EntrevistasNotícias

Inovação, políticas ESG e ciclo de oportunidades: a trajetória da Scuadra como a mais importante companhia de embalagens para delivery no Brasil

8 Minutos de leitura

Uma boa leitura de um mercado em ascensão, uma grande ideia e a aposta em uma curva de oportunidades. Essa foi a receita ideal que criou a Scuadra, a primeira indústria de embalagem focada para o setor de delivery no Brasil.

Fundada em 2016 por Luiz Antonio Silveira, a Scuadra atua em um dos mercados que mais crescem no país, e atende clientes de alto prestígio da culinária nacional, como o restaurante paulista Ristorantino, a prestigiosa La Nonna Di Lucca e a Macaxeira, que serve comida nordestina desde 2015.

O que hoje se tornou uma companhia que viabilizou o delivery para grandes redes prestigiadas de restaurantes, antes era um projeto idealizado por um ex-distribuidor de produtos de higiene e descartáveis, que assim como todo mundo já sofreu muitas “dores” ao pedir comida em casa.

“Com certeza você já foi cliente de delivery, e nem sempre você tem uma experiência legal. Às vezes recebe aquela comida que não chega em uma temperatura legal, se tiver molho vaza, vem em uma embalagem que não é sustentável”, disse Luiz.

Luizinho, como ele mesmo se refere em terceira pessoa, conta que tudo começou em uma noite de sábado, às dez horas. Ele havia levado o restante de comida para casa após comer em uma das unidades da Coco Bambu, restaurantes de alto padrão. A experiência foi desagradável, pois a tampa do marmitex veio invertida. Assim, a parte de papel colou no molho.

“Essa dor foi uma pancada muito forte, porque era uma marca de padrão alto”, disse ele. “Uma coisa que chamou atenção é que a empresa se desculpou e disse que estava tendo problema com embalagem. Pensei comigo: poxa, não pode ser verdade, um Brasil, país tão grande, tendo problema com embalagem para entregar comida”.

Após o desagradável episódio, Luizinho conta que passou por um dia intenso de pesquisas:

“Coloquei todo tipo de dor [no Google] que eu imaginava na hora de receber uma comida, e ali descobri exatamente o que a empresa havia dito pra minha na noite anterior. Só tinha embalagem isopor, plástico, marmitex, e o pouco que tinha com embalagem sustentável, de papel, era voltado pro fast food”, disse ele. Naquele momento, ele percebeu que existia um mercado ainda pouco explorado.

“Eu gosto muito de tecnologia. Estudo muito o comportamento das startups, no Brasil e no mundo, de onde elas surgem e suas ideias. Comecei a estudar principalmente o comportamento dessas empresas do Vale do Silício, peguei as estratégias e ferramentas que elas usam até hoje e apliquei para o segmento de embalagem”, disse ele.

“Naquele mesmo dia, 9h da manhã, eu idealizei, na minha casa, a primeira indústria de embalagem para delivery de comida do Brasil”

A grande sacada de Luizinho foi perceber como os processos, costumes e hábitos estavam mudando com a chegada de aplicativos de delivery no Brasil, como o iFood. Como o segmento ainda era novo e pouco explorado na época, existia uma grande janela de possibilidades.

“Passei a estudar durante o ano o que era gastronomia, restaurante, delivery, estudei os aplicativos. Naquela época, apenas o iFood era conhecido”, disse. Segundo ele, durante a trajetória, duas lições foram muito importantes. “A primeira é entender a dor do cliente, a segunda é focar. Primeiro, pega o segmento da indústria gráfica. Depois, vai para a embalagem. Depois, Food Service, que ainda é um mercado grande. Afunilando, você chega no delivery de comida”.

Com a ideia em mãos, Luizinho ainda enfrentou resistência para colocar o projeto em prática:

“Quando eu idealizei o novo rumo, a gente [na empresa] trabalhava com material de higiene, limpeza e descartáveis”, disse. Já há algum tempo no ramo de distribuição de produtos de higiene, Luizinho já chegou a trabalhar em um ferro velho com seu pai, que trabalhou em um lixão por três décadas.

“É muito difícil vender material de higiene e descartáveis, mesmo sabendo que é algo da ‘cesta-básica’, que todo muito precisa. A briga é preço. Não tem onde se diferenciar e ter uma vantagem estratégica”, disse ele. Mesmo assim, Luizinho, em uma segunda-feira, reuniu sua equipe e disse: “galera, tive uma dor como cliente, fiz uma pesquisa e vamos produzir embalagem para delivery de comida”.

