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Para William ‘Capita’ Machado, a educação financeira dos atletas é deficiente

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Quando pensamos em atletas, principalmente jogadores de futebol, é comum assimilar a profissão com salários altos, mansões e carros de luxo. Essa realidade, porém, existe apenas para uma minoria dos atletas no Brasil. 

E mesmo entre aqueles atletas que acabam tendo o privilégio de ganhar altos salários e acumular um patrimônio legal, a falência é comum após o final da carreira. Isto porque, infelizmente, o nível de educação financeira entre os atletas brasileiros é baixo e muitas vezes os mesmos não estão preparados para administrar estas pequenas fortunas. 

Nesta semana, conversamos com William Machado – o ‘Capita’ –, ex-futebolista profissional e que atualmente trabalha como assessor de investimentos na Messem Investimentos, um dos principais escritórios filiados a XP no Brasil. William compartilhou conosco a sua visão sobre a educação financeira dos atletas brasileiros e como ele vê o cenário hoje, mais de 10 anos após pendurar as chuteiras. 

A seguir, confira nossa entrevista exclusiva com William Machado, o Capita: 

O ENTREVISTADO 

Formado em Ciências Contábeis, William sempre se preocupou com a educação financeira de seus colegas ao longo da carreira. Ao encerrar sua carreira no futebol, tentou carreira como consultor financeiro para atletas. Decepcionado por não conseguir mudar alguns preconceitos e paradigmas, se afastou e teve experiências como dirigente no Corinthians, Bahia e Santos. 

Depois de aproximadamente 4 anos como comentarista esportivo nos canais Globo, o Capita voltou para o mercado financeiro, uma paixão despertada nos tempos de Corinthians, quando se mudou para a cidade de São Paulo. Agora, William é sócio e assessor private na Messem Investimentos, entre seus clientes estão atletas e ex-atletas de diversas modalidades que hoje confiam na liderança do ‘Capita’ para gerenciar o patrimônio conquistado durante a carreira nos esportes. 

William Machado, o ‘Capita’, é assessor de investimentos na Messem Investimentos

NA SUA VISÃO, QUAL O GRAU DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA DOS ATLETAS BRASILEIROS? 

O grau de educação financeira dos atletas é abaixo da média do grau de educação dos brasileiros. Isso se dá em virtude de os atletas serem, desde muito cedo, instigados e induzidos a se concentrar exclusivamente na atividade esportiva, inclusive por seus pais. Isso acaba sendo uma situação muito complexa depois no futuro, dado que o atleta tem dificuldade em não só desenvolver outras habilidades, ter outros interesses, mas sobretudo cuidar daquilo que ele adquire porque ele acaba não tendo a competência necessária. 

A gente vê isso acontecer com diversos brasileiros de diversas profissões, das mais humildes às de maior prestígio, mas essa é uma lacuna que os atletas acabam demonstrando mais abertamente. (Eles) escancaram (essa situação) essa limitação porque são pessoas que, quando se tornam famosas, isso vem a público diante dos olhos de todos. 

VOCÊ VÊ ALGUMA MODALIDADE ONDE OS ATLETAS SÃO MAIS INCENTIVADOS A TER MAIOR CONTROLE SOBRE O PRÓPRIO PATRIMÔNIO? 

Eu não vejo até hoje uma modalidade que tenha se preocupado mais, ou algum clube, até mesmo sindicato ou federações e confederações. Eu vejo atitudes e algumas situações não recorrentes, sem continuidade. 

Parecem, em alguns casos, decisões mais oportunistas do que pensando de fato em construir uma modalidade onde os atletas passem a conviver com outros assuntos, inclusive a educação financeira. O atleta também precisaria ter mais informações sobre cidadania, sobre a importância e dele dentro da sociedade. Eu vejo que muitos atletas também não têm essa percepção. 

Então infelizmente a gente não tem ainda, pelo menos que eu saiba, uma modalidade, que tenha essa preocupação, que tenha um plano e que tenha executado esse plano (de educação financeira). 

CAPITA, VOCÊ RODOU O FUTEBOL BRASILEIRO, JOGANDO POR PEQUENOS E GRANDES CLUBES. VOCÊ NOTOU ALGUMA DIFERENÇA NO GRAU DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA ENTRE ATLETAS DE CLUBES DE DIFERENTES TAMANHOS? 

Eu não vi nenhuma diferença entre os atletas que jogavam em clubes de menor expressão e nos clubes de maior expressão. Isso não é difícil de entender, já que, independentemente do clube onde o atleta é formado, o critério é mais ou menos o mesmo. 

Como eu já mencionei, os atletas são instigados a focar 100% na sua atividade (esportiva) desde cedo e muitas vezes os próprios pais desestimulam a escola. Hoje tem uma certa vigilância do Ministério Público e de entidades que protegem o direito do menor, mas muitas vezes eu vejo que isso acontece apenas pro forma (apenas para manter as aparências). 

O atleta não quer ir (à escola), o clube muitas vezes prefere que ele não vá para poder descansar, para poder treinar mais no dia seguinte, para poder evoluir rapidamente. No entanto, ele é obrigado a mandar o atleta, muitas vezes a escola é condescendente, o professor acaba aliviando um pouco e o atleta não dá a devida importância (aos estudos). 

Então quando chega o atleta com 20 anos, seja na equipe pequena ou na equipe grande, ele mais ou menos teve a mesma bagagem educacional. Em muitos casos no clube grande chega até ser pior, porque no clube grande se o atleta vai se destacando, ele já começa a conviver com o profissional, porque ele está mais perto de se tornar um jogador de sucesso, aí que ele foca muito mais na atividade profissional. 

Guilherme Guerreiro

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