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Por que a UE não consegue chegar a um acordo sobre o petróleo russo? 

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Nesta segunda-feira (30), se iniciou a cúpula de líderes da União Europeia (UE). Apesar da grande expectativa e da presença – por videochamada – do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, os países-membros do bloco não conseguiram chegar a um acordo para o banimento das importações de petróleo.


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Até o momento, a União Europeia já lançou cinco pacotes de sanções econômicas contra a Rússia por conta da invasão à Ucrânia. As sanções do Ocidente ao Kremlin são amplamente consideradas as mais severas já aplicadas até hoje, mas os países-membros da UE ainda têm dificuldade de diminuir a sua independência das importações vindas da Rússia. 

Os dados mais recentes da balança comercial da zona do euro e da UE mostraram um déficit comercial recorde na região. O principal fator de pressão foi justamente no setor da economia em que a Europa mais depende da Rússia: a energia. 

Segundo os dados publicados pelo Gabinete de Estatísticas da União Europeia (Eurostat), os 19 países que adotam a moeda pan-europeia registraram um déficit comercial de € 16,4 bilhões em março de 2022, enquanto a UE em sua totalidade chegou a um resultado negativo de € 27,7 bilhões. 

O valor investidor em importações de Rússia e Noruega, os principais fornecedores de gás natural para o continente, mais do que dobraram no primeiro trimestre de 2022. Os dados mostram que, apesar das sanções, o Ocidente ainda tem enorme dependência das importações no setor energético. 

Exatamente por isso, um grupo de países liderados pela Hungria se opõe a ideia de banir as importações de petróleo russo. Segundo o primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, não há acordo para embargo à commodity vinda da Rússia. 

“Não há nenhum compromisso firmado nesse momento”, apontou o político em sua chegada para a cúpula de líderes em Bruxelas. Órban defende que, para concordar em um pacote de sanções que envolva um embargo ao petróleo russo, a UE precisa primeiro achar maneiras de contornar os possíveis problemas na cadeia de abastecimento. 

“A responsabilidade numa falta de acordo hoje pesa sobre os ombros da Comissão (Europeia),” afirmou o premier húngaro. “Primeiro deve ser apresentada uma solução e só depois sanções”. Na Hungria, teme-se que um banimento das importações de petróleo pode causar um cenário de insegurança energética no país. 

Para o economista Gustavo Bertotti, que faz parte da área de renda variável na Messem Investimentos, o contexto de inflação persistente torna um embargo ao petróleo russo um objetivo muito difícil de se alcançar. A política monetária executada pelo Banco Central Europeu (BCE), que ainda não retirou os estímulos monetários à economia, também faz com que essa missão se torne ainda mais complexa. 

“A retirada de estímulos ainda não está acontecendo e isso está sendo muito questionado”, explica. “Estamos vendo a Christine Lagarde (presidente do BCE) começando a passar um tom de maior preocupação e falando em aumento de juros, coisas que não aconteciam. Até duas semanas atrás, se falava muito em sanções”. 

O problema de oferta faz com que os países mais dependentes do petróleo russo se sintam fragilizados com um possível embargo. “Nós temos uma Europa que é dependente de importação de gás e de petróleo, por isso alguns países estão pedindo uma análise um pouco mais detalhada”, afirma o especialista. 

Alguns países, segundo Gustavo, são totalmente dependentes do petróleo russo para abastecer seu mercado doméstico. Em um cenário de um conflito sem soluções no horizonte, o economista acredita ser extremamente difícil se comprometer a um banimento das importações. 

Em um cenário diferente, com a inflação mais controlada, Gustavo acredita que as negociações para a adoção de um embargo ao petróleo vindo da Rússia seriam bastante diferentes. “Se tivéssemos uma inflação até o teto, seria uma situação bem diferente, mas não é o caso”. 

Gustavo afirma ainda que esse cenário de commodities de energia em alta deve continuar no curto prazo, principalmente com as medidas de isolamento social voltando a ser suspensas na China. “Com as medidas de relaxamento acontecendo, nós vamos ter uma demanda maior e eu diria que as commodities de energia vão continuar acentuadas”, aponta. “Nós temos uma demanda reprimida e não podemos esquecer disso, pois pode pressionar ainda mais os preços”. 

Guilherme Guerreiro

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