Dezembro de 2023. O discurso no mundo era de seis cortes de juros nos EUA a iniciar já no primeiro semestre; e, no Brasil, SELIC terminal em 9% para 2024. Tomados pelo otimismo com os discursos, vemos um movimento de risk-on (cenário em que investidores estão dispostos a assumir mais riscos para obterem maiores retornos) no final do ano passado. O Ibovespa encerra 2023 próximo dos 134 mil pontos.
Nesse ano, nossa bolsa já corrige mais de 5% até então, enquanto o mercado precifica uma SELIC terminal acima de 10% para 2024. Mas o que justifica os 4 primeiros meses de 2024 serem negativos para nosso mercado?
Uma série de fatores, internos e externos. No que tange aos fatores locais, vemos uma dificuldade do governo em manter um superávit fiscal nos próximos meses, o que traz maiores incertezas sobre o compromisso fiscal no Brasil. Contudo, o que mais tem pesado nesse momento para a queda da bolsa não concerne ao nosso governo.
Vemos uma compra de dólares e um estresse dos juros locais, com investidores exigindo maiores taxas para assumir o risco local. Estou falando do Brasil, mas esse mesmo discurso pode ser replicado para México, Estados Unidos, Europa e até mesmo Japão.
Com as tensões geopolíticas no Oriente Médio pressionando a inflação e com os recentes dados econômicos norte-americanos (pay-roll, PCE e CPI) mostrando uma forte atividade da economia, o FED se viu obrigado a mudar o tom, reiterando seu compromisso em levar a inflação da maior economia do planeta para a meta. Esse cenário implica em juros altos por mais tempo e o que inicialmente seriam seis cortes de juros nos EUA para esse ano, atualmente o mercado precifica em no máximo dois, o que vem impactando as treasuries norte-americanas.
Podemos confirmar a tese ao observarmos as taxas dos títulos de 10 anos do governo norte-americano subindo 20% em 2024, chegando a pagar mais de 4,6% ao ano em dólar com um dos riscos mais baixos do mundo. Como é um risco x retorno atrativo, investidores das mais diversas economias do mundo se desfazem de seus ativos nacionais para investir nos EUA.
Para equilibrar a balança o mercado acaba exigindo maiores taxas para ter seu capital investido em países com riscos maiores que os norte-americanos. Isso resulta em estresse de yields de títulos públicos pelo mundo todo. Ao olharmos para diferentes economias, vemos que é um movimento generalizado.
Na Europa, a taxa dos títulos de 10 anos já subiu 21% esse ano. No México, país emergente tal e qual o Brasil, sobe 14% em 4 meses. E aqui cabe mencionar o Japão, país que historicamente tem juros negativos, cujo yield já sobe mais de 40% no ano. Já em nosso país, essa taxa sobe 12%. Enquanto tivermos esse cenário inflacionário nos Estados Unidos estaremos com essa pressão vendedora nos nossos ativos. Alocar capital corretamente nesse momento é de suma importância.
Nesse segundo semestre devem se acirrar as disputas eleitorais nos EUA, o que deve disputar as atenções dos investidores junto aos dados econômicos. Ambos os candidatos têm discursos opostos, com Trump se posicionando a favor de cortes de impostos (redução na arrecadação) e Biden injetando dinheiro na economia (aumento de dívida). Nenhum dos dois candidatos apresentou uma solução para a crescente dívida americana e o que fazer para diminuir os juros por lá. Dadas as devidas proporções, parece um recorte das eleições de 2018 e 2022 aqui no Brasil.