Você sabe o que são moedas digitais?
De modo simples e direto, uma moeda digital é aquela que foi criada e armazenada de modo virtual. Imediatamente, você pode ter se lembrado das criptomoedas, como o Bitcoin e Dogecoin, ativos que não saem das manchetes de revistas.
As chamadas crypto já estão em circulação a algum tempo e são conhecidas pela alta volatilidade. São distribuídas de forma segura, na blockchain, e anônima, sem possibilidade de rastreamento.
É por isso que quando noticiamos sobre ataques ransomware, por exemplo, como os que afetaram os servidores da JBS recentemente, os hackers geralmente pedem valores de resgate em Bitcoin. Trata-se de um método seguro de receber valores sem que a identidade seja revelada.
Porém, as famosas criptomoedas vão deixar de ser as únicas moedas digitais populares do mercado financeiro. A tendência para a próxima década é que países desenvolvidos lancem suas próprias moedas digitais, extensões dos velhos papéis moeda.
A China é a primeira potência mundial que já está conduzindo testes de sua própria moeda digital, o yuan digital. Isso já acendeu uma luz vermelha nos Estados Unidos, já que a nova aposta tecnológica pode impactar a supremacia do dólar. Segundo o Fed, estudos sobre a implementação de um dólar digital já aconteceram.
Mais recentemente no Brasil, o Banco Central (BC) indicou que estudos para a criação do real digital já acontecem, e que o ativo digital logo deve se tornar realidade.
As moedas digitais são a mais recente revolução do mercado financeiro, como foi a transição que marcou o fim da era do ouro do mercado financeiro.
Mas o que as moedas digitais significam para o mercado financeiro? E qual é a diferença entre um yuan digital e um Bitcoin?
Saiba mais
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Blockchain
Antes de apontarmos as diferenças fundamentais entre as criptomoedas e as moedas digitais governamentais, precisamos falar um pouco sobre a tecnologia que faz tudo isso acontecer.
O Blockchain, de forma resumida, é o sistema que faz acontecer as transações digitais. A ideia do sistema foi fornecer um método seguro, eficiente e privado para enviar e receber dinheiro.
O sistema funciona da seguinte maneira: imagine que você quer enviar uma certa quantidade de Bitcoins para alguém. A informação sobre a transação é armazenada em espécies de “blocos”, cada um com sua identificação única.
Cada bloco possui uma impressão digital criptografada única, chamada de “hash”.
A transação passa por verdadeiros blocos em cadeia — por isso o nome blockchain —, cada um deles validando as informações das transações, evitando, por exemplo, o uso de um mesmo Bitcoin para duas transações diferentes.
Os blocos são mantidos por mineradores espalhados no blockchain, isto é, pessoas que emprestam o poder operacional de seus computadores para manter a rede funcionando. Por isso, esse tipo de conexão é chamada de peer-to-peer, com vários computadores interligados na rede.
No caso da rede de Bitcoins a rede é pública, mas redes privadas também existem.
No caso de Bitcoins, a moeda é descentralizada. Uma pessoa pode “minerar” Bitcoins irrastreáveis, que são validadas no blockchain.
Qual é a diferença entre um Bitcoin e um Yuan digital?
A China é a primeira grande potência mundial a testar oficialmente uma moeda digital, o eCNY, que deve ser emitido e distribuído pelo Banco Central do país asiático.
No dia 1 deste mês, o governo chinês anunciou a emissão de mais de 40 milhões de eCNY (aproximadamente US$ 6,2 milhões) em sua capital Pequim. Os sorteados ganharão uma carteira virtual com o ativo digital, com 200 eCNY cada. Eles podem transitar os ativos através dos aplicativos Mobile Banking da China e o ICBC Mobile Banking.
Diretamente, a aplicação de um ativo digital na economia de um país fortalece o poder monetário, facilita e agiliza todas as transações financeiras e desburocratiza os processos. É também um grande passo para o futuro do mercado financeiro, onde a tendência tecnológica aponta para o fim do papel moeda.
A grande diferença do eCNY para qualquer outra criptomoeda do mercado está justamente na emissão e distribuição, que é centralizada. Neste caso, é o governo do país quem controla o ativo.
Mesmo pioneiro na aplicação do ativo, o futuro é mais incerto que certo. Primeiro, há o risco de vigilância no caso de uma moeda digital muito centralizada. Existe também o risco de fraudes no sistema financeiro.
É a incerteza que mantém os Estados Unidos de fora da aplicação do ativo. Segundo o presidente do Fed, o país não tem pressa.
“Isso ajudará o público? isso tem lados negativos? terão, talvez, consequências inesperadas no sistema financeiro que precisamos balancear com os benefícios? Nós [o dólar] somos a moeda da reserva do mundo. O dólar é importante. A gente precisa fazer isso certo. Nós não precisamos ser os primeiros a fazer. Nós queremos fazer isso da maneira certa, e é isso que iremos fazer”, disse o presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed), Jerome Powell.
Mesmo assim, a liderança chinesa na implementação do ativo digital já causa preocupação quanto ao enfraquecimento do dólar ante o Yuan.
O Brasil não quer ficar de fora
Mesmo com a novidade chegando agora no sistema financeiro das grandes potências, o Banco Central (BC) já iniciou os estudos preliminares para a implementação de um real digital em um futuro não tão distante.
Segundo disse o coordenador dos trabalhos sobre a moeda digital da instituição, Fabio Araujo, em maio, o Brasil pode ter condições para a implementação de um real digital para os próximos três anos.
A moeda digital seria uma extensão da física, com a distribuição intermediada pelos órgãos do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB).
Segundo o BC, as diretrizes que envolvem a implementação da moeda digital abordam uma “ênfase na possibilidade de desenvolvimento de modelos inovadores a partir de evoluções tecnológicas, como contratos inteligentes (smart contracts), internet das coisas (IoT) e dinheiro programável”.
Além disso, as diretrizes abordam a “capacidade para realizar operações online e eventualmente operações offline; ausência de remuneração; garantia da segurança jurídica em suas operações; e a adoção de padrões de resiliência e segurança cibernética equivalentes aos aplicáveis a infraestruturas críticas do mercado financeiro”.
A moeda digital brasileira deve seguir o padrão do Yuan Digital, sendo registrada em Blockchain.
É o fim do papel moeda?
No momento, é difícil dizer que o dinheiro físico sairá de circulação, mas é certo dizer que a tendência para o mercado financeiro das próximas décadas é de simplificar e modernizar os processos.
Em um futuro não muito distante, sim, os papéis moedas podem se tornar obsoletos.
Atualmente, já contamos com tecnologias que buscam nos desprender do papel físico, como o home banking e home broker, colocando o dinheiro em um nível de abstração cuja representação física se torna cada vez menos importante.
Agora, com as moedas digitais, o mercado financeiro dá um grande passo para um mundo 100% tecnológico, eficiente e seguro.