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Rússia X Ucrânia: entenda um pouco da relação histórica das duas nações e porque a Rússia contesta a soberania da Ucrânia

6 Minutos de leitura

Com o avanço da Rússia em território ucraniano após o presidente Vladimir Putin anunciar o início de uma operação militar no país vizinho nesta semana, muitos tem se perguntado os motivos por trás da ofensiva do Kremlin em direção a Kiev. 

Como resposta, não é difícil lermos que Putin está tentando “restaurar a União Soviética”, como afirmou o próprio presidente norte-americano Joe Biden em sua coletiva de imprensa na quinta-feira (24), quando anunciou novas sanções à Rússia em resposta aos avanços na Ucrânia. O discurso de Biden, como tantos outros, no entanto, falha em ter uma visão mais ampla da história russa e da relação historicamente conturbada entre Moscou e países que outrora fizeram parte do Império Russo e/ou da URSS. 

Hoje, você vai conferir aqui na Smart Money um pequeno resumo da história de Rússia e Ucrânia, além de como o atual conflito em solo ucraniano pode ser comparado a outros avanços militares da Rússia de Vladimir Putin.

 

A RÚSSIA DE QUIEVE, MOSCOU E O IMPÉRIO RUSSO 

Uma coisa que você precisa ter em mente é que a Rússia como estado tem origem no território que corresponde hoje às terras da Ucrânia, Belarus e da parte mais ocidental da Rússia. O povo Rus’, originário da Escandinávia, migrou para o sul durante o Século IX e naquele período houve a formação do primeiro estado eslavo da Europa oriental. 

Entre os séculos IX e XIII, a Rússia de Quieve – como o próprio nome indica – teve como capital a cidade que hoje é Kiev, capital ucraniana. Só por esse breve resumo, você deve ter entendido o que Vladimir Putin quis dizer ao contestar publicamente o status da Ucrânia como estado soberano. 

Mas como tudo isso mudou? Como o povo russo deixou de ter Kiev como sua capital e migrou para o que hoje conhecemos como Moscou, a mais de 800 quilometros de distância? 

Na primeira metade do Século XIII, Quieve foi um dos territórios conquistados pelo recém fundado Império Mongol, sob liderança do lendário Gengis Khan. Entre as décadas de 1220 e 1240, a já decadente Kiev foi invadida e saqueada diversas vezes, até ser quase que completamente destruída. Com a cidade devastada, houve a queda do primeiro estado do povo Rus’, a Rússia de Quieve não existia mais. 

Com a queda da Rússia de Quieve, a cidade perdia seu status de capital do povo Rus’. Foi apenas no Século XIV que Moscou, fundada em 1147, começou a despontar como principal centro para o povo russo. O Grão-Ducado de Moscou sucedeu a Rússia de Quieve e foi o estado antecessor ao Czarado Russo. 

De sua destruição até a Revolução Industrial, Kiev passou por séculos muito difíceis. A cidade, além de perder sua importância como capital dos russos, foi saqueada diversas vezes e até mesmo incendiada quase que por completo em uma invasão pelos Tártaros no Século XV. 

Durante esse período, Kiev teve sua importância comercial praticamente zerada, se tornando muito mais um local de peregrinação para o povo Rus’ do que um centro da civilização eslava. A cidade esteve sob controle lituânio da década de 1320 até 1667, quando passou a fazer parte do Czarado Russo. 

Por sua posição estratégica, Kiev passou a exercer papel fundamental na logística de importações e exportações a partir do Século XIX, após a Revolução Industrial, se firmando como uma das principais cidades do Império Russo. O Século XIX, inclusive, foi um período em que Kiev e a Ucrânia como um todo experienciaram uma grande “russificação”, que minou gradualmente a autonomia da região. 

SÉCULO XX: UNIÃO SOVIÉTICA E INDEPENDÊNCIA 

Com a Revolução Russa em 1917, o pan-eslavismo do século XIX  foi substituído, em teoria, por uma política que proporcionava uma maior autonomia aos antigos territórios do Império Russo. E é exatamente em referência a esse período da história que Vladimir Putin se referia em seu discurso de segunda-feira (21), quando anunciou o apoio russo aos separatistas da região do Donbas no leste da Ucrânia. 

