*Texto enviado por Allan Rodrigues, sócio da gestora Grou Capital
Nicolas é o professor de natação de uma academia em São Paulo. Um cara novo, mas que cobra resultados como gente grande. Na última semana a agenda ficou lotada de compromissos e a natação acabou ficando em segundo plano para mim. Para não perder, o hábito fui nadar, nem que fosse por poucos minutos.
“Nicolas, posso nadar só 15 minutos livre hoje? Não vou conseguir treinar”, questionei. “Claro, 15 minutos é 1% do seu dia”, respondeu com prontidão.
Se tem algo que eu gosto são cálculos, mas confesso que levei um pouco de tempo para confirmar essa conta do Nicolas – e sim, ele está certo (ou quase, já que 1% seria 14 minutos e 40 segundos).
Nicolas está certo, 15 minutos podem parecer pouco, mas estar lá vai me gerar algum resultado. Enquanto nadava lembrei de um estudo que fiz há muitos anos, mas que é sempre atual. Eu o utilizei para defender que um fundo de pensão mantivesse sua alocação em renda variável, pois os movimentos da bolsa são rápidos e tentar fazer trade de cotas de fundos não é uma boa estratégia.
O gráfico abaixo mostra o rali do Ibovespa nos últimos 5 anos. No dia 20 de abril de 2017, o Ibovespa estava em 63.761 pontos e cinco anos depois – no dia 22 de abril de 2022 – ele estava em 111.078 pontos, uma valorização de 74,21%.
Mesmo com a pandemia nessa janela de cinco anos, o Ibovespa subiu 74%. Esse também é o período que mais tivemos pessoa física investindo na bolsa de valores.
Em dezembro de 2016 existiam aproximadamente 600 mil investidores pessoa física na Bolsa. Os últimos dados divulgados pela B3 mostram que esse número é superior a 5 milhões de investidores atualmente.
Mas será que todos os investidores estão satisfeitos com seus investimentos em renda variável? A resposta é não. Segundo um estudo divulgado pela B3, entre 20% e 25% das pessoas que investiram pela primeira vez na bolsa zeraram sua posição ao longo de 6 meses.
Isso significa que nos últimos 5 anos, seu retorno pode ter sido algo entre um lucro de 60% e um prejuízo de 40%. O gráfico abaixo explica essa situação:
Na média o retorno foi de 6% em janelas móveis de 6 meses. A menos que você tenha acertado a melhor janela nos últimos 5 anos, seu retorno foi na média de 6% em cada período.
Entrar e sair da bolsa com muita frequência, especialmente em fundos ou índices, pode gerar grande frustação, e eu sempre defendi que uma parte dos investimentos devem ser na renda variável.
AQUELE 1%
Mas esse texto é sobre consistência e resiliência e, caso você tenha sido resiliente, seu retorno no índice Ibovespa nos últimos 5 anos foi de 74%, conforme vimos no primeiro gráfico. Mas voltando à natação e os 15 minutos de nado livre…
Os últimos cinco anos foram 1237 dias uteis de pregão. E se você ficasse fora apenas 1% desses dias, apenas 12 dias, qual seria o seu retorno? O gráfico abaixo nos dá uma ideia.
Se você ficou fora da bolsa em apenas 12 pregões dos últimos 1237, seu retorno pode ter sido um prejuízo de 15% em 5 anos.
Sabemos que investir em renda variável tem volatilidade, mas se ela lhe assusta a ponto de “esperar a volatilidade passar para voltar”, isso pode fazer com que seus retornos sejam piores que a média. Exatamente por isso, uma boa forma de reduzir a volatidade em seus investimentos é a diversificação.
Uma combinação de investimentos em diversos segmentos (pré-fixado, pós-fixado, renda variável, moedas, exterior, etc) é uma alternativa para a redução da volatilidade de classes isoladas. Olhar seu investimento como uma carteira global e ser resiliente em momentos é uma ótima estratégia de investimento.
Converse com seu assessor e avalie se sua carteira está diversificada. Veja se a proporção em cada classe de ativo está confortável para seu grau de risco e objetivo.
