A pandemia do novo coronavírus está impactando diretamente no setor imobiliário. Com a inadimplência e vacância em alta nos setores comercial e residencial, a aplicação automática do reajuste com base no Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) tornou-se inviável.
Em razão da alta do dólar, o IGP-M disparou nos últimos meses, acumulando uma alta de 18% nos últimos 12 meses (até setembro/2020). Em meio à crise proporcionada pela pandemia, porém, o medo dos locatários de perder a receita vinda dos aluguéis pesou para que o reajuste não fosse aplicado, mantendo ou até mesmo reduzindo os preços dos aluguéis.
Segundo estimativas da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC), cerca de 25% dos imóveis disponíveis para locação na cidade de São Paulo estão vagos. Antes da pandemia, a taxa de vacância estava em 18% e em viés de queda. Em um cenário como o atual, o contexto é de negociação, com locatários forçados a ceder em pontos que, anteriormente, eram praticamente automáticos para conseguir manter os imóveis ocupados e diminuir os impactos da pandemia em suas receitas.
Em entrevista ao jornal Estadão, Bruno Oliva, coordenador de pesquisas da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), afirmou que, embora amplamente utilizado, o IGP-M não reflete a realidade do mercado em todos os casos, e o cenário de pandemia é uma dessas exceções. “É um índice composto por diversos itens, de preços ao consumidor final (as famílias) e custos de material de construção até insumos industriais.”
Puxado pelas altas nas taxas cambiais, o IGP-M se desprendeu da realidade do mercado interno brasileiro nos últimos 12 meses, segundo Oliva. Justamente por essa disparidade, o contexto em momentos como esse valoriza a importância das negociações no momento de fechar um contrato de aluguel.
De acordo com a Quinto Andar, startup do setor imobiliário, a pandemia aumentou a diferença entre os valores pedidos por locatários nos anúncios e os valores fechados nos contratos de aluguel. Antes da pandemia, o locador conseguia, em média, 3,27% de desconto no valor final do aluguel. No Rio de Janeiro, esse percentual saltou para 13,5% com a pandemia de COVID-19.