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Falar de Investimento também é falar de Comportamento

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Sou uma amante da vida pelas infinitas possibilidades que ela me dá de experimentar novas sensações a todo momento. Nos 34 anos de vida que tenho, há quem diga que já vivi a vida de alguém de mais de 50: foram perdas, conquistas, inúmeros sonhos realizados e experiências vividas e, apesar de algumas doloridas, vejo beleza nos ensinamentos de cada uma delas.

Me perguntar o que eu gosto de fazer pode ser o questionamento mais difícil que eu tenha que responder. Sou uma das pessoas mais ecléticas que conheço e talvez faça sentido sendo meu principal hobby a experimentação.

Na minha busca de ver sentido em tudo, o dito acima faz o link perfeito com a área em que atuo e principalmente com o produto ao qual me dedico: investimentos por ter lógica na sua essência e Fundos de Investimentos que, por serem conceitualmente um conjunto de investimentos, possuem uma certa licença poética.

A área de investimentos é, por natureza, puramente exata, certo? Discordo. Mas vem comigo que vou falar mais disso.

Obviamente existem inúmeros cálculos que precisam fazer sentido. Inegável que precisão é fundamental. Não dá para falar de investimentos, “achando” que o valor é X ou Y. Entretanto, existe uma beleza na tomada de decisão que torna tudo especial e nos faz ver que falar de investimentos muitas vezes tem mais a ver com falar de pessoas do que de matemática.

Final da década de 70, Daniel Kahneman e Amos Tversky iniciaram as conversas sobre o impacto do comportamento nas decisões do investidor a partir da análise da tomada de decisão em situações de risco. Trazer esse tipo de conversa à tona pode ser entendido como um questionamento à eficiência do modelo Moderno de Finanças, que previa que o ser humano era puramente racional e por isso, por um tempo, as finanças comportamentais não receberam muita atenção.

Contudo, não passou muito tempo para que o jogo virasse. Final da década de 80, o modelo tradicional, que previa um homem que tomava decisões completamente racionais, foi questionado. Graças às ineficiências que foram observadas, o comportamento passou a ser um elemento a ser observado na tomada de decisão.

Mas quais foram os desdobramentos disso? Como se traduziu? Quais conceitos foram criados?

Vamos falar sobre isso:

As Finanças Comportamentais nada mais são do que o estudo sobre a influência do cognitivo, social e emocional na tomada de decisões. Ela desdobra suas conclusões e estudo em alguns conceitos, chamados Heurísticas e Vieses, vamos entender o que são eles:

Heurísticas

São processos cognitivos que são postos em prática quanto temos que tomar decisões não racionais. Tem o objetivo de tornar a tomada de decisão mais fácil. São elas:

 – Representatividade: quando buscamos informações históricas, que já vimos em algum momento atrás, para tomar uma decisão. O investidor que avalia a lâmina de um fundo de investimento e toma a sua decisão a partir das informações contidas nessa lâmina, usa a representatividade, pois está se baseando em dados históricos.

– Disponibilidade: quando usamos uma informação recente para basear a nossa decisão. Por exemplo, quando mudamos nossa opinião ou tomamos uma decisão a partir de uma notícia que vimos hoje no jornal.

– Ancoragem: quando ficamos presos em um determinado valor e buscamos aquele como o valor bom, desejável. Por exemplo, quando um investidor observa que determinada ação foi comprada por R$20 e que hoje vale R$100 e espera que outra ação que ele comprou por R$20 hoje irá atingir o valor de R$ 100, mesmo que as empresas não tenham nenhuma correlação.

Vieses

São atalhos mentais que levam à tomada de decisão de forma mais fácil e consequentemente levando em consideração menos racionalidade.

– Aversão à Perda: primeiro conceito das finanças comportamentais, diz que o investidor tende a sentir de forma mais intensa a perda do que o ganho: fica triste quando perde, mas o sentimento de felicidade ao ganhar não é tão intenso. Este sentimento pode fazer com que o investidor evite realizar perdas e acabe por manter posições que não estão performando bem, se desfazendo de posições que estão com rentabilidade positiva. Contudo, desta forma, ele está fazendo a manutenção de uma carteira perdedora.

– Efeito Framing: quando ao observar as informações disponíveis o investidor absorve somente as positivas e toma a sua decisão, mas quando se depara com os aspectos negativos, muda completamente a sua decisão ou opinião.

– Excesso de Confiança: esse viés é observado principalmente em investidores que operam muito. Compram e vendem ignorando aspectos mais racionais e confiam que eles possuem mais conhecimento do que qualquer um. O que acaba acontecendo muitas vezes é o retorno líquido desse investidor ser menor, por conta das diversas taxas envolvidas nas demasiadas operações.

– Movimento de Manada: esse movimento pode trazer grandes consequências para o mercado, pois pode distorcer a realidade. Nada mais é do que o investidor que age da forma como a maioria está agindo, sem se preocupar em entender e se aprofundar no que está acontecendo.

– Desconto Hiperbólico: acontece quando o investidor prefere ter dinheiro hoje, mesmo que isso vá custar mais.

– Status Quo: investidor não faz nada. Não mexe nas suas posições, mesmo que o cenário mude completamente.

Mas por que é importante entender todos esses padrões de comportamento? Ora, somente a partir desse conhecimento torna-se possível fugir dos gatilhos, que nem sempre nos levam às melhores decisões.

É fundamental ao investidor que quer tomar melhores decisões que busque um autoconhecimento grande. Que entenda como seu lado cognitivo (não racional) age. Isso pode ser feito levando sempre em consideração uma análise ampla de cenário, questionamentos dos movimentos que estão sendo observados e uma análise de cada caso, sem tomar como verdade absoluta outro investimento como referência. É preciso, a partir do autoconhecimento, se questionar.

Somos humanos e, por natureza, dotados de emoção. Isso é inquestionável e não temos como mudar. Para muitas pessoas pode ser difícil tornar uma decisão mais racional ou mais baseada em fatos sozinha, até mesmo pelo grande volume de informações que isso implica. Por isso existem profissionais especializados no assunto que trabalham diariamente com isso. Esses profissionais têm acesso a infinitas informações e que, com um olhar mais técnico e mais livre de emoção, podem ajudar os investidores a tomarem melhores decisões.

A chave não está em ignorar os sentimentos ou tentar nos livrar do nosso lado sensitivo, mas sim em nos conhecermos e contar com quem é especialista no assunto.

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