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Fast Fashion: qual é o verdadeiro custo da moda rápida e barata?

5 Minutos de leitura

O mundo da moda certamente não é barato, especialmente considerando uma economia em desenvolvimento como a do Brasil. 

São pouquíssimas as pessoas que possuam as condições de possuírem em seu guarda-roupa peças de marcas conhecidas como Prada, Gucci, Tommy Hilfiger e Nike. Algumas delas são até consideradas como luxo. 

Na ausência de linhas mais acessíveis, é natural que a grande maioria das pessoas consumam de marcas mais populares, que não necessariamente significam que possuem menos qualidade. 

Uma das novas tendências mais fortes do mercado da moda, especialmente durante a explosão do e-commerce durante a pandemia de COVID-19, é o fast fashion, que promete oferecer linhas extremamente acessíveis e pouco tempo de espera do frete. 

O modelo, porém, é amplamente criticado por diversos tipos de entidade, especialmente as ambientais e sociais. 

Mas o que é, exatamente, fast fashion e qual é o verdadeiro custo da moda rápida e barata? 

Rápido, barato e descartável 

ZARA, H&M, Shein, Forever 21, C&A e Gap. Essas são algumas das maiores companhias de fast fashion do planeta, sendo que a maioria delas estão presentes em vários países. 

O nome é autoexplicativo. Fast fashion se propõe a ser uma moda mais acessível, barata e rápida. Marcas como a Shein conseguem, em menos de uma semana, a trabalhar no design do produto e iniciar o processo de comercialização. 

O resultado disso são plataformas online onde novas peças são comercializadas em um passo muito mais rápido que a indústria da moda estava acostumada a alguns anos atrás. 

Fast fashion geralmente usa as redes sociais como o principal veículo de propaganda, quase que abandonando as passarelas. Afinal, um dos objetivos é conseguir atingir o consumidor mais jovem. 

As grandes marcas também apostam em mercados emergentes, como o Brasil, onde o poder de consumo da população costuma ser mais baixo que de países desenvolvidos. 

Outra característica do mercado rápido da moda é a qualidade têxtil, afinal, o barato custa caro para o consumidor. Peças de vestuários desse tipo de loja costumam ter sua qualidade um pouco mais comprometida, além do uso de materiais sintéticos na composição. 

É comum que roupas fiquem com aspecto de muito uso após poucas lavagens, e peças acabam sendo usadas muito menos que as de outras marcas. Para muitos consumidores, porém, o preço das peças justifica a qualidade. 

O domínio de mercado no fast fashion na população jovem é tão intenso que acompanhar tendências é coisa do passado. Agora, as maiores companhias no setor ditam tendência, e os números traduzem isso muito bem. 

De acordo com números da Research and Market, o valor de mercado fast fashion atingiu US$ 68 bilhões em 2020, com expectativas de crescimento para R$ 163 bilhões até 2025, com uma taxa anual de 19%. 


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Os problemas do fast fashion 

Você talvez tenha pensado ao ler esta matéria: “mas essa marca não é barata”. Acredite, isso tem um motivo. 

Uma das grandes críticas que a indústria da moda possui contra fast fashion, especialmente em economias em desenvolvimento, é que elas podem ser divulgadas como marcas quase como de luxo, embora a qualidade têxtil não exatamente seja. 

Para algumas companhias que chegaram a processar marcas de fast fashion, elas também conseguem esse feito ao copiarem peças de outras grandes marcas e designers. Foi o caso, por exemplo, da ilustradora Tuesday Bassen, que processou a ZARA em 2016 por plágio. 

Em 2015, uma designer de roupas de banho, Shea Marie, acusou publicamente a Forever 21 de plagiar suas peças. 

Em 2016, novamente se tratando da ZARA, a marca foi acusada de copiar design de tênis da Balenciaga e Yeezys. 

São inúmeros casos de plágio que marcam a última década do fast fashion. Tantos, que não caberiam na matéria. Casos como a da ZARA e Balenciaga também mostram a pré-disposição de copiar peças que são fundamentalmente inacessíveis. 

Para muitos consumidores, porém, a cópia, mesmo que seja praticamente explícita, é uma forma de conseguir aproximar as pessoas de designs como os da Balenciaga, cujo tênis custam acima de US$ 700. 

O problema ambiental e social 

Os impactos ambientais causados pela indústria têxtil são severos. 8% de todo gás carbônico emitido na atmosfera é do setor de vestuário, perdendo apenas para a indústria petrolífera. 

De acordo com a Forbes, em média, uma peça de companhias fast fashion emitem 400% mais CO2 na atmosfera que as chamadas slow fashion – modelo que tenta valorizar o meio ambiente e as pessoas. 

Outro grande problema é o descarte. Lembra quando dissemos que as roupas deste modelo de moda costumam ser usadas menos e descartadas mais rápido? Esse material precisa ir para algum lugar, e se tratando de poliésteres e nylon, por exemplo, a degradação natural é muito mais lenta. 

Nos Estados Unidos, na média, uma pessoa costuma descartar 32,6 Kg de roupas por ano, de acordo com uma reportagem da Newsweek. Quando o material dessas roupas não é biodegradável, as consequências ambientais são ainda piores. 

Além dos problemas relacionados ao meio ambiente, existe também as graves consequências sociais. 

De acordo com uma reportagem do Al Jazeera de 2018, uma fábrica ligada a ZARA foi acusada de despejar despejos químicos no rio Citarum, na Indonésia, infectando a população de uma vila local. 

O resultado é uma população infantil com problemas no fígado, por exemplo, por conta da água contaminada. 

As condições de trabalho nas fábricas também são um ponto a se considerar. Afinal, como marcas globais conseguem produzir grandes quantidades de roupas e coleções com custos baixíssimos? 

Para começar, boas partes dessas companhias optam por economias mais pobres para conseguirem uma mão de obra mais barata. Algumas dessas economias são a Índia, Tailândia, Bangladesh e China. 

O problema é que muitas vezes as condições de trabalho são precárias e os funcionários possuem poucos direitos. É comum encontrar fábricas cuja jornada de trabalho chega a 12 horas de trabalho, com salários abaixo do salário-mínimo. 

De acordo com a Forbes, 75 milhões de pessoas estão empregadas na indústria de vestuário, sendo que 80% desse número é composto por mulheres entre 18 e 24 anos. A maioria delas, segundo a reportagem, não ganha US$ 3 por dia de trabalho. 

Parar de comprar é uma solução viável? 

Embora as práticas sejam muito questionáveis, fast fashion ainda é a única opção para milhões de pessoas. É difícil cobrar que uma pessoa com um salário-mínimo, por exemplo, compre uma camiseta de marca cara que pode passar de 25% do que ela ganha no mês. 

Existem várias empresas locais e globais que apostam no modelo mais sustentável e com mais direitos aos trabalhadores. Infelizmente, porém, poucos conseguem competir com o gigantesco mercado de fast fashion no e-commerce

Fast fashion deve dominar a indústria ainda mais a indústria na próxima década, com preços imperdíveis e criando tendências que a população jovem consumirá. Em resposta, várias marcas renomadas, como a Tommy Hilfiger, já anunciaram que devem aumentar a produção de roupas nos próximos anos para conseguir continuar no mercado competitivo. 

No fim, porém, tudo depende da pré-disposição do consumidor, e das companhias, e fornecerem peças sustentáveis e acessíveis para promoverem um mundo mais ecológico e justo para todos. 

Imagem: Shutterstock

Juan Tasso - Smart Money

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