Artigos

O que acontece se a Rússia cortar o fornecimento de gás para a Europa?

4 Minutos de leitura

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta terça-feira (22) que o fornecimento de gás natural para a Europa continuará interrupto apesar das tensões políticas que marcam o leste europeu. O presidente russo falou sobre o fornecimento de gás em uma carta enviada a uma conferência sobre energia em Doha, no Catar. 

Por outro lado, o governo da Alemanha anunciou hoje (22) que suspenderá os acordos para a implementação do russo Nord Stream 2, que teria 1,2 mil km de extensão e teria a capacidade de abastecer até 55 bilhões de metros cúbicos de gás por ano. O gigante gasoduto ligaria a Rússia diretamente à Alemanha através do Oceano Báltico. 

“Parece algo técnico, mas é uma passagem administrativa necessária. Sem ele, não pode haver nenhuma certificação do gasoduto e, sem a certificação, o Nord Stream 2 não pode entrar em operação”, disse o chanceler alemão, Olaf Scholz. 

A decisão da Alemanha foi comemorada pelo ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba: 

“Este é um passo moral, politicamente e praticamente correto nas circunstâncias atuais. Verdadeira liderança significa tomar decisões difíceis em tempos difíceis. O movimento da Alemanha prova exatamente isso”, disse ele em uma rede social. 

Embora Putin tenha anunciado que o fornecimento de gás não vá sofrer alterações, a decisão da Alemanha mostra para o mercado que a as tensões no leste europeu já causam danos à economia, e os preços da commodity podem aumentar nos próximos meses. 

A crise no leste europeu deve afetar os preços do gás natural, mas também os preços de alimentos como o trigo e milho. Atualmente, a Rússia corresponde a 17% do mercado global do trigo. 

Quando se fala em gás natural, porém, o embate é geopolítico. A implementação do gasoduto Nord Stream 2, por exemplo, era amplamente criticada pelo governo dos Estados Unidos, que enxerga o projeto como uma grande arma política a ser usada pela Rússia de Putin. 

Hoje em dia, a Europa é praticamente dependente dos gasodutos que saem da Rússia, sendo que boa parte deles passam pela Ucrânia. Isso dá à Rússia as vantagens geopolíticas óbvias, que, segundo várias empresas e especialistas, já causam frutos indesejados à economia europeia. 

Gasodutos da Gazprom, empresa estatal russa e a principal protagonista no fornecimento de gás para a Europa. Foto: Shutterstock 

Afinal, o quão dependente é a Europa da Rússia? 

Em suma, a Europa é muito dependente da importação energética. Hoje, 60% de toda a demanda energética da União Europeia veio através de mercados estrangeiros. 

Considerando apenas o gás natural, os países europeus usam três principais fontes de importação: Rússia, Noruega e Argélia. A Rússia sozinha corresponde a cerca de 38% do total das importações, enquanto a Noruega, por exemplo, corresponde a apenas 19%. 

Outro importante ponto a se considerar é que boa parte do fornecimento de gás natural possui uma grande “ponte”, que é a Ucrânia.  

Para se ter uma ideia da importância da Ucrânia para o mercado de gás natural, considere que entre os países que fazem “ponte” para os gasodutos que saem da Rússia, a Ucrânia corresponde a uma capacidade total de 110 bcm (bilhões de metros cúbicos de gás natural) por ano, enquanto a Bielorrússia, em segundo lugar, corresponde a 77 bcm ao ano. 

Se a Nord Stream 2 continuasse seu curso natural de construção, o gasoduto teria apenas metade da capacidade (55 bcm) do fornecimento anual comparando com os gasodutos que passam pela Ucrânia. 

Caso o presidente russo decidisse cortar profundamente o fornecimento de gás para a Europa os efeitos seriam catastróficos. Para a absoluta maioria dos especialistas esse cenário é improvável de acontecer. Isso não impede, porém, que haja retaliações que já pressionam a economia europeia. 


Saiba mais

Entenda como a crise na Ucrânia pode aumentar o preço da gasolina no Brasil


Nord Stream 2, o gasoduto que deve ligar a Rússia à Alemanha através do Oceano Báltico. Imagem: Shutterstock 

O prejuízo em números 

Problemas na distribuição do gás natural já estão gerando danos à economia a vários meses. Desde o ano passado, o fornecimento de gás que passa pela Ucrânia já caiu 25%, sendo que futuras interrupções nessa cadeia podem afetar ainda mais o mercado energético do continente, que continua fragilizado após a pandemia de COVID-19.  

As consequências, neste caso, poderão ser sentidas diretamente na inflação e nos custos de gás natural. Em julho do ano passado, o preço dos contratos de gás natural TTF (Title Transfer Facility) estava em cerca de € 18 por MWh. De acordo com dados da plataforma ICE, o preço desta terça-feira (22), às 14h50, está em € 80 por MWh. 

A queda no fornecimento de gás natural para a Europa gera polêmicas por si só antes mesmo da situação política piorar no leste europeu. Diversas companhias e especialistas acusam abertamente a Rússia de segurar a oferta de gás para que a construção do Nord Stream 2 seja concluída com mais rapidez. 

A exposição da Europa é preocupante para muitos especialistas justamente pela ampla influência russa no mercado energético, mas também dá ao continente uma certa vantagem por ser um grande braço na demanda. 

Do ano passado para cá, a Europa também busca diversificar sua importação de gás natural em outras fontes. Das primeiras semanas de 2021 para cá, de acordo com dados da Bruegel, as importações de gás liquefeito (LGN em inglês) cresceram em 146%, e as importações da Noruega, que estão em capacidade total, subiram 8% no mesmo período. 

De qualquer maneira, a briga política e a eminência de um conflito armado na Ucrânia devem seguir impactando o mercado nos próximos meses. Os presidentes da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, e do Conselho Europeu, Charles Michel, anunciaram nesta terça-feira (22) que um pacote formal de sanções contra a Rússia deve ser anunciado ainda nesta semana, em resposta a decisão de Putin de sancionar a independência de regiões separatistas no leste da Ucrânia. 

Seguindo os mesmos passos, o Senado dos Estados Unidos prepara um pacote de sanções do mesmo gênero. No Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson anunciou sanções contra cinco bancos da Rússia e três bilionários. 

Foto: Shutterstock

Juan Tasso - Smart Money

Jornalista Smart Money — Leia, estude, se informe! Apenas novas atitudes geram novos resultados!

1857 posts

Sobre o autor
Jornalista Smart Money — Leia, estude, se informe! Apenas novas atitudes geram novos resultados!
Conteúdos
Postagens relacionadas
ArtigosCuriosidadesDescomplicaEducação Financeira

4 erros de investir na previdência em dezembro

2 Minutos de leitura
Maravilha, tudo bem? Possivelmente você já saiba que a previdência privada do tipo PGBL é o único investimento que oferece um benefício…
ArtigosEducação Financeira

Recupere seu Dinheiro Agora! A Vantagem do PGBL que Você Não Pode Ignorar!

2 Minutos de leitura
Maravilha, tudo bem? Não sei se você já deu conta, mas o final do ano está logo ali. E antes da chegado…
ArtigosEducação Financeira

Investir no PGBL em 2023: Reduza Seu Imposto de Renda até o Final do Ano

1 Minutos de leitura
Com o ano de 2023 em pleno andamento, é hora de considerar estratégias inteligentes para pagar menos imposto de renda e, ao…