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Entenda como o Open Banking deve trazer vantagens para os bancos, comércio e consumidores

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A implementação do sistema de Open Banking é uma das mais aguardadas inovações tecnológicas que devem revolucionar o sistema financeiro brasileiro. Trata-se de um sistema integrado que irá agilizar, potencializar e possibilitar a troca completa de dados entre todas as instituições financeiras do país.

Com o compartilhamento de informações entre as instituições, a abertura de crédito, por exemplo, um dos principais serviços oferecidos pelos bancos, pode ficar mais acessível e, melhor ainda, mais barata.

Isso porque diferente de antigamente, o Open Banking possibilitará que as instituições financeiras tenham acesso de forma 100% segura aos dados de todos os clientes que optarem por compartilhar suas informações. Assim, o banco saberá o padrão financeiro dos clientes, podendo oferecer serviços de acordo com essas informações.

Umas das maiores beneficiadas pela implementação desse sistema são as fintechs. Além do Open Banking provocar uma onda de inovação em todo o setor, novos serviços específicos podem surgir no mercado.

O sistema também aproxima o Brasil do modelo financeiro de grandes países desenvolvidos, e deve beneficiar outros sistemas financeiros nacionais que já fazem parte do nosso dia-a-dia, como o PIX.

Para comentar sobre o assunto, a Smart Money recebeu a personal banker Karen Lopes no nosso Short Squeeze especial sobre Open Banking. Ela atua há mais de 23 anos no mercado financeiro, e passou por grandes instituições multinacionais, como o Unibanco e o Banco Safra. Atualmente, ela é bancária autônoma, atuando junto com diversas instituições financeiras.

Abaixo, confira a conversa de nossa reportagem com ela.

Karen acredita que o avanço tecnológico trazido pelo Open Banking é um “caminho sem volta”. Foto: Reprodução

Uma das maiores preocupações dos consumidores é em relação à segurança de dados pessoais que passam a fazer parte do Open Banking. O quão seguro é esse sistema?

Essa foi a maior preocupação do Banco Central (BC). O Open Banking surgiu da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Foi a primeira coisa que criaram, e em cima dela criaram o sistema.

É um dos sistemas mais seguros do mundo. O Brasil, com relação ao sistema financeiro, está muito à frente de muitos países. A gente criou esse modelo com base na LGPD. É muito difícil ser burlado.

Eu, Karen, vou dar autorização dos meus dados, e só eu posso, para ele circular entre os bancos através do Banco Central (BC). Agora tá tudo regulamentado, coisa que não era antigamente.

Antes, quando eu precisava de alguma informação minha, eu ia no banco “Y”, pedia pro meu gerente os extratos dos últimos seis meses, e mandava isso por email, que era arriscado, e mandava para outro gerente via email. Agora não tem mais isso. Eu aperto um botão e os bancos passam essa informação através do Banco Central (BC). Fica tudo seguro.

Do ponto de vista das vantagens, quais são os benefícios que o sistema de Open Banking trás para as instituições financeiras?

O diferencial é que hoje, quando você solicita, por exemplo, a abertura de crédito em uma instituição, ela não sabe que você é. Não sabe seu salário e sua movimentação financeira. Ela vai precificar e dar rating conforme as informações que ela tem, encarecendo os empréstimos.

No momento que tem a informação, as instituições vão saber quem é a pessoa, se ela está em dia, todas essas informações. Vai conseguir definir a abertura de crédito com mais segurança. Antes era o que a gente passava pra eles, hoje eles têm acesso a todos os dados de forma segura, tomando decisões mais assertivas.

O Open Banking também foi criado para equalizar todos os tamanhos de empresas do mercado financeiro. Todas poderão acessar o sistema. Hoje em dia, já existem mais de 400 fintechs criadas de vários segmentos, como abertura de crédito, que nasceram focadas no Open Banking.

Do ponto de vista do comércio, quais são as vantagens?

O Open Banking vai abranger todas as formas de pagamento do país. Vai encurtar o caminho e tirar os “intermediários”.

Hoje, se você tem uma empresa que faz algum tipo de venda, obrigatoriamente usa um banco para receber o recurso. Daqui pra frente, a ideia é que consiga-se usar o PIX, o meio de pagamento direto.

Para o consumidor, quais são as vantagens?

Aí é que está a maior vantagem, pro consumidor final. Primeiramente, a segurança de dados, parando com aquela transição de dados via email e coisas assim, e passa a ser passado em um sistema seguro.

Outra vantagem é a questão da precificação. Hoje em dia, quando você vai pegar um empréstimo, como o imobiliário, em outras instituições, eles acabam precificando na média, pois elas não possuem informações a seu respeito.

No momento que o banco puder enxergar essas informações, ele vai poder falar “esse cara é rating A, paga tudo em dia”. O preço daquele empréstimo estará de acordo com esse cliente, não com a média.

Tecnicamente, com a implementação do Open Banking, a taxa de juros na média tem que cair, porque tem mais concorrência.


Saiba mais

As tendências que devem marcar o futuro do mercado financeiro


A segunda fase do Open Banking foi implementada no início de agosto. Que mudanças estão previstas?

A segunda parte já envolve o consumidor. Agora, os bancos já se prepararam, alinharam todas as informações que serão trocadas.

Já abre a opção pro consumidor optar pelo compartilhamento de informações para outras instituições financeiras. Quando eu entrar no site de um banco digital, por exemplo, para fazer a simulação de um produto, vai ter uma opção para marcar a autorização. Você consegue configurar tudo isso por prazo, inclusive.

A terceira fase do Open Banking está prevista para entrar em vigor no dia 30 de agosto. O que muda?

O diferencial é que você poderá autorizar pagamentos fora da sua instituição financeira.

Exemplo: eu recebo meu salário em um banco “X”, mas fiz um empréstimo em um banco “Y”, mas eu quero que aquela parcela do banco “Y” debite lá no banco “X”. Você vai autorizar e usar a sua conta para pagar o empréstimo que você fez em outro banco.

Quero colocar em um débito automático o seguro do carro que eu fiz em um banco “Y” lá no banco “X”. Ok, você terá a autorização, porque os bancos poderão “conversar”. 

A “guerra” dos bancos vai ser essa. Quem vai conseguir manter esse cliente ali no seu dia-a-dia?

A terceira fase também já começa com a entrada do PIX no final de agosto.

É bom ressaltar que essas mudanças levam tempo, até todo mundo aderir ao Open Banking, ao entendimento do que é o sistema. Mas é uma mudança sem volta, um futuro do mercado financeiro.

Os bancos acabam perdendo um certo espaço tendo que compartilhar seus dados com pequenas instituições financeiras, como as fintechs, mas isso vai gerar uma concorrência legal. Eles vão ter que mudar, sair da velha ideia do que é “fazer banco” e se conectarem com a modernidade.

Muitas pessoas vão enxergar oportunidade nesse mercado, vão criar novas fintechs, com novos cargos e novas profissões que não existiam antes. É o caso da minha profissão. Isso é bom pra todo mundo.

Juan Tasso - Smart Money

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