Educação Financeira

Do papel ao algoritmo: conheça a evolução dos pregões na Bolsa de Valores brasileira

6 Minutos de leitura

O mercado de Bolsa de Valores certamente não era como é nos dias de hoje. Atualmente, estamos ouvindo falar cada vez mais sobre day traders e robôs que fazem operações automatizadas nas Bolsas, tecnologias impensáveis a décadas atrás.

A história das negociações em Bolsas antecede até mesmo o uso de telefones. Quando as primeiras negociações de ações começaram a surgir, elas bancavam grandes navegações na Europa, em uma época em que a Coroa não queria arriscar o dinheiro com aventuras de risco.

Do papel ao algoritmo, a evolução dos pregões na bolsa nos ajuda a apreciar mais essa grande época tecnológica que vivemos, onde não precisamos gritar em um salão com mais de 1500 pessoas para realizar negócios.

Muito antes das bolsas de São Paulo e Rio de Janeiro existirem

Muito antes do surgimento da Bolsa de Valores de Nova Iorque (NYSE), o mundo econômico contou com várias outras instâncias de Bolsas, bem diferente das que conhecemos hoje.

Primeiramente, para uma Bolsa de Valores de fato existir, você precisa que exista algum tipo de polo econômico algum lugar. Sem que exista o interesse de investidores no comércio local, um lugar cujo objetivo é negociar participações fica inviável.

O primeiro registro de algo minimamente parecido com a Bolsa de Valores surgiu nos anos 1530, na cidade de Antuérpia, na Bélgica. Lá, ações e títulos não eram negociados, mas empréstimos já eram concedidos.

Oficialmente, a primeira Bolsa de Valores surgiu em 1602, pouco depois da Guerra Luso-Holandesa. Nessa época, a Bolsa de Valores em Amsterdã nasceu.

A ideia da Bolsa era dar a oportunidade a empresários e detentores de fortunas a financiarem grandes embarcações, em troca de fatias das companhias. Nessa época, a Coroa pouco tinha interesse em financiar aventuras de alto risco.

As embarcações aconteciam graças ao financiamento, e após longos períodos de tempo, os investidores ganham parte dos ganhos.

Neste caso, ninguém precisa dizer que as negociações de ações de companhias, que podiam ser compradas e vendidas, aconteciam na base do papel.

Muitas outros eventos marcam a história entre esse período e a criação de Bolsas de Valores mais modernas. Episódios como a Tulipomania nos ajudam a entender o complexo mundo das negociações de ações, que não eram super estáveis a centenas de anos atrás.

Foto: Bovespa

O início das negociações no Brasil e o pregão viva-voz

No Brasil, em 1817, as primeiras Bolsas de Valores começaram a surgir no Brasil. Segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o país chegou a ter nove bolsas operando em um determinado momento da história.

Nós já contamos como as bolsas brasileiras posteriormente se fundiram na B3 após uma série de fusões no nosso material sobre o tema. Para o texto de hoje, a relevância fica para como as ações eram negociadas nos antigos pregões, e como tudo isso foi parar no sistema eletrônico.

Muito antes do surgimento dos sistemas eletrônicos, as bolsas brasileiras eram uma verdadeira gritaria. Trata-se do pregão viva-voz, sistema que operava nas Bolsas de Valores brasileiras até o fim dos anos 90.

De forma resumida, as negociações aconteciam de forma verbal e pessoalmente. Já imaginou caos?

Pelo menos 1500 operadores trabalhavam na Bovespa diariamente, fechando negócios verbalmente, e tentando compreender o cenário econômico conforme as notícias corporativas chegavam.

Engana-se quem acha que grandes detentores de fortunas gritavam no salão da Bovespa. Na época, as corretoras contratavam operadores, que ganhavam seu salário no final do mês, mas não tinham condição financeira para movimentar grandes quantidades de dinheiro nas compras de ações.

A dinâmica era tão caótica que um verdadeiro dialeto próprio foi usado durante muito tempo na Bovespa. Quando você escutava alguém gritar “bate”, já sabia que essa pessoa estava vendendo. No caso de “toma”, a pessoa estava comprando.

As desvantagens são fáceis de serem identificadas: pouca segurança, instabilidade e baixa eficiência.

Embora a evolução para um formato digital fosse inevitável, a transição do modelo do grito para o eletrônico foi gradual, contando com diversas implementações nas Bolsas de Valores até o fim oficial do pregão viva-voz.

