O início da segunda semana de maio no mercado global foi marcado por um sell-off nos índices. O movimento, que fez desvalorizar todas as grandes bolsas no mundo, acontece após a publicação de dados sobre a inflação nos Estados Unidos.
Segundo dados do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos (DOl em inglês), a inflação no país terminou abril em 0,8%, acumulando 4,2% nos últimos 12 meses. O dado representa o maior aumento do índice desde o acumulado de 12 meses registrados em setembro de 2008.
Embora o aumento na inflação fosse esperado, ele ficou muito acima das projeções de especialistas. Segundo as expectativas do mercado, o aumento iria ficar em 0,2% para abril.
O efeito foi imediato. Na terça-feira (11), os mercados globais despencaram. Na quarta-feira (12), a Nasdaq perdeu -2,67%, enquanto a Dow despencou -1,99% e o S&P 500, -2,14%.
Os EUA, assim como países como a China, estão em um verdadeiro momento de reestruturação e recuperação econômica. No caso dos EUA, investimentos massivos em infraestrutura acontecem, juntamente com a aprovação de pacotes fiscais para beneficiar a população, e planos que buscam recuperar os empregos perdidos na pandemia.
Como o país quer estimular a economia, o Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed em inglês) mantém as taxas básicas de juros próximas a zero, de 0% a 0,25%. Embora um membro do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC em inglês) tenha indicado que a inflação recente é temporária, a reação das bolsas aos dados foi enfática.
Uma inflação fora do controle na maior potência mundial já é assunto para se preocupar. Porém, por conta do momento atípico que vivemos, com um mundo tentando se recuperar da pandemia, os efeitos negativos a serem sentidos no Brasil podem ser potencializados.
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De cara, um aumento na inflação dos EUA pode significar um aumento na taxa básica de juros do país. Isso acontece porque o governo federal percebe que a inflação desenfreada pode prejudicar a economia e a população, e resolve esfriar o movimento de aceleração.
Atualmente, esse movimento de estímulo econômico vem beneficiando países emergentes, como o Brasil. Isso porque, assim como a China, os EUA vem fazendo investimentos maciços na infraestrutura. Isso por si só já está causando um superciclo das commodities, com as matérias primas subindo em 66% de preço no Brasil, segundo o Banco Central (BC).
O novo superciclo das matérias primas pode, inclusive, levar o Brasil a um inédito superávit externo no setor.
Este movimento é aliado com os juros baixíssimos do país, que dá mais liquidez ao dólar, aumentando sua oferta. Isso beneficia o Brasil, que agora vê o valor da moeda norte-americana caindo, podendo chegar a patamares abaixo de R$ 5,00.
Embora a recuperação econômica brasileira dependa de outros fatores internos, como resoluções quanto ao Orçamento para 2021 e a CPI da Covid, um aumento de juros nos Estados Unidos pode começar a impactar a economia. De cara, isso pode diminuir o apetite pelas commodities, e aumentar o valor do dólar ante ao real.
Além disso, as bolsas brasileiras tendem a cair caso os juros dos EUA aumentem. Isso porque economistas tendem a olhar para outros países caso as taxas aumentem, e o Brasil tem um alto risco devido às contas públicas.
Foto: Ministério da Economia