através da própria memória das pessoas, que registravam a quem uma determinada pedra pertencia.

Sistemas financeiros mais modernos da época usavam conchas como moeda de troca. Como sua coleta era difícil de realizar e extremamente limitada, o risco de inflação nos povos que a utilizavam era praticamente nulo.

A vantagem do commodity money para a época está justamente no valor intrínseco e palpável dos produtos trocados. Sementes e gado possuem um valor social inquestionável, então seu valor é inquestionável.

Moedas de prata, bronze e ouro também se encaixam na definição de commodity money, justamente pelo valor intrínseco que o ouro, por exemplo, possui. Além disso, representam um avanço social importante mesmo quando comparado com as trocas mais rudimentares, como a de galinhas por sacos de trigo, por possuírem um valor social fixo.

O lado negativo de um sistema financeiro baseado em commodity, porém, está justamente na commodity, e por vários motivos. O primeiro deles é o peso. Quando uma economia global cresce, e pessoas começam a se enriquecer, um sistema monetário baseado em moedas de ouro começa a saturar. Além disso, commodities são facilmente alteráveis, com ouro e outras pedras sendo derretidos e álcool diluído.

Um efeito prático das desvantagens deste tipo de sistema financeiro aconteceu durante as Guerras do Ópio, entre os anos 1839 e 1860. Na época, a Europa, Inglaterra principalmente, mais importava da China que exportava. O resultado disso foi um país chinês segurando 40% da prata em circulação do mundo inteiro, provocando inflação e escassez da pedra na Europa.

Nos sistemas financeiros mais modernos, sociedades conseguem superar a presença da commodity e começam a realizar transações mais simbólicas. A primeira experimentação desse sistema acontece justamente no país que segurou 40% da prata do mundo em troca de chá.


Saiba mais

Entenda como funciona a tributação em renda variável


O papel chinês

Fonte: Japan Currency Museum

Uma das primeiras experimentações de papel-moeda aconteceu na China, entre 618 a 907 d.C. na dinastia Tang. Na época, a moeda cunhada mais comum tinha um buraco no centro.

Trocas comerciais na época envolviam, por exemplo, barbantes. Um barbante de comprimento X equivale a Y moedas, e, portanto, equivale a um Z valor.

Os problemas de um sistema financeiro desse tipo começam a aparecer quando uma economia cresce e transações financeiras começam a precisar de, por exemplo, 50 x Z. Quando isso acontece, o peso das moedas vira um empecilho.

Como uma solução ao problema, jiaozi, um dos primeiros papéis-moeda do mundo, começaram a ser emitidos.

Imagem em domínio público

A funcionalidade é simples: um comerciante de confiança poderia emitir um jiaozi, uma nota promissória representando um valor em moedas. O papel-moeda era emitido na região de Liang-Huai pelo governo chinês.

A emissão da nota era extremamente vantajosa para comerciantes que agora não precisam levar dezenas de quilos de moedas para realizar transações comerciais. Como a nota promissória era teoricamente confiável, podendo trocá-la por moedas na capital, esses comerciantes começaram a usar a nota como papel-moeda, não emitindo uma nota para cada transação financeira. Os papéis começaram a circular por si próprios.

Esse primeiro experimento de um papel-moeda durou pouco mais de 100 anos. Pouco, pois o governo chinês não soube controlar a emissão da nota, causando inflação desenfreada. É, porém, um exemplo importantíssimo para compreender de que forma o mundo começou a usar papéis como valores simbólicos representantes.

É também um parâmetro central para o início da abstração do sistema monetário, não precisando necessariamente da commodity em mãos. O experimento chinês serviu como parâmetro para que sistemas monetários europeus, como os da época do mercantilismo, florescessem.

O problema do ouro

Sistemas baseados em commodity money só deixaram de existir em escala global nos anos 70. Até lá, vários períodos da história podem ser usados como exemplos da ineficiência desse tipo de sistema monetário.

Durante o mercantilismo europeu, entre o século XV e o final do século XVIII, um sistema de papel-moeda baseado no valor do ouro foi benéfico no sentido de facilitar transações financeiras e comerciais entre bancos espalhados pelo continente inteiro. Porém, como o mundo não tinha uma moeda globalizada, cada banco emitia notas diferentes, representando valores diferentes para o ouro.

Como cada banco emitia notas diferentes, às vezes a países de distância, muito valor era perdido no meio de um caminho entre um banco e outro. Seja por conta do risco, da distância ou estabilidade.

Esse problema foi parcialmente resolvido com a criação dos primeiros Bancos Centrais, proibindo a emissão de notas diferentes por cada banco e padronizando o papel-moeda. No caso da Inglaterra, isso aconteceu no século 19. 

A fragilidade de um sistema deste tipo está na própria escassez do ouro e prata comparado com o crescimento econômico de uma determinada população. Um banco que emite mais notas de ouro que possui em valor físico abre o precedente de perder a confiança das pessoas, e se todos que possuem notas resolvem resgatar o valor em ouro, o banco quebra.