Fonte: Bovespa

Mega Bolsa e o início das negociações eletrônicas

Antes da migração para um sistema 100% eletrônico, a Bovespa passou por um formato de negociação de ações chamado de Mega Bolsa. Esse sistema foi implementado de forma oficial em 1997.

O grande avanço desse tipo de sistema de negociações de opções foi a expansão do volume de informações processadas diariamente, levando para um sistema eletrônico que podia ser acessado por todas as corretoras.

Os comandos de compra e venda de ações também começaram a ser executados de forma online, começando, mesmo que lentamente, a substituir o sistema de viva-voz.

Embora os avanços para o formato eletrônico começaram a acontecer desde os anos 1970, com a criação do pregão automatizado, que compila informações em tempo real através de uma rede de computadores, a Mega Bolsa foi considerada revolucionária por justamente colocar o Brasil no rumo do comércio eletrônico.

Mesmo assim, avanços nesse sentido já aconteciam no mundo. Em 1971, nascia o primeiro pregão eletrônico do mundo: a NASDAQ, nos Estados Unidos, que trouxe, além desse modelo prático, modernizações no sistema de oferta pública inicial (IPO).

O fim da década de 90 também é marcado pelo lançamento dos serviços de home-broker e after-market pela Bovespa.

Foto: EXAME

O fim do viva-voz e a implementação da PUMA

O pregão viva-voz sobreviveu até 2009, e foi extinto graças à fusão da Bovespa com a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).

A Bovespa acabou com o pregão viva-voz em 2005, migrando para um sistema 100% eletrônico. Com a fusão das Bolsas em 2008, a data para o fim do sistema de grito ficou marcada para o dia 01/07/2009.

Após a transição, o mundo econômico é marcado por diversas inovações tecnológicas, possibilitando a expansão das bolsas, facilitando a entrada de investidores no ramo, e aumentando cada vez sua importância na economia brasileira.

Uma das mais importantes inovações do mercado é a implementação da Plataforma Unificada Multiativos Trading System (PUMA), funcionando de forma completa em 2013 na B3.


Saiba mais

Conheça a história de Naji Nahas, o homem que quebrou a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro


De acordo com a própria B3:

“Clientes da B3 demandam cada vez maior previsibilidade, liquidez, e resiliência dos ambientes de negociação. Alavancando a expertise técnica e funcional de sua equipe, a B3 fornece o PUMA Trading System: uma plataforma que reúne riqueza de funcionalidades, gerenciamento de risco ímpar no mundo, e excelência operacional para que seus clientes possam operar com segurança”.

A principal característica do sistema é a unificação completa dos outros quatro sistema operacionais que existiam na época: o Mega Bolsa, SisBex (títulos públicos), Global Trading System (GTS) e Bovespa Fix (renda fixa).

Assim como no Mega Bolsa, a implementação da PUMA promove uma agilidade no processamento de informações, principalmente considerando o alto número de investidores que a B3 possui atualmente.

Inovações recentes e o futuro do mercado financeiro

Agora 100% no formato integrado e eletrônico, as negociações na Bolsa de Valores brasileira abre caminhos para o desenvolvimento de softwares poderosos que facilitam não só a compra, mas o estudo das bolsas.

Entre as inovações mais recentes estão os robôs trader. Com o uso de algoritmos e machine learning, o sistema automatizado, mas 100% personalizável pelo usuário, faz operações na Bolsa de acordo com seu perfil de investimento. 

Não se trata de prever o futuro, e sim de análises em tempo real e milhões de processamentos acontecendo por segundo.

Outra possibilidade moderna é a de negociação de ações sem sair do conforto de casa. Hoje em dia, qualquer investidor pode realizar operações em tempo real com o uso de aplicativos, e ver resultados instantâneos.

O futuro não é fácil de ser previsto, mas a famosa rotina de home broker deve crescer cada vez mais.

De acordo com dados da B3, o número de CPFs cadastrados subiu em 92,1% só em 2020, e produção de conteúdo para a internet, como vídeos no YouTube sobre finanças e operações na Bolsa, estão cada vez mais populares. É por isso que, embora atraente, a cautela é sempre importante, pois tudo que se torna popular eventualmente atrai charlatães e pessoas mal instruídas.

De qualquer forma, a evolução que a Bolsa de Valores brasileira presenciou desde os anos 90 é estrondosa. Nos faz pensar em como vai estar a B3 daqui a 10, 20, 30 anos.

Foto: Bovespa / Reprodução

Juan Tasso - Smart Money

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