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Entenda a decadência do IRBR3, um dos papéis mais populares da Bolsa

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Há tempos, o IRB Brasil RE (IRBR3) é uma das empresas que mais aparecem nos noticiários corporativos brasileiros. A resseguradora passou de um do papel “queridinho” pelos investidores brasileiros para a maior queda do ano no Ibovespa ao longo de 2020, caindo 76,87% no acumulado do ano passado.

Muita coisa aconteceu com a empresa desde sua oferta pública inicial (IPO) em 2017. Em fevereiro do ano passado, uma carta de 184 páginas publicada pela Squadra Investimentos mudou os rumos do IRB Brasil RE e seus ativos na Bolsa. O documento, publicado por uma das gestoras de fundo de maior credibilidade no mercado brasileiro, apontava diversas “inconsistências” nos balanços apresentados pela resseguradora.

A seguir, entenda em detalhes a situação do IRB Brasil RE:

HISTÓRIA DO IRB BRASIL RE

O IRB Brasil RE foi fundado em 1939, como Instituto Brasileiro de Resseguros, uma das estatais criadas no governo do presidente Getúlio Vargas. A estatal teve o monopólio do mercado de resseguros no país até 2007, quando concorrentes passaram a ser fundadas novas empresas do segmento no país. Mesmo em um cenário de maior competitividade, o IRB seguiu como a maior empresa do ramo no Brasil, com 37% de participação no mercado, e da América Latina.


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Para CEO do IRB Brasil, atividade de resseguros é focada no longo prazo


Em quase 70 anos de monopólio, o IRB conseguiu adquirir uma expertise em relação ao mercado brasileiro e os riscos envolvidos em operar no país que suas novas concorrentes não conseguiam igualar. A resseguradora tinha, assim, uma grande vantagem competitiva dentro do mercado doméstico.

Em 2013, a privatização da resseguradora foi concluída. O processo levou quase 20 anos, tendo início na segunda metade dos anos 1990, com a empresa sendo rebatizada como IRB Brasil Resseguros S.A. Quatro anos depois, em 2017, a empresa conseguiu finalmente realizar seu IPO na Bolsa e tornou-se, então, uma das grandes “queridinhas” do investidor brasileiro.

E o carinho dos investidores não foi em vão. O IRB Brasil RE apresentava resultados operacionais muito acima da média do mercado de resseguros e, também, do restante das empresas com capital aberto na B3. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) da empresa girava acima dos 40%, enquanto suas concorrentes tinham ROE na casa dos 10%.

Nos anos de 2017, 2018 e 2019, as ações da resseguradora subiram 17,71%, 157,05% e 44,31% no acumulado dos anos, respectivamente. Em três anos de Bolsa, o IRB Brasil RE havia triplicado seu valor de mercado, com suas ações sendo negociadas a um valor total 800% acima do patrimônio líquido da empresa. Suas concorrentes do setor de resseguros, por exemplo, tinham ações em média 20% mais altas que o valor de seu patrimônio.

A CARTA DA SQUADRA E A QUEDA LIVRE DO IRB BRASIL RE

Em fevereiro do ano passado, uma “bomba” atingiu o IRB Brasil RE. Uma das gestoras de fundos de investimento com maior prestígio no mercado brasileiro, a Squadra publicou uma carta de 184 páginas apontando “inconsistências” nos balanços financeiros da resseguradora. O documento teve impacto imediato nas ações da empresa, que caíram 15,17% no primeiro pregão da Bolsa após a publicação da carta. A carta da Squadra acusava o IRB de oferecer projeções otimistas demais sobre índices de sinistralidade, bem como falta de detalhes em outras partes do relatório, que causaram uma inflação bilionária nos lucros reportados pela empresa.

“Desde que o IRB Brasil realizou sua abertura de capital em bolsa de valores, no ano de 2017, acreditamos ter encontrado fatores que, em nossa opinião, indicam lucros contábeis reportados nas demonstrações financeiras significativamente superiores aos lucros normalizados. Essa disparidade entre lucro reportado e lucro normalizado (recorrente) foi crescente durante esse período e atingiu sua maior diferença nos nove primeiros meses de 2019”, apontou o documento da Squadra Investimentos. Como resultado, as ações do IRB Brasil RE caíram 25,8% apenas no mês de fevereiro de 2020.

