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Inflação e taxas de juros – o que vem pela frente?

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A inflação não para de surpreender. No Brasil, o índice oficial divulgado pelo IBGE foi de 1,62% em março, o mais alto para o mês em 28 anos, início do Plano Real. A última vez que o IPCA mensal esteve tão alto foi no fim de 2002 e início de 2003. A taxa acumulada em 12 meses atingiu atuais 11,30%, superada apenas por outubro daquele ano.

A inflação roda, portanto, muito acima do intervalo de tolerância das metas de inflação de 2022 (3,5% a.a. de meta e a soma de 1,5% de limite superior). Dentre as maiores economias do mundo, o G20, o Brasil só é superado pela Rússia, Argentina e Turquia, líder do grupo. 

O IPCA-15 divulgado pelo IBGE em abril, que é uma prévia da inflação oficial do mês, foi de 1,72%. O índice acumula 12,03% em 12 meses, registrando a maior taxa em quase 20 anos.

Nos Estados Unidos, cuja economia é a maior do planeta e a inflação e política monetária influencia todas as demais, o índice observado em março foi de 1,2%. O acumulado em 12 meses atingiu 8,5%, o maior desde 1981 (linha azul no gráfico abaixo). Uma das medidas de núcleo da inflação, isto é, excluir do índice os itens mais voláteis como alimentos e energia também sobe em um ritmo não visto desde 40 anos atrás (linha vermelha no gráfico). 

Fonte: FRED – St. Louis FED (abril/2022)

Os níveis atuais dos índices de inflação têm acirrado os debates sobre a atuação da política monetária no mundo todo, com muitas críticas sobre se os bancos centrais deveriam ter agido antes e o quanto falharam na missão de manter a inflação sob controle. Discute-se a atuação e hesitação das autoridades monetárias diante da alta de preços, mesmo considerando o cenário de alta incerteza devido aos impactos da pandemia do coronavírus.  

A lógica segue a seguinte premissa: agora que inflação parece disseminada, o aumento das taxas de juros pode ter que seguir um ritmo ainda mais agressivo para conter essas pressões.

Em tom de desconforto, no mês passado o presidente do FED – o banco central americano – Jerome Powell fez a seguinte declaração: “Tivemos estabilidade de preços por muito tempo e talvez a tenhamos dado como certa”. Em março deste ano o FED aumentou a taxa de juros em 0,25% – a primeira alta desde 2018. A partir de declarações mais recentes, o tom agora parece ser de um aperto monetário ainda mais contundente. 

Após anos de política monetária expansionista, de baixas taxas de juros e aumento de liquidez que ficou conhecida como QE (quantitative easing), agora o mercado financeiro do mundo vive e se prepara para o processo reverso, de retirada de estímulos e aumento de juros, o QT (quantitative tightening).

No Brasil, a medida de núcleo de inflação, que exclui os itens alimentos e energia, também é preocupante. Com uma disparada a partir do segundo semestre de 2021, o nível atual é similar ao de 2015/16. O gráfico abaixo mostra o índice mensal utilizando uma média móvel de 12 meses entre janeiro de 2015 a março de 2022.

Fonte: Banco Central do Brasil (abril/2022)

Aqui, o Banco Central já está aumentando a taxa de juros desde março do ano passado, quando meta da taxa SELIC foi de 2% para 11,75% atuais. A adição do conflito Rússia-Ucrânia ao cenário tem feito com que as perspectivas dos juros e inflação tenham se tornado cada vez maiores para o fim deste ano.

Entretanto, a expectativa de diminuição das atuais pressões inflacionárias associadas a um ritmo de atividade econômica mais lenta nesse ano e no próximo faz com que as projeções caiam para 2023. Ou seja, a necessidade da manutenção dos juros altos diminui em um contexto de redução da taxa de inflação e ausência de crescimento econômico. Abaixo as projeções mais recentes da XP Investimentos.

Fonte: XP Macro (abril/2022)

Há naturalmente muitas incertezas associadas a essas projeções, como a duração e os desdobramentos do conflito entre Rússia e Ucrânia e sua escala, e ainda, a dinâmica da política fiscal brasileira. É bom estar atento a esse cenário.

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