Durante o período de existência da União Soviética, Kiev se tornou a terceira cidade mais importante da mesma, e a Ucrânia se estabeleceu como pilar da economia soviética. Tornou-se o principal polo produtor de energia nuclear da União Soviética, com a construção de cinco usinas em território ucraniano, incluindo a infame usina nuclear de Chernobyl e a usina de Zaporizhia, que ainda figura entre as maiores plantas nucleares do mundo. 

Com o fim da URSS em 1991, a mesma se fragmentou em diversos estados independentes. Entre eles, a Ucrânia. A Ucrânia, embora provavelmente umas das repúblicas mais promissoras entre as que faziam parte da URSS, sofreu severamente durante os anos 1990. O PIB do país encolheu 60% em 5 anos e a inflação chegou superar os 4.000%. 

SÉCULO XXI 

Desde a independência ucraniana, a Rússia era uma das principais aliadas políticas do governo de Kiev. Do final dos anos 2000 para cá, no entanto, a geopolítica do leste europeu voltou a sofrer grandes alterações com novos avanços russos na região. 

Em 2008, a Rússia apoiou duas regiões separatistas da Geórgia. Assim como a Ucrânia hoje, o governo da Geórgia na ocasião se aproximou da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e, com a perspectiva de ver um antigo aliado se juntando à organização vista como inimigo político, a Rússia agiu. 

Com os ideais pan-eslavistas como base ideológica, a Rússia assumiu o controle prático da Ossétia do Sul e Abecásia. Na ocasião, a Guerra Russo-Georgiana basicamente extinguiu a possibilidade de a Geórgia ser incluída como estado membro da OTAN. Atualmente, cerca de 20% do território georgiano está sobre domínio russo. 

Foi em 2014, no entanto, que a Rússia passou a atuar de forma mais direta em território ucraniano. A anexação da Crimeia, território internacionalmente reconhecido como parte da Ucrânia, abalou fortemente as relações diplomáticas entre os dois países do leste europeu. 

Agora, Vladimir Putin deixou subentendido que a Rússia não busca apenas a indexação das regiões etnicamente russas da Ucrânia. Em seu discurso, há um claro esforço do presidente russo de negar a soberania da Ucrânia como um estado independente, apontando que foi um erro dos revolucionários dar autonomia à antigas regiões do Império Russo. 

Ao declarar apoio a independência das regiões separatistas no Donbas, o presidente começou sua fala afirmando que “a Ucrânia foi criada pela Rússia bolchevique”. Em seguida, falou o que se tornou a frase mais emblemática de seu discurso da segunda-feira. 

“(A Ucrânia) Deveria se chamar República Vladimir Iliná Lenina da Ucrânia. Ele foi seu autor e arquiteto. Agora, seus descendentes gratos criam monumentos a ele. Essa é sua ‘descomunização’”, apontou. “Nós estamos prontos para mostrar o que a verdadeira ‘descomunização’ significaria para a Ucrânia”. 

Em entrevista coletiva, a presidente da Geórgia Salome Zurabishvili afirmou que a Rússia repete na Ucrânia o modus operandi do que aconteceu no seu país em 2008. “Todos se lembram da experiência da Geórgia em 2008. Agora a Rússia repete este roteiro na Ucrânia. Tenho a sensação de um déjà vu”, apontou. 

O que está acontecendo na Ucrânia atualmente não é a primeira vez em que o país tem sua soberania colocada em xeque e provavelmente também não seja a última. O sentimento de que a Ucrânia faz parte da Rússia está presente entre os russos há gerações e o apoio a Vladimir Putin cresceu entre a população russa com a decisão de iniciar a operação militar no país vizinho. 

Embora o presidente Joe Biden tenha afirmado ontem que um pacote de sanções econômicas pode impedir a Rússia de competir no mercado internacional no futuro, a realidade é que no cenário doméstico Vladimir Putin se fortalece com os conflitos dos últimos 14 anos. Também existem sérias dúvidas sobre a capacidade do Ocidente – principalmente a União Europeia – manter as sanções anunciadas, dada a importância da Rússia no mercado internacional como exportadora de commodities. 

Guilherme Guerreiro

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