No embalo da carta da Squadra, o IRB Brasil RE seguiu sofrendo duros reveses no mercado. O presidente do conselho da companhia, Ivan Monteiro, renunciou ao cargo e deixou a empresa. Não muito mais tarde, o IRB se envolveu em uma polêmica com a  Berkshire Hathaway, que veio a público desmentir o rumor de que seria acionista da resseguradora brasileira.

Uma parte do mercado acredita que pessoas envolvidas na administração do IRB plantaram a informação que a empresa de Warren Buffett, maior investidor pessoa física do mundo, para defender as ações da empresa contra o “efeito Squadra”. Os consecutivos escândalos resultaram nas renúncias do CEO José Carlos Cardoso e do CFO Fernando Passos. O resultado? Os papéis da IRB Brasil RE (IRBR3) caíram 70,89% em março de 2020.

Sob nova administração, com o novo CFO Werner Suffert e o novo CEO Antonio Cassio dos Santos, o primeiro balanço trimestral do IRB Brasil RE em 2020 apresentou a nova realidade da empresa ao mercado. O lucro líquido da empresa despencou 92% no 1T20 na comparação anual, caindo de R$ 177 milhões em 2019 para R$ 13,9 milhões.


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Prejuízos do IRB recuam no terceiro trimestre, mas chegam a R$229,8 milhões


Para piorar a situação do IRB Brasil RE frente ao mercado, os balanços de 2018 e 2019 foram revisados, e os números revisados foram razoavelmente diferentes dos apresentados originalmente. O lucro acumulado de 2018 caiu de R$ 1,21 bilhão para R$ 1,11 bilhão, enquanto a cifra de 2019 caiu de R$ 1,76 bilhão para R$ 1,21 bilhão.

Nos dois trimestres seguintes, os lucros do IRB continuaram a apresentar resultados muito abaixo dos números de anos anteriores. No segundo trimestre de 2020, a empresa teve um prejuízo líquido de R$ 685 milhões, uma queda de 276,4% na comparação anual. No terceiro trimestre do ano, último balanço apresentado pelo IRB Brasil RE até aqui, o prejuízo foi de R$229,8 milhões, ante um prejuízo de R$ 19,7 milhões no 3T19.

No balanço do 3T20, porém, o IRB Brasil RE detalhou os contratos que estavam se encerrando. Um total de 20 contratos sob revisão, dos quais quatro já haviam sido descontinuados. Eram justamente os quatro maiores contratos no exterior do IRB Brasil RE, responsáveis por 44% dos sinistros registrados no período, com um índice de sinistralidade de 1.019%.

Para termos ideia do impacto desses contratos no resultado operacional da empresa, caso os mesmos fossem omitidos do relatório, o IRB Brasil RE apresentaria um lucro líquido de 149,4 milhões no 3T20. O próximo balanço da empresa, referente ao 4T20, está marcado para esta quinta-feira (18) e, segundo o IRB, pode ser ainda impactado por esses contratos de alta sinistralidade que pressionaram negativamente o desempenho da empresa no terceiro trimestre do ano.

Todos os eventos de 2020 fizeram com que o IRB Brasil RE perdesse seu status de “queridinho” do investidor brasileiro, passando de um papél com payrolls acima da concorrência e sinônimo de um investimento seguro para um papel muitas vezes almejado por investidores com maior foco na especulação acionária.


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Grupo de investidores organiza short squeeze da IRB Brasil, entenda


Pudemos observar isso no recente short squeeze das ações IRBR3 na Bolsa, inspiradas no movimento de mesma natureza em Wall Street com as ações da GameStop. Olhando para os números, porém, podemos constatar que o IRB Brasil RE tem condições de realizar um turnaround no futuro próximo, com uma situação confortável no sentido de liquidez e ainda com uma fatia enorme do mercado de resseguros no Brasil. Nos resta esperar e observar os próximos capítulos da “novela” do IRB Brasil para descobrir se a empresa dará a tão almejada volta por cima.

Imagem em destaque: The Capital Advisor / divulgação

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Guilherme Guerreiro

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