Em um seminário virtual promovido pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e pelo Banco Internacional de Compensações (BIS) na quarta-feira (21), a diretora de Assuntos Internacionais do Banco Central, Fernanda Nechio, demonstrou preocupação com os eventos climáticos extremos – e cada vez mais frequentes – que assolam o mundo todo. Para a executiva, essas catástrofes afetam não apenas o meio ambiente, mas também têm grande potencial de afetar decisões da autoridade monetária e trazer riscos ao sistema financeiro.
Riscos climáticos como incêndios, secas, enchentes e temperaturas extremas são fatores consideráveis que “afetam preços relativos na economia e portanto podem ter impacto nas nossas decisões [do Banco Central] de política monetária”, pontuou Nechio, em sua participação no evento.
Além disso, as mudanças climáticas podem alterar demandas pela moeda brasileira, bem como os valores dos bens físicos e colaterais, além de trazerem riscos financeiros muito altos para a sociedade no geral.
Os impactos podem ser sentidos, por exemplo, na safra de trigo, muito forte no Rio Grande do Sul e no Paraná. Neste ano, a colheita deve sofrer queda de pelo menos 30% ante as expectativas. O clima instável, com fortes períodos de estiagens, geadas e temperaturas incomuns para a época, contribui para que as culturas plantadas sofram impactos que acabam danificando o potencial produtivo das plantações.
As queimadas na Amazônia também refletem a preocupação elencada por Fernanda Nechio. Neste ano, os investidores estrangeiros se sentiram inseguros em manter seu capital no Brasil e a situação ambiental do país, principalmente no que tange às decisões governamentais para amenizar a situação das queimadas, foram um fator levado em conta na hora de retirar os investimentos do mercado brasileiro.
Em setembro, o Banco Central lançou agenda de sustentabilidade socioambiental que inclui campanhas internas de conscientização, incorporação de cenários de riscos climáticos em testes de estresse do BC e adoção de medidas mais abrangentes, como a criação de uma linha financeira de liquidez sustentável para instituições bancárias.
Na apresentação de lançamento, o presidente do Banco, Roberto Campos Neto, frisou a centralidade desta questão para o próprio sistema financeiro, conforme também destacou Fernanda. “O tema ambiental é extremamente importante e desperta grande interesse da sociedade. A questão ambiental definitivamente entrou na ordem do dia”, completou.