Se você parou para ler as notícias nas últimas semanas, você sabe que a economia brasileira não vai bem, e por vários motivos. Primeiramente, a pandemia de COVID-19 continua provocando isolamentos e consequências fiscais imediatas. A inflação parece subir um pouco mais que o esperado, e o Banco Central (BC) tenta correr atrás do prejuízo aumentando a taxa básica de juros do Brasil, a Selic.
Além da pandemia, impasses políticos prejudicam a trajetória da economia brasileira. O Orçamento de 2021, importantíssimo para fazer a máquina pública girar, está travado no Executivo. As consequências desse atraso são sentidas no atraso do pagamento adiantado do 13º do INSS, e a situação deve agravar enquanto ele não é sancionado.
O problema desse tipo de cenário é que incertezas afetam justamente a confiança do investidor no Brasil. Um país que não consegue cumprir com suas responsabilidades fiscais está fadado a registrar resultados econômicos desfavoráveis.
Embora o cenário não esteja fértil, na segunda-feira (19), o Ibovespa esteve acima de 121 mil pontos, maior valor desde a metade de janeiro. Mesmo com o impulso gerado pelo discurso de posse do novo presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, o bom desempenho da Bolsa brasileira também está em outro importante ativo para a economia do país: commodities.
50% de crescimento no último ano
Segundo o Banco Central, as commodities (matérias-primas como petróleo, minério de ferro, café e soja) tiveram um crescimento de 50% em um ano no mercado internacional. No Brasil, a alta dos preços é de 66%.
Como as commodities são produtos básicos, sua variação de preço varia de acordo com o mercado e com a oferta e demanda, com pouca influência das empresas de forma individual.
Uma das maiores altas do mercado é a do petróleo Brent (BZNM21), que subiu mais de 55% nos últimos 12 meses. No caso da soja (SBCK21), o crescimento é de 65%.
Uma das subidas mais íngremes é a do minério de ferro refinado a 62%. A valorização do ano já chega em 13,3%, chegando a patamares vistos no meio do ano de 2011, um dos maiores da história para o minério. Na segunda-feira (19), o preço registrado era de US$ 181,80 por tonelada.
Para muitos especialistas, o Brasil está entrando em um novo superciclo das commodities, em referência aos anos de 2000 e 2010, com a alta nos preços de minério de ferro, soja e petróleo.
Um superciclo acontece quando há um aumento sincronizado e duradouro das matérias-primas, com todos os preços subindo juntos.
De acordo com o Banco Central (BC), o Brasil deve ter um saldo positivo inédito de US$ 2 bilhões em 2021, levando em consideração as projeções de US$ 21 bilhões de resultado, sendo o primeiro superávit desde 2007.
Saiba mais
Brasil, o grande player das commodities
Retomada econômica é a principal responsável
Embora a pandemia de COVID-19 não tenha acabado globalmente, os países já experimentam uma gradativa retomada econômica. Esse movimento é impulsionado por estímulos fiscais em países desenvolvidos, assim como pelos avanços na vacinação da população.
Com países como EUA e China retomando grandes planos de infraestrutura e mantendo juros baixos, a demanda pelas commodities só tende a aumentar. Isso deve beneficiar países emergentes que exportam essas matérias-primas, como é o caso do Brasil. No caso brasileiro, ainda existe o fator câmbio, com um dólar alto que impulsiona exportações.
Por isso, empresas do setor, como a Vale (VALE3), Petrobras (PETR4), Gerdau (GGBR4) e PetroRio (PRIO3), tendem a se beneficiar do novo boom das commodities.
O possível superciclo das commodities é uma janela de oportunidade para países como o Brasil, mas deve ser analisada com cautela. Uma alta das commodities significa também uma aceleração da inflação, podendo provocar aumentos nas taxas básicas de juros nos principais países. Caso isso aconteça, a alta de preços deve sofrer desaceleração.
Foto: Reuters / Divulgação