A fragilidade é agravada pelo sistema de reserva fracionária, que permite a realização de empréstimos e investimentos em valores muito superiores ao valor real retido dentro do banco.

Mesmo assim, o padrão-ouro, juntamente com a estabilidade de Bancos Centrais, foi crucial para o crescimento econômico do mundo, principalmente durante a revolução industrial. O sistema foi norma até praticamente o fim do século 20.

Tudo, porém, mudou depois das primeira e segunda Guerra Mundial. Na ocasião, milhões de notas foram emitidas para arcar com o custo das guerras. Após a 1ª Guerra, com um Estados Unidos produzindo mais que conseguia vender, uma Europa hiperinflacionada e em dívida, as bolsas quebraram em 1929. O evento é conhecido como a Grande Depressão.

Durante a 2ª Guerra, com os Acordos de Bretton Woods em 1944, o mundo passaria pelo primeiro grande acordo monetário. Além da formação do Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento, como a maioria dos países do mundo estavam sobre o padrão-ouro, agora em grande volume nos Estados Unidos, toda moeda passa a ser baseada em uma variação de valor indexada ao dólar.

O fim da era do ouro

Como vimos até aqui, o mundo passou por diversas mudanças em seus sistemas monetários para trazer mais estabilidade no comércio, mais lucros e facilidades. Inicialmente, a grande revolução do papel-moeda trouxe mais facilidade nas transações comerciais. Com a aplicação do padrão-ouro, o mundo cresceu sua economia de forma exponencial, sendo um dos alicerces para a grande revolução industrial.

A partir dos anos 40, porém, o mundo experimentava uma breve transição de moedas baseadas no ouro para moedas baseadas em outra moeda, que por sua vez era baseada no ouro.

O fim do padrão-ouro foi rápido depois disso. Com a chegada da Guerra Fria e Guerra do Vietnã, o ouro, antes estocado nos Estados Unidos, começou a drenar para outros países.

Foi aí que Richard Nixon, em 1971, finalmente tirou o dólar do padrão-ouro. Agora, boa parte das moedas começaram a ser baseadas no dólar, que por sua vez era baseado apenas no valor de mercado.

A partir deste ponto, o mundo supera o sistema de commodity money, e o papel-moeda passa a representar um valor flutuante definido pelo mercado vigente.

O futuro do dinheiro

Com um sistema monetário em sua abstração máxima, a modernização do mundo financeiro acontece em um ritmo acelerado. Com a criação dos primeiros caixas de bancos no final do século 20, as pessoas agora podem realizar operações financeiras com muito mais praticidade.

Uma das inovações mais recentes, e que abriu portas para outras que virão, é a de bancos virtuais. Agora, todos nós, no conforto de nossas casas, podemos realizar transações financeiras, compras, e fazer a administração completa de todas as suas finanças.

A criação de criptomoedas, moedas exclusivamente virtuais presentes em blockchains, representam outro avanço significativo nas inovações do mundo financeiro. Com o desenvolvimento de redes neurais, inteligências artificiais e algoritmos, o sistema financeiro global fica cada vez mais complexo, prático e abstrato.

Atualmente, mais de 60% das transações financeiras são feitas de forma virtual. Em um futuro talvez não tão distante, o papel-moeda deixará de circular.

Tudo isso parece comum hoje em dia, e mal dá para acreditar que o mundo saiu do padrão-ouro a 50 anos atrás. Talvez, daqui a 50 anos, as pessoas não vão acreditar que usávamos papel-moeda em quase metade das transações globais nos anos 20.

Quer investir no mercado de ações mas não sabe por onde começar?

Preencha o formulário abaixo que um assessor da GX Investimentos irá ajudar em sua jornada a liberdade financeira
Juan Tasso - Smart Money

Jornalista Smart Money — Leia, estude, se informe! Apenas novas atitudes geram novos resultados!

1857 posts

Sobre o autor
Jornalista Smart Money — Leia, estude, se informe! Apenas novas atitudes geram novos resultados!
Conteúdos
Postagens relacionadas
ArtigosCuriosidadesDescomplicaEducação Financeira

4 erros de investir na previdência em dezembro

2 Minutos de leitura
Maravilha, tudo bem? Possivelmente você já saiba que a previdência privada do tipo PGBL é o único investimento que oferece um benefício…
ArtigosEducação Financeira

Recupere seu Dinheiro Agora! A Vantagem do PGBL que Você Não Pode Ignorar!

2 Minutos de leitura
Maravilha, tudo bem? Não sei se você já deu conta, mas o final do ano está logo ali. E antes da chegado…
ArtigosEducação Financeira

Investir no PGBL em 2023: Reduza Seu Imposto de Renda até o Final do Ano

1 Minutos de leitura
Com o ano de 2023 em pleno andamento, é hora de considerar estratégias inteligentes para pagar menos imposto de renda e, ao…