Entrevistas

Com agilidade e eficiência, startups se mostram essenciais para a consolidação do mercado ESG 

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Não é segredo nenhum que as marcas internacionais estão cada vez mais olhando para iniciativas governança ambiental, social e corporativa (ESG, na sigla em inglês). O mercado para companhias que se posicionam de maneira mais sustentável e com proposta de maior impacto social está crescendo globalmente.

Esse cenário faz com que grandes empresas busquem cada vez mais acompanhar esse movimento, que é uma demanda crescente entre os consumidores. Para isso, é necessário investir nessas iniciativas de uma assertiva, alinhando discurso e atuação. 

Investir em ESG pode ser um processo complexo para grandes companhias, que dificilmente mudaram drasticamente de forma rápida. Com isso, cada vez mais se buscam soluções para acompanhar o mercado ESG de uma forma eficiente e prática. 

Nesta semana, a Smart Money conversou com Douglas Lopes – CEO da Incentiv.me. A startup é mais uma das empresas que busca ajudar no crescimento do cenário ESG, oferecendo ferramentas para todas as etapas do processo de financiamento de iniciativas ESG, desde mapear leis de incentivo e possíveis oportunidades até monitorar métricas dos projetos executados. 

O CENÁRIO ESG NO BRASIL 

As políticas ESG evoluíram consideravelmente nos últimos anos aqui no Brasil. Os conceitos de sustentabilidade, governança e impacto social não são novos, mas ganharam muito espaço no mercado a nível global. 

Esse movimento, naturalmente, acabou também ganhando relevância no cenário brasileiro. Isso tudo porque os consumidores – e, consequentemente, o mercado financeiro – estão cada vez mais exigentes com as marcas que consomem, criando uma demanda por empresa que seguem os pilares do ESG no seu dia a dia. 

“O ESG vem com uma nova perspectiva de ações relacionadas ao meio ambiente, à vertical social e também de governança que foram, de certa forma, pelo mercado financeiro – pelo mercado de investimentos”, aponta Douglas Lopes, CEO da Incentiv.me. 

Para Douglas, quando grandes fundos e o restante do mercado ‘sobem a régua’, as empresas sentem a necessidade de se adaptar para conseguir competir em um mercado que cada vez mais está olhando para indicadores que vão além dos resultados financeiros. A diferença do cenário no passado para o que vemos hoje, segundo ele, é que os pilares ESG passaram de bônus para uma necessidade. 

“Antigamente, isso era algo desejável. As empresas tinham o interesse de fazer para posicionar a marca, para ter uma imagem positiva, mas hoje em dia se tornou uma necessidade”, explica. “Por quê? Para que elas possam acessar determinadas fontes de recursos, e de investimentos, é fundamental que elas comprovem determinadas ações nessas verticais”. 

Embora tenha evoluído recentemente, o cenário ESG no Brasil ainda é muito menos maduro do que nos chamados países desenvolvidos, principalmente quando comparado com os países-membros da União Europeia (UE). Segundo Douglas, o ponto que merece mais atenção e mais precisa evoluir hoje no que diz respeito às políticas ESG é a parte da comunicação. 

O maior ruído hoje no mercado ESG está entre o que é comunicado por uma empresa. “Eu acredito que o ponto principal hoje é o que a empresa comunica – métricas e indicadores – comparado ao que ela ativamente faz”, aponta o CEO da Incentiv.me. “Como o mercado financeiro exige métricas e indicadores, todo mundo está preocupado com isso, com como se reporta as ações realizadas dentro desse contexto”. 

Mas esse não é o único obstáculo enfrentado hoje no cenário de políticas ESG. “Naturalmente surgem outros problemas. Você tem o greenwashing e o social washing, que basicamente são empresas que comunicam de uma forma equivocada uma série de ações e não tem profundidade nessa iniciativa”, explica Douglas. 

“Por isso eu acho que uma reflexão muito importante é a seguinte: a empresa que busca que busca atuar de acordo com essa vertical não tem que comunicar ESG. Ela tem que ser ESG, ela tem que de fato incorporar essas iniciativas, ela tem que mudar o seu posicionamento, mudar a cultura interna da empresa. Isso não é da noite pro dia, você tem aí empresas que mudaram de A para B da noite para o dia, é impossível que isso de fato seja feito na espinha dorsal de uma grande empresa. Isso é um processo contínuo e de médio a longo prazo”. 

Essa ‘lacuna’ entre o discurso e as iniciativas que são realmente colocadas em prática são, para o executivo, o maior obstáculo do cenário ESG no Brasil e no mundo.


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AS STARTUPS E O MOVIMENTO ESG 

Quando pesquisamos sobre iniciativas ESG ou inovações feitas no mercado em linha com essa vertical, é comum vermos. Segundo, Douglas, as startups se destacam no cenário ESG porque trazem consigo uma agilidade que não é possível em grandes companhias, principalmente considerando a velocidade em o cenário ESG cresceu nos últimos anos. 

“Você tem grandes empresas, muitas multinacionais, que se comparam a um transatlântico. Para conseguir mudar a direção de um transatlântico é muito complexo, é difícil e demorado”, explica. “As startups trazem essa agilidade em um processo de mudança muito intenso. Como que eu consigo implementar rapidamente boas práticas, de investimento social, uso das leis de incentivo fiscal?”, questiona. 

“Para uma empresa implementar essas mudanças, uma série de novos processos, dentro de casa leva muito tempo. Aí que as startups entram, pois conseguem plugar essas soluções dentro da operação de uma grande companhia, trazendo de forma ágil o valor daquela entrega”, afirma Douglas. “Buscar parceria com as startups agiliza o processo de implementação e muitas vezes reduz o custo de operação, porque as startups têm uma pegada de crescimento e de escala onde é importante ter um preço competitivo”. 

