O risco de um calote na China está causando um turbilhão no mercado financeiro. Trata-se da companhia Evergrande, segunda maior incorporadora imobiliária do país asiático, que alega que não poderá honrar com dívidas que somam US$ 300 bilhões.
A prática de acúmulo de dívidas altas não é incomum entre as grandes empresas, pois enormes quantidades de dinheiro emprestado em caixa são usados para financiar projetos. A Evergrande, assim como todo o mundo, não esperava pela chegada da pandemia.
Como a companhia não conseguiu executar as vendas previstas e a geração de dinheiro necessária, os juros das dívidas acumuladas passaram da capacidade de pagamento.
Outro agravante foram as mudanças regulatórias promovidas pelo governo da China no ano passado, já que os órgãos governamentais começaram a se incomodar com a natureza especulativa do mercado imobiliário do país.
Embora o mercado financeiro esteja com a atenção total virada para a China neste mês, sinais de que a Evergrande não conseguiria honrar com suas dívidas começaram a aparecer em agosto de 2020, quando ela pediu socorro ao governo de Guandong por não conseguir pagar dívidas datadas para vencer em janeiro de 2021.
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Risco de calote de US$ 300 bi da Evergrande despenca o mercado chinês
Como isso afeta o Brasil?
Enquanto o governo da China estuda meios de fazer uma “quebra gradual” da companhia, ou quem sabe resgatá-la, o mercado internacional se prepara para uma onda em cadeia que um possível calote pode gerar.
Para começar, a Evergrande tomou dinheiro emprestado de diversas instituições financeiras do país asiático, mas também de outras instituições internacionais. Um calote pode gerar insolvência no sistema financeiro chinês, como pode também acarretar em outras companhias do setor desonrando com suas obrigações.
Outro agravativo é que a companhia faz parte dos sólidos pilares de desenvolvimento em infraestrutura da China, com mais de 1.300 empreendimentos em cidades de baixa renda, 1,4 milhão de imóveis em construção, gerando centenas de milhares de empregos em todo o país. O tamanho da empresa é um dos motivos que fazem economistas apostarem que o governo promoverá um plano de resgate.
Por conta dos gigantescos planos em infraestrutura da China, o calote da Evergrande pode afetar um importante mercado para o Brasil e países emergentes: as commodities.
Atualmente, o Brasil aproveita de um superciclo das matérias-primas por conta da retomada de grandes economias, como a própria China e os Estados Unidos. Os planos megalomaníacos das potências beneficiam os países exportadores.
Um possível colapso do sistema imobiliário da China poderá significar um baque considerável no mercado de commodities do mundo inteiro, o que deve atingir de forma direta o Brasil.
A crise também atinge a Bolsa de Valores brasileira, principalmente as companhias mineradoras e de siderúrgicas, que já havia sentido os impactos negativos da desaceleração de crescimento do país asiático. Ontem (20), o Ibovespa caiu pela 5ª vez seguida, atingindo 108.842,94 e despencando -2,33%.
Foto: Reuters / Reprodução