O famoso cafezinho nas primeiras horas da manhã é considerado um alimento essencial na mesa do brasileiro. De acordo com uma pesquisa da Euromonitor International, em 2020, se todos os brasileiros tomassem café, o volume seria de duas xícaras da bebida por dia (826 por ano). Per capita, o consumo é de 4,79kg anualmente.
Nos últimos meses, porém, o alimento essencial acabou pesando mais no bolso do brasileiro, que começou a procurar por alternativas para tentar evitar a alta severa nos preços. A troca de marcas por pacotes mais baratos, por exemplo, é uma das opções mais populares.
De acordo com dados do Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), embora o café moído tenha encarecido em apenas 2,51% em fevereiro, o produto ficou 61,19% mais caro se considerarmos o acúmulo dos últimos 12 meses.
Em 2022, o café moído já subiu 7,38%, sendo que em algumas capitais o aumento foi acima de 10%.
Abaixo, acompanhe a alta nos preços do café moído considerando a taxa anual:
Considerando os mais de 450 itens que compõem o índice da inflação oficial brasileira, o café é o segundo no ranking das maiores altas. Perde apenas para a cenoura, que subiu 83,42% nos últimos 12 meses.
O café faz parte da extensa lista de alimentos que ficaram mais caros nos últimos meses. Apenas 4 dos 15 itens que mais ficaram caros nos últimos 12 meses não são produtos alimentícios.
De acordo com especialistas, a tendência é que o café continue em tendência de alta nos próximos meses. Afinal, o que explica essa alta severa nos preços?
Assim como outros alimentos que compõem o índice do IBGE, o café foi duramente impactado pelas secas e geadas que marcaram o ano passado. As geadas, especificamente, atingiram em cheio a região sudeste, prejudicando plantações em Minas Gerais e São Paulo.
Segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), as geadas e o período de seca já prejudicaram as safras que foram colhidas em 2021, mas deve impactar também as safras que serão colhidas em maio deste ano.
Além dos problemas climáticos, o produtor de café brasileiro enfrenta uma demanda altíssima no mercado internacional, considerando que o Brasil é o maior exportador da bebida. Isso não só impacta as cotações da commodity, mas os preços que o consumidor brasileiro encontra nos supermercados.
Por fim, 2021 foi um ano de bienalidade negativa. Em termos práticos, isso significa que as safras são bastante positivas em um ano, enquanto o próximo é marcado pela produtividade mais baixa. Por isso, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta que a produção brasileira de café subirá 16,8% em 2022. Os números, porém, de 55,7 milhões de sacas de 60 quilos, caso sejam confirmados, vão ser menores que os dois últimos anos de bienalidade positiva.
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As dificuldades que atingem o produtor brasileiro também impactam a indústria e comércios, que precisam pagar mais por saca de café. No caso de cafeterias, por exemplo, a dificuldade é conseguir segurar os preços para não perder a clientela, já que os preços inevitavelmente sobem, mas não refletem integralmente a alta nos custos. Quando isso acontece, as margens de lucro são reduzidas.
A situação do café brasileiro já acendeu um alerta na Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Segundo a associação, o número de ocorrências de impurezas nos pacotes de café deve aumentar, atitude que pode desencadear na redução do consumo nos anos futuros.
Segundo a Abic, os níveis permitidos de impurezas, ou seja, outras substâncias encontradas nos pacotes de café dos supermercados, são de até 1%. A associação, porém, já encontrou pacotes contendo níveis acima de 5,5%, apontando para uma redução na média da qualidade do café brasileiro.