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Cenários econômicos, crises e seus impactos nos investimentos em Renda Fixa – Como estar preparado?

4 Minutos de leitura

Uma das mensagens mais repetidas e disseminadas em diferentes ambientes é a de que crises geram oportunidades. Existem diversas variações. Sem o devido contexto, entretanto, podem gerar dúvidas quanto ao significado. Afinal, para investimentos em Renda Fixa, o que significam? 

Experiências com crises e momentos de turbulência não faltaram nos últimos anos no Brasil. 

No biênio 15/16 o país passou por uma das piores quedas acumuladas na atividade econômica medida pelo PIB em sua história recente, paralelo apenas com meados da década de 80. Políticas fiscais mais expansionistas, inflação alta, excesso de intervencionismo na economia e as tensões adicionais do processo de impeachment resultaram na subida da taxa SELIC, que atingiu o patamar de 14,25%, tendo partido do que seria sua mínima histórica registrada em 2013 de 7,25%.

Naquela época, as taxas de DI futuro, que traduzem as expectativas de mercado para os juros nos anos seguintes, subiram de forma intensa. As estratégias de renda fixa atuaram da seguinte forma, com alocação da carteira em parcelas:

  • De taxas pós-fixadas, ou seja, atreladas ao CDI, principal benchmark do mercado, protegendo a carteira em um momento de rápida subida dos juros. Esse investimento costuma sofrer menos com oscilações de mercado;
  • De ativos com taxas pré-fixadas, aproveitando emissões em momentos quando as taxas de juros futuros estão mais elevadas;
  • De ativos atrelados à inflação, cuja rentabilidade deriva da variação da inflação mais uma taxa pré-fixada. Na carteira, esses ativos IPCA+ atuam ao mesmo tempo protegendo o investidor de momentos de inflação e ainda gerando ganhos reais.

Na Renda Fixa, tais momentos pessimistas fazem com que as taxas em vigor tanto pré-fixadas como aquelas IPCA+ subam de patamar. Logo, entregam retornos mais atrativos comparados a cenários econômicos mais favoráveis. O mercado passa a exigir prêmios adicionais de risco, o qual se traduz em juros mais altos. 

Passado o pior da crise de 15/16, os anos seguintes seguiram com um lento crescimento da atividade econômica, queda na inflação e consequente ciclo de baixa na taxa de juros. O índice Ibovespa se valorizou mais de 100% desde o nível mais baixo até o mais alto. Na Renda Fixa, esse cenário significou:

  • Diminuição da rentabilidade nas taxas vinculadas ao CDI;
  • Alta rentabilidade comparada ao benchmark e valorização nas posições alocadas em taxas pré-fixadas na pior época da crise anterior, mas diminuição das taxas em novas alocações;
  • Valorização das posições já alocadas em ativos atrelados à inflação, que pagavam juros reais mais elevados comparados a novas emissões nesse período. A possibilidade de ágio possibilitou a venda de ativos e entrada em novas posições em IPCA+, gerando lucro ao investidor e mantendo a carteira protegida dos efeitos da inflação.

Em 2020, a pandemia do novo coronavírus levou a políticas fiscais expansionistas e injeção de liquidez pelos bancos centrais no mundo todo, de modo a compensar os efeitos recessivos da nova crise. No Brasil, a taxa SELIC renovou mais uma vez suas mínimas históricas, até atingir o patamar de 2%. Os juros reais ficaram negativos, e o que era uma experiência de países desenvolvidos virou realidade no país do carnaval. 

O processo que se seguiu foi de medidas de distanciamento social, redirecionamento do consumo para bens em detrimento dos serviços, descasamento entre oferta e demanda, escassez de insumos e desorganização das cadeias produtivas globais. Somados ao movimento de reabertura e da rápida retomada econômica, o resultado foi inflação mais alta e a necessidade de lidar com os efeitos das políticas fiscais e monetárias mais agressivas no mundo todo. Nesse contexto, considera-se ainda a crise energética global e diminuição de crescimento da economia chinesa.

No cenário doméstico, o ano de 2021 esteve marcado por um quadro de aumento de tensões políticas, incertezas ligadas às reformas econômicas e a trajetória fiscal brasileira, com a sinalização de flexibilização do teto de gastos, inflação mais persistente e redução de projeções de crescimento econômico.

Novamente, em um contexto de incertezas quanto à inflação e expectativa de piora nas frágeis contas públicas brasileiras, o mercado exige mais prêmios de risco, levando a uma rápida subida da taxa SELIC e expectativas de juros futuros mais altos. Para a Renda Fixa, essa conjuntura significa:

  • Melhora na rentabilidade de ativos atrelados ao CDI;
  • Aumento na rentabilidade de novas emissões de ativos pré-fixados, que embutem neles o prêmio de risco das taxas futuras, mas com risco de oscilação no mercado em caso de mais turbulência;
  • Subida nos juros reais das taxas atreladas à inflação. É uma classe de ativos muito demandada levando-se em consideração a inflação brasileira e por ser a parcela da carteira mais defensiva de proteção do patrimônio.

Considerando esses momentos, o que é possível concluir?

É possível afirmar que todas as crises são, em suas distintas formas, difíceis e complexas, mas elas também passam. Sendo assim, também é lógico estar preparado para isto. 

Não há um manual de instruções para atuar em momentos como esses e nem uma solução única e verdadeira. O que é possível e indispensável é a diversificação de portfólio adequada ao perfil de investimentos e respeitando os conceitos de segurança, liquidez e rentabilidade, o dilema clássico em finanças de risco e retorno. Os movimentos de mercado e de juros, todos ao seu modo, são cíclicos. 

É condição necessária, portanto, buscar estar informado a respeito do cenário econômico e suas variáveis, bem como suas oscilações e perspectivas. Assim, é também necessário atenção às alternativas e oportunidades de alocação visando equilíbrio e diversificação. Contar com um profissional que irá ajudar o investidor tomar as melhores decisões torna-se essencial.

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