“O Luizinho enlouqueceu”

“Esse período de um ano foi muito complicado. Nós tínhamos uma equipe de 30 pessoas. Como convencer uma equipe de 30 pessoas que a direção correta seria essa e que iria dar certo? Era uma aposta”, contou ele. “Nesse período, chamamos a perder pessoas-chave”.

Com uma equipe reduzida, Luizinho contratou profissionais do marketing, design e desenvolvedor de embalagem para produzir seu primeiro Produto Viável Mínimo, também conhecido como MVP. Depois disso, tudo que precisavam era de um primeiro cliente.

A oportunidade veio em uma reunião com Renata Vanzetto, que na época era dona do Marakuthai, prestigiado restaurante de São Paulo, além de apresentar um programa no canal GNT. Antes de apresentar três MVPs que sua equipe havia preparado para a reunião, Luizinho abriu os comentários deixados pelos clientes do restaurante na plataforma do iFood.

“Era cliente elogiando a comida, mas reclamando da temperatura e dos molhos que vazavam, disse ele. “Falei: Renata, entrei no ifood e nos comentários dos seus clientes, e vi que eles elogiam muito sua comida, mas não dão nota máxima porque a comida não chega em uma temperatura ideal e pratos com molho vazam”.

Com a atenção tomada, ele conta que mostrou os protótipos, que foram muito bem recebidos. “Mostrei os protótipos, todos personalizados, frutos de um belo trabalho da equipe de marketing”, disse ele. “Renata, em 15 dias eu consigo colocar no seu restaurante essa embalagem”.


Saiba mais

Para o fundador da Dellamed, o “pós-pandemia” em 2021 deve vir acompanhado de melhorias de gestão e inovações tecnológicas


“Viralizou!”

“Espontaneamente, os clientes que receberam o delivery dela notaram uma diferença enorme, porque a comida veio em uma embalagem bonita, sustentável, sem perda de temperatura e sem molho vazando”, conta Luizinho.

Ele conta que a Scuadra, após o bem sucedido teste piloto, começou a receber inúmeras ofertas de vários restaurantes. “Era um cliente atrás do outro. Em um dia, que é meu recorde até hoje, eu consegui atender 16 clientes”.

Com o sucesso nas vendas, outra janela de oportunidades se abriu, desta vez com um aplicativo de delivery que pouco-a-pouco buscava seu espaço em um mercado dominado pelo iFood: o Rappi.

“O Rappi percebeu esse movimento que a Scuadra estava fazendo, reconheceram o nosso trabalho e enxergaram o que a gente podia fazer”. Uma das grandes dificuldades dos aplicativos de delivery é a de convencer restaurantes de alto padrão de que a entrega de comida compensa. Para muitos estabelecimentos, especialmente aqueles focados em uma boa imagem, faltava segurança para a realização de entregas que mantivessem o alto padrão oferecido no restaurante físico.

“Ninguém imaginava o [restaurante] Rubaiyat no delivery”. Com a parceria, restaurantes começaram a oferecer a entrega de comida com a segurança de que o consumidor receberá um serviço de alto padrão. “Resolvemos a dor do cliente, que recebe o produto, e a dor do proprietário do restaurante”.

Na época, a Scuadra chegou a receber um convite de uma das maiores plataformas do Brasil de delivery. “Eu recebi um convite para que a Scuadra fizesse parte de um dos maiores portais do Brasil, que é o iFood, de disponibilizar os produtos Scuadra para todos os clientes do Brasil”.

A oportunidade colocaria os produtos da companhia no iFood Shop, serviço do aplicativo com fornecedores de insumos para restaurantes. “Tive três vezes com eles. Recusei a proposta”, conta ele. “Eu não concordo com o apelo à sustentabilidade quando o que é falado não é praticado”.

“Na governança, tudo que você fala tem que ser praticado”

No início de 2020, o mercado já estava um pouco diferente da época em que a Scuadra começou a atuar no delivery. Agora, inúmeros aplicativos fazem parte do dia-a-dia dos brasileiros, como o Uber Eats, Rappi, iFood, Delivery Much e Aiqfome.

