A história conta que em meados de 200 a.C., caravanas já faziam o que depois ficou conhecido como a Rota de Seda, um conjunto de rotas que interligavam o continente asiático à Europa.
O nome é autoexplicativo. Na China antiga, a seda era um produto extremamente valioso, com suas técnicas de confecção sendo guardadas a sete chaves pelo governo da época. Não demorou para a Europa criar interesse pelo tecido, e grandes rotas foram criadas.
A Rota de Seda foi um período conhecido pela expansão econômica do governo chinês, que agora tinha reservas gigantescas de ouro europeu, mas também pelas intensas trocas culturais e tecnológicas entre os continentes.
Foi nesta época que as histórias de Marco Polo, mercador de Veneza, ficaram conhecidas. Seus livros chegaram a inspirar Cristóvão Colombo, e, embora não tenha sido o primeiro a caminhar pela rota, ficou conhecido por detalhar as aventuras e aspectos culturais que ele encontrou no continente asiático.
Por isso, o mundo econômico foi pego com surpresa quando o Xi Jinping, líder chinês, no dia 14 de maio de 2017, chamou os ambiciosos planos de infraestrutura de “Nova Rota de Seda”. De um dia para o outro, os bilhões de dólares investidos nesta estrutura ganharam outra conotação.
O que é a Nova Rota de Seda?
De modo simples e prático, a Nova Rota de Seda, ou Belt and Road Iniciative (Iniciativa do Cinturão e Rota) será um conjunto de cinturões terrestres e rotas marítimas que ligarão o continente asiático com a África e Europa. O principal deles parte de Xian, cidade que abrigava as dinastias Zhou, Qin, Han e Tang.
A ideia é expandir as relações comerciais entre os países através de intensos investimentos em infraestrutura, coisa que a China classificou como uma “nova era para a globalização”.
O custo deve passar de US$ 900 bilhões, sendo que, inicialmente, a maior parte da linha de investimentos saiu da Administração Estatal de Política Externa. De acordo com o Credit Suisse, o número de países que poderão receber investimentos passa de 60.
Os investimentos do país asiático no mercado estrangeiros não são novos e já somam valores acima de US$ 1,9 trilhão, mas quando se trata da China, o céu não costuma ser o limite.
Os benefícios domésticos para a China são óbvios, mas países em desenvolvimento, inclusive os da América do Sul, também devem se beneficiar do ambicioso projeto de infraestrutura.
Do ponto de vista da China, o projeto pode melhorar o crescimento econômico, que desacelerou nos últimos anos. A nação possui uma poderosa mão de manufatura, que deve ser beneficiar diretamente com a abertura de novas rotas comerciais. Além disso, a Nova Rota da Seda pode significar uma nova era de trocas econômicas e intelectuais entre os países.
Para críticos, o projeto significa uma ampliação geopolítica e monopólio comercial da China em países emergentes. Na Índia, por exemplo, o primeiro-ministro Narendra Modi foi veemente oposto à um corredor que liga a China ao Paquistão. Para ele, a linha de investimentos chineses levará as economias pequenas a obterem dívidas intermináveis e uma inevitável dependência fiscal.
Dependências fiscais quase sempre “vazam” para os desenvolvimentos políticos dos países. Para críticos da Nova Rota de Seda, isso pode significar uma péssima notícia para nações não exatamente alinhadas aos planos do governo de Beijing.
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O Brasil entra nessa?
Uma das principais parcerias que o Brasil possui com a China é em relação ao BRICS, bloco que conta com o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Por isso, o nosso país possui todas as oportunidades possíveis para participar da chamada Nova Rota de Seda.
Para o professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Musse, com seu livro sobre a “China contemporânea – Seis interpretações”, embora a China permaneça como um grande aliado comercial, o Brasil aparentemente perdeu a chance de participar da linha de investimentos em infraestrutura.
Em 2017, por exemplo, o Brasil não participou do Fórum Internacional da Rota da Seda. Na época, o Chile demonstrou um grande interesse pelo projeto.
No mês passado, o governo da Argentina assinou um acordo de US$ 23,7 bilhões com a China para a construção de portos, aeroportos e estradas, entrando de vez na linha de investimentos da Nova Rota de Seda.
De qualquer forma, a China olha para o Brasil como um parceiro com potenciais relevantes para a Nota Rota de Seda. Para o embaixador chinês, no Brasil, Yang Wanming, o país “tem todas as condições para ser um participante relevante na extensão da ‘Nova Rota da Seda’ ao continente, uma vez que as cooperações sino-brasileiras têm alicerce sólido e potencial enorme”.
A vice-presidência do Brasil disse que o governo está preparado para ouvir proposta da China, para promover a conectividade, alinhar planejamentos de desenvolvimento e concretizar a cooperação com benefícios mútuos.