Nesta sexta-feira (24) marca 1 ano da invasão promovida pelo governo Putin na Ucrânia. No dia 24 de fevereiro de 2022, o presidente russo havia entrado em rede nacional para justificar o que seria classificado por ele como “operação especial”.
A Ucrânia sequer tinha superado na totalidade os eventos que sucederam os grandes protestos de 2014, que culminaram na fuga do então presidente Viktor Yanukovych, pró-Rússia, anexação da Crimeia por Putin e um conflito interminável no leste do país. Meia década depois, em 2019, Volodymyr Zelenskyy assumia a presidência.
É a primeira grande guerra europeia desde a Segunda Guerra Mundial. A história russa após a Segunda Guerra, inclusive, com a queda da União da República Socialista Soviética, é usada como justificativa por Vladmir Putin para invadir o território ucraniano.
Além de fruto de intrigas domésticas, a guerra na Ucrânia é resultado de décadas de embates geopolíticos entre o país russo, Europa e Estados Unidos. Um dos grandes pontos de impacto é a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), aliança militar que se aproximou de países que dividem fronteira com a Rússia.
1 ano depois, com milhões de refugiados e uma Ucrânia resistente, o conflito aparenta estar longe de acabar. Na economia global, os efeitos já foram sentidos de maneira severa.
Gás e inflação
O gás natural foi o grande protagonista da economia europeia em 2022. Com o início da guerra e sanções econômicas aplicadas pela União Europeia e Estados Unidos, a Rússia, principal fornecedora da commodity, decidiu aproveitar da dependência para fazer chantagem política.
Os contratos do TTF, gás holandês, dispararam de € 26 por megawatt-hora em agosto de 2021 para € 338 exatamente um ano depois.
O problema do gás natural vai além de econômicos. Até o início da invasão, o gasoduto Nord Stream 1, que liga a Alemanha com a Rússia, era o principal ponto de fornecimento de todo o continente. Com o início da guerra, porém, o gasoduto teve seu suprimento reduzido repetidas vezes, até parar por completo.
Grandes gasodutos também ligam a Rússia à Europa através da Ucrânia, o que agrava a situação.
A Alemanha, portanto, entrou em uma corrida contra o tempo. Era preciso deixar de ser dependente do mercado energético russo e substituir suas fontes, já que a Rússia representava 60% das importações totais de gás.
Hoje, com a construção de terminais de gás natural liquefeito (GNV), a agência federal de energia alemã afirma que o país funciona hoje sem combustível russo. Mesmo assim, especialistas ainda se preocupam com o próximo inverno, que pode ser tão desafiador quanto o de 2022.
O petróleo também apresentou altas severas em 2022. Em julho do ano passado, o barril de Brent, do Mar do Norte, chegou a atingir US$ 123, enviando uma onda inflacionária que atingiu países como o Brasil e Estados Unidos.
No Brasil, isso foi sentido diretamente no custo da gasolina para o consumidor, que chegou a passar de R$ 7,25 por litro na média nacional de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
A guerra também atingiu o mercado alimentício, empurrando a economia global para uma das maiores crises alimentares da história recente. O Índice de Preços de Alimentos (IPA) da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) subiu 14,3% entre 2021 e 2022.
O sintoma de um mercado global impactado pela guerra, que prejudicou uma grande variedade de commodities, somado por problemas na China, é de um mundo tomado pela inflação.
Abaixo, confira como encerrou o IPC em algumas economias em 2022:
- Estados Unidos: 6,5%
- Zona do Euro: 9,2%
- Reino Unido: 10,5%
- Brasil: 5,79%
- Alemanha: 8,6%
Com pressões inflacionárias e recessão no horizonte, as economias se movimentaram para ajustarem as taxas de juros. Hoje, a curva no Banco Central Europeu (BCE), Reino Unido e Federal Reserve, nos Estados Unidos, ainda não tem data para parar de subir.
Até o fim de 2023, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a guerra custará US$ 2,8 trilhões para a economia global.
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O que o futuro reserva?
A visão pessimista, e a mais aceita entre os especialistas, é a de que não há qualquer tipo de previsão para uma possível resolução na Ucrânia. Também é difícil prever o que acontecerá no futuro.
Hoje, a Rússia controla 18% do território da Ucrânia, que ainda resiste com apoio financeiro e humanitário da OTAN e União Europeia. Mais de 18 mil civis morreram no país.
O cenário mais provável é que os ataques estratégicos russos não cessem em um futuro próximo. O uso de armas nucleares na Ucrânia é pouco provável, mas não é uma hipótese descartada.
No cenário geopolítico, a situação ainda exige muita delicadeza. Em um médio prazo, é esperado que a Suécia e Finlândia ingressem no bloco da OTAN, aumentando o nível de participação da aliança no continente e provavelmente provocando reações de Putin.
Há também uma certa indefinição quanto a China, suspeita de auxiliar o governo russo com um possível fornecimento de armas. Diplomaticamente, porém, o dragão vermelho aparenta ser neutro e pressiona por uma resolução pacífica.
Nesta semana, uma resolução aprovada na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) clama pela retirada das tropas russas na Ucrânia. O documento contou com um voto favorável do Brasil junto a 141 países, mas sua efetividade é questionada.
A resolução, porém, serviu para mostrar o isolamento da Rússia do mundo. Apenas 7 países, incluindo o russo, votaram contra.
De qualquer modo, o mundo mudou depois de 24 de fevereiro de 2022 e as cicatrizes econômicas devem continuar presentes em 2023.
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