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Análise das Trajetórias das Taxas de Juros nos Estados Unidos e no Brasil

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Os mercados financeiros têm acompanhado de perto as perspectivas das trajetórias das taxas de juros nos Estados Unidos e no Brasil. A decisão de política monetária, especialmente em relação à taxa de juros, exerce um impacto significativo no perfil de uma carteira de investimentos. Aumentos na taxa de juros tornam os investimentos em renda fixa mais atraentes para investidores com perfil conservador, que buscam principalmente segurança e estabilidade, devido aos rendimentos mais altos oferecidos. Por outro lado, a perspectiva de corte nas taxas de juros faz com que os investimentos em renda variável e em aplicações alternativas ganhem destaque, devido à maior possibilidade de valorização. Naturalmente, as expectativas sobre as trajetórias das taxas de juros flutuam diariamente, em resposta à disponibilidade de novos dados econômicos e eventos globais. A partir das informações fornecidas pelos mercados de opções e futuros, é possível formar um panorama das projeções para as políticas monetárias em ambos os países.

Nos Estados Unidos, o Federal Reserve desempenha um papel crucial na definição das taxas de juros. O mercado de futuros do CME Group oferece insights valiosos por meio do CME FedWatch Tool. De acordo com as últimas projeções, há uma expectativa de que o primeiro corte de juros ocorra na reunião do dia 18 de setembro, conforme demonstrado na Figura 1. Observe, que no momento, o mercado precifica uma chance de 48,8% de que as taxas de juros se encontrem entre 5% e 5,25% e uma chance de manutenção nos níveis atuais entre 5,25% e 5,50% de 32,6%.

Figura 1: Probabilidades para a taxa de juros nos Estados Unidos para a reunião de 18/09/2024. CME Group, 2024. Disponível em: <https://www.cmegroup.com/markets/interest-rates/cme-fedwatch-tool.html>. Acesso em: 05 de mai. de 2024.

Os dados econômicos divulgados na última sexta-feira (03/05) aumentaram em cerca de 5% a probabilidade de um corte de juros de 0,25% para esta reunião, em comparação com a semana do dia 26/04. Isso ocorreu devido ao Payroll, que demonstrou a criação de 175 mil vagas de emprego, abaixo da previsão de 243 mil e do número revisado de 315 mil vagas abertas em março. Além disso, a taxa de desemprego subiu de 3,8% para 3,9%, superando a perspectiva de estabilidade em 3,8%. O salário médio por hora em abril aumentou apenas 0,2%, em comparação com os 0,3% observados em março e abaixo das projeções de crescimento de 0,3% para o mês.

Para o final de 2024, as expectativas concentram-se na faixa de 5% a 5,25%, com uma probabilidade de 29,7%, enquanto há 37% de chances de um corte adicional de 0,25%, indo para o intervalo de 4,75% a 5%, conforme ilustrado na Figura 2. Em comparação com a semana anterior ao dia 26/04, as projeções para dezembro variavam de 20,2% para uma faixa entre 5,25% e 5,50%, 39,5% entre 5% e 5,25%, 28,8% entre 4,75% e 5%, e 9,8% entre 4,50% e 4,75%, indicando que o ambiente econômico passou a precificar um cenário mais otimista em relação a cortes de juros na economia americana. No entanto, o ritmo e a magnitude desses aumentos ainda são pontos de debate. Algumas incertezas persistem em relação à evolução da inflação e aos impactos das políticas fiscais e monetárias.

Figura 2: Probabilidades para a taxa de juros nos Estados Unidos para a reunião de 18/12/2024. CME Group, 2024. Disponível em: <https://www.cmegroup.com/markets/interest-rates/cme-fedwatch-tool.html>. Acesso em: 05 de mai. de 2024.


Enquanto isso, no Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) desempenha um papel crucial ao definir a taxa Selic, que exerce influência direta sobre as condições financeiras e o crescimento econômico do país. O mercado de opções de Copom da B3 fornece insights valiosos sobre as expectativas dos investidores quanto à trajetória da taxa de juros brasileira, sendo uma ferramenta importante para o gerenciamento de riscos e a formulação de estratégias de investimento em um cenário de taxas de rendimento em constante mudança.


Na Figura 3, são apresentadas as probabilidades dos eventos relacionados à taxa Selic, por meio do instrumento Opção de Copom, para as reuniões entre 7 e 8 de maio. Observa-se que 75% do mercado espera um corte de apenas 0,25%, representando uma redução em relação ao último ritmo de ajuste de 0,5%. Uma queda de 0,5% está atualmente com uma probabilidade de ocorrência de 21,5%, enquanto há 4,50% de chances de manutenção das taxas de juros no patamar atual de 10,75%. Logo, espera-se uma decisão de Selic em 10,5%.


Para as reuniões do Copom entre 18 e 19 de junho, as expectativas se concentram em três cenários: corte adicional de 0,25% (com 62,5% de chances), manutenção (com 28% de chances) e corte de 0,5% (com 5% de chances). Nesse sentido, prevê-se uma decisão de Selic em 10,25%. Para as reuniões que ocorrerão entre 30 e 31 de julho, as expectativas se dividem em 50% de chances de manutenção, 36,5% de corte de 0,25% e 4,5% de queda de 0,5%, resultando também em uma Selic esperada de 10,25%. No momento, não há precificação das opções de Copom para as reuniões entre os dias 17 e 18 de setembro, 5 e 6 de novembro e 10 e 11 de dezembro. Conforme o Boletim Focus divulgado na terça-feira (30), espera-se uma Selic de 9,5% para o final de 2024.

Figura 3: Probabilidades para a taxa de juros no Brasil para as reuniões de 7 e 8 de maio. B3, 2024. Disponível em: < https://www.b3.com.br/pt_br/market-data-e-indices/servicos-de-dados/datawise/dashboard-publico/opcao-de-copom.htm>. Acesso em: 05 de mai. de 2024.


Em síntese, o cenário financeiro atual aponta para uma tendência de corte nas taxas de juros nos EUA a partir de setembro, enquanto no Brasil, a trajetória da Selic ainda indica queda para a próxima reunião. É crucial ressaltar que, em ambos os países, a dinâmica das taxas de rendimentos está intrinsecamente ligada a uma série de fatores, incluindo dados econômicos, inflação, políticas fiscais e geopolítica. Portanto, os investidores devem permanecer vigilantes e ajustar suas estratégias conforme o cenário evolui, buscando sempre uma compreensão abrangente e atualizada das condições do mercado.

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A educação financeira é uma histórica lacuna no nosso modelo de ensino, mas felizmente existem dezenas de iniciativas que trabalham para fechar esse gap, e o projeto desta coluna é mais uma delas. Temos como missão traduzir para você aquele “Economês” frequente no mercado financeiro, além de desmistificar os paradigmas mais comuns do cotidiano de um investidor. Vamos tratar de temas atuais e como eles podem impactar diretamente a maneira como você investe. Vamos propor reflexões sobre o cenário e como tirar o melhor proveito dele. Nosso intuito é trazer um ponto de vista do lado de dentro do mercado, como cada tema é tratado e discutido na frenética mesa de operações – um mundo fascinante. Estaremos aqui todas as segundas-feiras, sempre tratando do que é relevante para você e seus investimentos. Juntos vamos fazer investimentos mais inteligentes!"

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