Educação Financeira

Conheça a história de Naji Nahas, o homem que quebrou a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro

5 Minutos de leitura

A história da Bolsa de Valores no mundo não é pouco menos que farta, desde episódios que descrevem uma bolha econômica envolvendo bulbos de tulipas e grandes embarcações sendo financiadas por grandes comerciantes na Holanda.

Os diversos episódios que englobam a história do mercado financeiro, por mais simples que sejam, servem como aprendizado e exemplo sobre como fragilidades, antes muito frequentes no mundo econômico, vão se solidificando com o tempo.

Mesmo assim, grandes histórias como a Tulipomania servem como base para compreender complexos fenômenos financeiros que acarretam em uma bolha, por exemplo.

A história das Bolsas também conta com nomes consagrados do mercado financeiro, que encontraram oportunidades em grandes volatilidades. É o caso de Naji Nahas, especulador que quebrou a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro no início dos anos 2000.

Abaixo, conheça a história do temido player do mercado financeiro.

Breve história da Bolsa de Valores brasileira

A história da Bolsa de Valores no Brasil se iniciou em 1817, menos de duas décadas depois da abertura da Bolsa de Nova Iorque, a New York Stock Exchange (NYSE). Naquela época, as primeiras bolsas eram localizadas em Salvador e no Rio de Janeiro.

A própria Bovespa teve origem em 1967, em São Paulo, após a transferência da Bolsa Livre, criada em 1890, para o Palácio do Café, localizado na grande São Paulo.

Como abordamos no nosso material sobre a história da Bolsa de Valores, a bolsa brasileira sofreu uma verdadeira reforma no início dos anos 2000. Na virada do milênio, existiam nove bolsas brasileiras, das 27 que existiam em 1966 controladas por todos os estados da federação.

Posteriormente, após outra série de fusões, a Bolsa de Valores brasileira se tornou a B3 em 2017, balcão que todos conhecemos hoje.

No meio disso tudo, pouco antes da Bolsa do Rio de Janeiro fundir-se com a de São Paulo, está o empresário libanês Naji Nahas, que muitos consideram como o grande responsável pela queda da BVRJ.

Quem é Naji Nahas?

Naji Robert Nahas, assunto deste material de hoje, tem origem do Líbano, onde nasceu em 1947.

O empresário se mudou com a família para Cairo, no Egito, onde ficou até 1969, quando veio ao Brasil junto a uma fortuna de US$ 2 milhões (cerca de US$ 50 milhões atualmente) deixada pela família.

Mas antes mesmo de pisar em solo brasileiro, Naji Nahas era conhecido por ser envolvido com os irmãos Hunt, conhecidos por possuírem monopólio do comércio de prata nos Estados Unidos. Neste caso, Nahas era uma espécie de intermediário entre os Hunt e a família real saudita.

O início dos investimentos de Nahas no Brasil iniciou-se na Bolsa do Rio de Janeiro (BVRJ) em 1980. Mas antes disso, o empresário montou um conglomerado em solo brasileiro, contando com empresas, bancos, seguradoras e uma fazenda de criação de coelhos.

Libanês vai às compras na Bolsa

Durante os anos 80, Naji Nahas criou interesse nas bolsas da Vale e Petrobras na BVRJ, detendo 12% e 7% das ações das estatais, respectivamente, com a compra e venda de ações.

Nahas fez diversas e complexas operações no mercado financeiro, multiplicando sua fortuna na Bolsa de Valores.

De forma resumida, em 1988, Nahas comprava um certo número de opções D+5 (vencimento para daqui 5 dias) na Petrobras, quando elas estavam em baixa. Por se tratar de um mercado pouco líquido, pequeno, restrito e com pouca regularização, ele conseguia comprar ações da companhia através de outras empresas em seu nome, facilmente alavancando o valor por ação.

Em um certo movimento de opções, Nahas conseguiu lucros de 400% investindo apenas na Petrobras. A BVRJ chegou a subir 2500% em 1988.

A situação começa a favorecê-lo ainda mais quando outros investidores começam a comprar ações da mesma companhia, acompanhando os movimentos de Nahas e impulsionando mais ainda o valor.

Para realizar essas operações, Nahas fazia empréstimos milionários com bancos, possíveis por conta do nível de confiança do empresário, e com o uso de laranjas e corretoras. As operações eram ilegais, e diretamente influenciavam o mercado.

É importante dizer que a alavancagem de valores de ações na Bolsa consumiria uma quantidade gigantesca de dinheiro hoje em dia. Naquela época, o empresário libanês conseguia fazer isso porque a BVRJ era muito menor que a B3 de hoje em dia.

Foto: VEJA

O início do fim da BVRJ

As operações de Nahas na Bolsa eram ilegais, e estavam na mira de reguladores há um tempo. Mesmo que até o momento a BVRJ não tenha quebrado, as operações continuavam sendo de alto risco.

Conforme o tempo foi passando, o nível de desconfiança no empresário aumentou. Não era uma situação fácil de se ignorar, visto que a BVRJ era pequena, e todos conheciam Nahas.

Cientes do que estava acontecendo, os dirigentes da Bovespa convenceram os bancos a pararem de fornecer empréstimos à Nahas, operação necessária para o empresário conseguir manter seus lucros altos.

Fatalmente, isso culminou nos acontecimentos do dia 9 de junho de 1989, quando os milhões em cheques do libanês ficaram sem fundo.

Isso, somado a cobertura jornalística, que rendeu uma reportagem no Jornal Nacional da época, causou um verdadeiro pânico na BVRJ, com investidores vendendo muitas ações ao mesmo tempo. Como consequência óbvia, as bolsas começaram a cair em um ritmo acelerado.

A queda da Bolsa do Rio de Janeiro ainda foi adiada em um dia, pois a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) interviu, interrompendo as operações, esperando frear a queda brusca.

Mesmo com as tentativas, o destino da Bolsa, que já era decadente, foi selado. A partir dos anos 2000, as negociações de ações foram transferidas para a Bolsa de Valores de São Paulo.


Saiba mais

Conheça a história, a função e a importância da CVM


Consequências legais

Imediatamente após o acontecimento, Naji Nahas, além de ter sido multado pela CVM, foi indiciado pela Polícia Federal (PF) pelos crimes de estelionato e contra o Sistema Financeiro Nacional (SFN).

O especulador chegou a ficar preso em domicílio, mas foi absolvido em 2007 pela Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2).

Nahas ainda entrou com processo contra a a B3, exigindo danos materiais e acusando o presidente da Bovespa da época, Eduardo Rocha de Azevedo, de golpe às suas fortunas.

O especulador ainda acumula polêmicas recentes. Em 2008, chegou a ser preso, e liberado logo em seguida, após operação que investigava desvio de dinheiro público.

Em 2019, a justiça dos EUA começou a investigar as contas de Naji Nahas no exterior. Segundo suspeitas, ele teria recebido mais de US$ 45 milhões em um esquema de propinas envolvendo a Telecom Itália.

Atualmente, o famoso especulador libanês está com 73 anos.

Foto: Folhapress / Reprodução

Juan Tasso - Smart Money

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