Educação Financeira

Por que os juros estão subindo?

5 Minutos de leitura

A super-quarta (04) desta semana nos provou o óbvio: os juros estão subindo no mundo todo. 

Nos Estados Unidos, o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve (Fed) ajustou em 0,50% a taxa variável de juros, que agora está entre 0,75% a 1,00%. É a maior variação desde 2000. 

No Brasil, a taxa de juros básica, a Selic, está aumentando há algum tempo. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou nesta semana que a meta da Selic será ajustada para 12,75% ao ano, o décimo aumento consecutivo. 

No Reino Unido, que segue uma posição de mais aperto que a União Europeia (UE), o Bank of England (BoE) ajustou em 0,25% as taxas, que agora estão em 1%. É a maior taxa em 13 anos. Por lá, a inflação atingiu a taxa anual de 7% em março, a maior em 30 anos.  

Em todos os casos, as autoridades monetárias ressoam o mesmo discurso: a inflação é uma preocupação global

Nos Estados Unidos, por exemplo, de acordo com os dados de março, a inflação acumulada dos últimos 12 meses é de 8,5%, a maior em 40 anos. Por aqui, segundo dados do IBGE, a inflação acumulada é de 11,30%. 

Com a alta nos preços, é natural que as principais autoridades monetárias dos países optem por apertos na economia. Mas afinal, por que os juros estão subindo e o que isso tem a ver comigo? 

Foto: Agência Brasil

Como funciona a nossa Selic 

A cada 45 dias, o Copom se reúne e opta pela manutenção, o reajuste, da chamada meta Selic. 

A Selic nada mais é que o Sistema Especial de Liquidação e Custódia. O nome parece complicado, mas significa, em termos básicos, o sistema virtual em que os títulos do Tesouro Nacional são negociados diariamente entre as instituições financeiras. A Selic é a média dos juros praticados nas transações. 

Você talvez não saiba, mas existe uma legislação que exige que os bancos tenham uma certa porcentagem definida de seus depósitos em contas no BC diariamente. Naturalmente, as instituições financeiras, com altos volumes diários de saques e depósito, não conseguem cumprir à regra “sozinha”. 

Assim, todos os bancos realizam empréstimos over (overnight), de curtíssimo prazo, de outros bancos que ficaram acima da meta definida pelo BC. Os bancos geralmente usam garantias de pagamento, e, neste caso, os títulos são utilizados, além dos Certificados de Depósito Interbancário (CDI). 

Os juros praticados nesses empréstimos over entre as instituições financeiras geralmente ficam um pouco abaixo da meta Selic definida pelo nosso Copom. 


Saiba mais

Copom eleva Selic para 12,75% ao ano 


O que acontece quando os juros sobem? 

A influência da Selic na inflação funciona da seguinte maneira: ao aumentar a taxa Selic, a atividade financeira do país diminui, afinal, a taxa de juros está alta, o que em teoria contribui para que o comércio comece a diminuir os preços para atrair consumidores. Sendo assim, o aumento é utilizado para frear a inflação. 

Na direção oposta, a redução da taxa Selic fomenta a atividade econômica do país, pois os juros estão baixos. Um fomento da atividade econômica não necessariamente significa uma coisa positiva, pois depende que a população tenha o poder de compra que acompanhe o aumento dos preços. Quando não é o caso, a economia fica comprometida. 

Por conta dos diferentes tipos de juros existentes no mercado, os efeitos sentidos pelo bolso do brasileiro não são imediatos. A Selic é uma taxa de juros pequena, e de baixíssimo risco de inadimplência. Os bancos, porém, fornecem empréstimos e investimentos que possuem variação de risco. 

Em termos básicos, quanto maior o risco de inadimplência, possivelmente maiores são os juros. 

Portanto, quando a Selic sobe, taxas de maiores riscos de inadimplência, mais populares e acessíveis, como cheque especial e empréstimo pessoal, podem demorar para sentir o efeito, mas ele certamente acontece. 

O produto final de uma variação da meta Selic definida pelo Copom pode ser sentido inclusive nas prateleiras de supermercado. Já que a taxa funciona como uma ferramenta de controle da inflação, seu aumento pode ser refletido na diminuição de preços de produtos, enquanto o oposto pode significar um aumento, já que a economia fica mais aquecida. 

Inflação global 

Problemas sempre vão existir, mas o mundo se encontra em um momento bem particular. Recém saímos de uma pandemia global, que paralisou economias, retardou crescimentos econômicos nas principais economias e trouxe ondas inflacionárias. 

Até um pouco antes do início de 2022, você certamente já sabia que a inflação brasileira já estava alta, pressionada pelos alimentos, gasolina e conta de luz. 

Na Europa e Estados Unidos, a inflação também já acendia alertas, e as autoridades monetárias preparavam planos de reajustes nos juros para a alta dos preços estabilizar. 

A guerra na Ucrânia, porém, trouxe um paradigma novo para a economia global. De imediato, o setor alimentício e energético foram os principais atingidos. O preço do barril de petróleo brent, que estava abaixo de US$ 90 antes do conflito, disparou para US$ 135 em poucas semanas. 

Como a Rússia e Ucrânia são importantes exportadores de cevada, trigo, milho e potássio, o setor alimentício também registrou altas severas. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), isso provavelmente aumentará a fome no mundo. 

As sanções aplicadas pelas potências, como o banimento de bancos russos do SWIFT e a proibição de importações de petróleo russo nos EUA, também adicionam ao período de instabilidade geopolítica. 

Um petróleo mais caro significa uma gasolina mais cara nas principais economias globais. No Brasil, que segue a paridade internacional de preços, a disparada do preço do barril, juntamente à desvalorização do Real, causou reajustes constante na Petrobras. 

Atualmente, os combustíveis são um dos grandes responsáveis pela inflação acumulada de dois dígitos brasileira. 

Como se não bastassem os problemas gerados pela pandemia e guerra na Ucrânia, outro grande problema pode impactar a inflação e crescimento econômico global: a política de ‘Covid Zero’ na China. 

A política de levar à zero os números de novos casos de COVID-19 na China certamente funcionam, mas anda deixando danos econômicos no caminho. No último mês, um dos principais centros comerciais do país, Xangai, entrou em confinamento forçado. 

Além dos problemas gerados por mais de 25 milhões de pessoas em lockdown, o setor comercial e industrial do país foi duramente atingido. Para economistas, a política provavelmente vai prejudicar o crescimento do PIB chinês. 

O grande problema está na cadeia global de distribuição, que já passava por gargalos antes mesmo do ano começar, mas agora tem a situação agravada pelas interrupções chinesas. O resultado, segundo alguns economistas, será sentido globalmente, podendo empurrar as economias para um período de estagflação. 

São essas pressões que fizeram as autoridades monetárias montarem planos de contenção da alta dos preços através de aumentos nas taxas de juros. Certamente não é uma tarefa fácil, pois o esfriamento do crescimento econômico também aumenta o risco de uma recessão. 

Juan Tasso - Smart Money

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