O que antes era uma transição gradual e orgânica para o delivery, porém, sentiu o impacto gerado pela pandemia do novo Coronavírus. “Quando chega março [de 2020] e a OMS decreta pandemia global, os governos estaduais, para proteger a população, prepara decretos que fecham restaurantes. Quem estava preparado, já ingressado no delivery, foi um pouco menos afetado. Todos os esforços de ‘salão’ foram jogados no delivery”, conta Luizinho.

De acordo com dados do setor, entre março e abril do ano passado, o delivery cresceu 155%, ante as projeções de crescimento de 30% para o período, impulsionado pelo isolamento social e pelas medidas de saneamento básico aplicadas por governos. “Teve restaurante que triplicou o volume de vendas para o delivery”.

“A parte ruim, e eu sou testemunha pra falar, é que muitos restaurantes que não acreditavam no delivery, por diversos motivos, bateram o desespero quando tudo fechou. Muitos restaurantes fecharam e quebraram, outros conseguiram sobreviver mantendo as equipes”, conta Luizinho. “Mas também tivemos casos de restaurantes que estavam preparados para o delivery e enxergaram nisso uma oportunidade”.

“Tivemos clientes que no dia que baixaram o decreto de governadores, mais que dobraram a encomenda por embalagens. Nesse dia, meu celular estourou de chamadas. Entrei em desespero, pois vi naquele momento que não conseguiríamos atender a demanda”, conta. “Proprietários de restaurantes ligavam pra mim: ‘Luizinho, se você não entregar a embalagem meu negócio quebra’”.

Naquela época, porém, com a demanda altíssima e capacidade limitada de produção, Luizinho tomou uma decisão drástica, mas necessária. “Em respeito aos nossos parceiros e clientes, não restou outro remédio, que é muito doloroso. Eu suspendi as vendas para novos clientes até dia 31 de dezembro de 2020. Ficamos com vendas suspensas para novos clientes por mais de 7 meses”.

Embora a pandemia já esteja mostrando sinais de término, com a vacinação em massa da população avançada e os serviços normalizando, o CEO da Scuadra enxerga um ano de 2021 ainda muito forte para o setor de delivery. “Esse novo normal fez a gente trabalhar mais dentro de casa, longe dos escritórios. A volta é gradual, mas as empresas viram que existe uma redução de custos e de tempo”.

Segundo ele, neste período de alta adaptação, “vão sobreviver as empresas que se preocuparem com a segurança que o cliente terá ao consumir em casa”.

Uma das tendências do setor para os próximos anos é a extensa preocupação com sustentabilidade. Em janeiro deste ano, a prefeitura de São Paulo tornou vigente a lei aprovada no ano passado que proíbe o uso de plástico e isopor em restaurantes da cidade.

Para Luizinho, as empresas alinhadas e focadas em ESG (sustentabilidade, social e governança) vão fazer a diferença hoje, mas vão ser status quo no futuro. “As empresas que não estiverem voltadas para o ESG, vão morrer”.

O importante, para ele, é aproveitar o ciclo de oportunidades que o mercado gera. “O consumidor final premia essas empresas [ESG]. Hoje, a nova geração sabe distinguir que o plástico e isopor fazem mal ao meio ambiente. São os clientes do futuro, ditando regras e tendências”.

Atualmente, a Scuadra conta com uma rica linha de produtos, envolvendo embalagens com travas e sistemas de fechamento com patente requerida. Focada na sustentabilidade, a empresa dita tendências para um mercado que só deve se expandir nos próximos anos.

Juan Tasso - Smart Money

Jornalista Smart Money — Leia, estude, se informe! Apenas novas atitudes geram novos resultados!

1857 posts

Sobre o autor
Jornalista Smart Money — Leia, estude, se informe! Apenas novas atitudes geram novos resultados!
Conteúdos
Postagens relacionadas
Notícias

Setor de Serviços surpreende e cresce 0,9% em maio, acima das expectativas

1 Minutos de leitura
O volume de serviços no Brasil apresentou um crescimento surpreendente de 0,9% em maio, superando a previsão dos analistas de uma alta…
Destaques do diaNotícias

Relatório Focus: projeções para Inflação de 2023 e 2024 caem, enquanto expectativas para o PIB aumentam

1 Minutos de leitura
Em uma nova edição do Relatório Focus, divulgado pelo Banco Central, as projeções para a inflação brasileira de 2023 e 2024 foram…
Notícias

IBC-Br surpreende e cresce 0,56% em abril, superando expectativas do mercado

1 Minutos de leitura
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma espécie de “prévia” do Produto Interno Bruto (PIB), apresentou um crescimento…