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Juros futuros e cenários econômicos – por que isso importa?

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A curva de juros futuros é um dos indicadores mais acompanhados do mercado financeiro. Ela representa uma medida média ou consenso de quanto o mercado financeiro acredita serem as taxas de juros para diferentes prazos, ou seja, o valor do dinheiro no tempo. Em outras palavras, quanto o mercado está fixando o preço do dinheiro (juros) para diversos vencimentos.

Conforme a divisão do FED de St Louis (FRED), sob circunstâncias normais, as taxas de juros de longo prazo são percebidas como mais altas do que as taxas de juros de curto prazo. Isso porque o longo prazo é geralmente entendido como mais arriscado e há maiores incertezas. Portanto, a dívida de longo prazo exige um retorno maior.

Logo, quanto maior o prazo, entende-se que maiores devam ser os rendimentos. Um exemplo de curva de juros futura está no gráfico abaixo elaborado pela XP Investimentos. Os diferentes prazos e taxas estão representados em percentuais ao ano a partir dos contratos futuros de juros (ou DI).

Fonte: Bloomberg | Elaboração: XP Investimentos (setembro/2021)

Fatores que movem essas taxas estão associados ao ritmo e dinâmica da atividade econômica doméstica e global, inflação e suas expectativas, trajetória fiscal do país, percepção de risco e condições financeiras globais.

Índices de preços mais altos, atividade econômica sobreaquecida, piora nas contas públicas e maiores riscos estão ligados ao aumento nas taxas de juros futuros. Inflação mais baixa ou controlada, atividade econômica abaixo do seu potencial, necessidade de estímulos, juros mais baixos no mundo e aumento de liquidez global estão ligados a diminuição nas taxas de juros.

Diferentes cenários também podem refletir em diferenças no formato da curva de juros, que pode ser mais achatada ou inclinada. De acordo com a XP Investimentos, é possível interpretar que as taxas de prazos mais curtos sinalizam expectativas ligadas à política monetária, enquanto as de longo prazo estão conectadas ao risco fiscal. Se, por algum motivo, o curto prazo se tornar mais arriscado, a curva (ou partes dela) pode se tornar inclinada para baixo.

Para visualizar o cenário atual, no gráfico abaixo estão representadas as taxas de juros futuros em quatro momentos distintos. A seis meses atrás, um mês atrás, uma semana e no dia 22 de abril.  Há um fenômeno curioso que pode ser visualizado nas três curvas posicionadas acima, as mais recentes, e que seguem assim no mês de maio. Vencimentos de curto prazo estão acima dos de longo prazo.

Fonte: Bloomberg | Elaboração: XP Investimentos. (abril/2022)

No Brasil, esse fenômeno chamado de inversão da curva de juros iniciou a partir do segundo semestre de 2021, podendo ser interpretado como a necessidade de um grande choque de taxas de juros no curto prazo para controlar a inflação corrente e ancorar suas expectativas. A redução a partir de 2023 só não é mais acentuada devido à elevada percepção de riscos atrelados a duração do aperto monetário para controlar a inflação corrente, a trajetória fiscal e política econômica no Brasil.  Ou seja, há um prêmio de risco embutido nessas taxas.

Nos Estados Unidos, onde as taxas de juros balizam todo mercado global, um indicador em particular se tornou um dos mais relevantes e acompanhados pelo mercado em momentos de preocupação com a inflação e a atividade econômica. O gráfico abaixo descreve a diferença (spread) entre título da dívida emitido pelo tesouro americano de 10 anos subtraída pela de 2 anos e sua evolução desde o fim da década de 1980 até hoje.

Fonte: FRED – St. Louis FED (maio/2022)

E por que isso é importante? O gráfico mostra que esse tipo de inversão da curva de juros – quando 2 anos fica maior que 10 anos, linha azul em terreno negativo – tem sido associada a recessões iminentes – partes com sombra cinza no gráfico. Embora muito baixo, o patamar atual ainda não é negativo e até o momento o consenso de mercado não projeta recessão, seja nos Estados Unidos, no mundo ou no Brasil.

Nesse contexto, a atualização de abril do panorama econômico mundial recentemente divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) coloca o conflito Rússia x Ucrânia no centro das atenções. A publicação ressalta os danos econômicos do conflito, os quais contribuirão para uma desaceleração significativa do crescimento global em 2022 comparado ao ano passado e aumento da inflação, já percebidos globalmente.

Conforme estimativas do fundo presentes no relatório, o crescimento global está projetado em 3,6% tanto em 2022 como 2023. Nos Estados Unidos, embora os dados do PIB do primeiro trimestre tenham mostrado queda, a projeção de crescimento no ano é de 3,7% e 2,3%, respectivamente. Já no Brasil, a alta projetada é de 0,8% para esse ano e 1,4% para o próximo.

Mudanças de cenários, momentos de incertezas e turbulências devem ser acompanhadas de perto pelos investidores, que podem aproveitar oportunidades que surgem a depender dos contextos. Diferentes estratégias podem ser utilizadas para proporcionar proteção e rentabilidade em renda fixa, por exemplo. Contar com profissionais que podem apresentar alternativas de investimentos e diversificação, bem como riscos e benefícios de cada estratégia torna-se um trunfo cada vez mais indispensável para o investidor, independente do seu perfil.

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