A INCENTIV.ME 

A Incentiv.me nasceu em 2016, com o objetivo de democratizar o acesso e o entendimento às leis de incentivo existentes no Brasil.  

“Elas nos permitem tirar projetos sociais do papel ao mesmo tempo promovemos transparência e eficiência no uso de recursos públicos”, afirma o CEO Douglas Lopes. “Tudo isso sem nenhum envolvimento com política, gerando uma autonomia para conseguir resolver problemas coletivos através do uso dos nossos impostos de forma eficiente”. 

De lá para cá, a empresa passou por inúmeros programas de aceleração, desde programas nacionais até uma incubação no Vale do Silício, nos Estados Unidos. Recentemente, a Incentiv.me foi listada como uma das 100 startups mais promissoras do Brasil. 

Até o momento, a companhia ajudou a tirar do papel mais de 370 projetos sociais através de suas ferramentas. São cerca de 120 empresas investindo em diversos projetos por meio da Incentiv.me, movimentando um valor superior a R$ 150 milhões. 

Na empresa, existem hoje três produtos com objetivos distintos. Com a calculadora de potencial, é possível fazer um ‘raio-x’ tributário da empresa e identificar as oportunidades de uso de leis de incentivo fiscais em todos os níveis – municipal, estadual e federal. 

Trata-se de um relatório que mostra para empresa como ela pode transformar os seus impostos a pagar em iniciativas de impacto social. “Nós rodamos essa ferramenta em 120 empresas e nas 120 empresas nós encontramos potencial, ou seja, leis ainda não aproveitadas. Isso reforça a ineficiência do sistema e o quanto as leis de incentivo ainda são mal aproveitadas no Brasil”, aponta o CEO da Incentiv.me. 

A Conecta Social é outra ferramenta disponibilizada pela Incentiv.me. Ela tem o objetivo de entender os objetivos das companhias e o que ela espera de retorno em um investimento em iniciativas de impacto social. 

“Quando nos aprofundamos nesse estudo, que podemos chamar de um briefing, onde entendemos aquilo que é de valor para essa empresa, usamos de inteligência de dados e o mapeamento de mercado para fazer a triagem dessas oportunidades”, explica. A partir desse mapeamento, a plataforma consegue montar um portfólio de investimentos coerente para cada empresa. 

Durante o processo, Douglas afirma que a Incentiv.me se encarrega dos processos legais necessários para viabilizar os negócios. Assim, ele afirma que a empresa consegue dar maior segurança aos seus clientes, que têm a certeza de estar alcançando a maior eficiência fiscal possível no processo de financiar iniciativas ESG. 

A etapa final de acompanhamento é feita através da Monitore, a ferramenta mais recente no portfólio da Incentiv.me. Com a plataforma, que funciona como um software as a service (SaaS), ajuda os investidores a monitorar como estão indo seus investimentos. 

Com a Monitore Social, é possível acompanhar as iniciativas executadas pelos projetos financiados, bem como métricas e indicadores que provem (ou não) a sua eficiência. Um diferencial da plataforma, segundo Douglas, é a personalização das ferramentas de monitoramento. 

“Ela (empresa) vai conseguir acompanhar todos os entregáveis, as contrapartidas, as métricas e indicadores desses projetos. Quantos beneficiários, quantos projetos por estado, quanto que está sendo investido por – (objetivo de desenvolvimento sustentável –, quanto que está sendo investido por causa, etc”, explica o executivo. 

“Isso é muito customizado, nós desenvolvemos todo o catálogo de métricas e indicadores exclusivo para cada empresa, para que ela consiga acompanhar aquilo que é relevante para a empresa, aquilo que vai de fato enriquecer o seu relatório de sustentabilidade e o seu balanço social. Com essas três soluções, a gente consegue resolver a jornada de investimento social e de investimento incentivado”.

POR QUE INVESTIR EM ESG? 

“O nível de consciência da humanidade está maior, mas como isso reflete nos hábitos de consumo?”, questiona Douglas. “As pessoas não estão mais olhando apenas preço e produto, elas estão olhando quais são as ações daquela empresa. Elas estão avaliando o quão ética aquela empresa é, elas estão percebendo se ela é coerente ou se ela fala uma coisa e faz outra. Todos esses pontos estão cada vez mais evidentes nos hábitos de consumo”, explica. 

E para satisfazer esse novo consumidor e se adaptar ao mercado cada vez mais exigente que está surgindo, as grandes empresas precisam mudar suas estratégias de atuação. Para o CEO da Incetiv.me, cada vez será mais exigido das empresas que as verticais ESG façam parte do núcleo da empresa. 

“No futuro, empresas que não tem de fato ações socioambientais estruturadas, que não levam isso para o negócio e não têm seriedade nessa atuação, vão ficar para trás”, aponta. “Elas têm os anos e os dias contados. Principalmente quando a gente olha pra nova geração, que vem com um nível de exigência e de crítica ainda mais elevado, e realmente bate no peito e fala: ou faz direito ou eu não vou consumir”. 

“Toda empresa tem um chefe, todo CEO tem um chefe: o cliente. Sempre é necessário ter essa escuta ativa do cliente e do mercado”, explica. Douglas afirma ainda que investir em iniciativas ESG traz, no médio e longo prazo, melhores resultados para as empresas, além de posicionar a marca com mais coerência no mercado. 

Guilherme Guerreiro

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