O Iene, moeda japonesa, passou pela sua pior desvalorização desde 2015 nos últimos meses. Nesta quinta-feira (31), 1 ¥ está valendo US$ 0,8223 de acordo com dados das 14h, sendo que no dia 22/02, 1 ¥ estava valendo US$ 0,8686.
Nesse último mês, a moeda japonesa passou pelo seu pior período de desvalorização desde 2016, enviando um alerta para o mercado que enxerga a moeda japonesa como um “safe haven” (ou paraíso seguro).
Em resposta à desvalorização da sua moeda nacional, o Bank of Japan (BoJ) anunciou que aumentará o ritmo de compra de títulos para os próximos três meses para tentar cumprir com suas metas monetárias apesar das pressões na moeda oficial.
O momento também é de desgaste para Haruhiko Kuroda, atual presidente do BoJ. Kuroda, que completará nove anos no cargo em abril deste ano, é conhecido por construir uma moeda nacional forte.
No seu ano final, segundo uma reportagem da Reuters, é improvável que o BoJ faça mudanças drásticas na política monetária do país. Um cenário que provocaria grandes alterações na política monetária teria mais relação com a inflação do país, que por enquanto não parece ser um problema.
Apesar da solidez do mercado japonês, economistas reagem de forma negativa o fato do governo japonês intervir no mercado pela primeira vez desde a crise asiática dos anos 90. No lado do setor comercial do país, varejistas dizem que estão saindo prejudicados pelo desempenho da moeda.
Um mercado drenado
Para o Economista Chefe da Frente Corretora de Câmbio, Fabrizio Velloni, é importante compreender em um primeiro momento como o Iene valorizou-se de forma intensa durante a pandemia.
“O Iene teve uma alta muito forte durante a pandemia, justamente por ser uma moeda muito sólida”, diz Fabrizio. “Até mesmo porque a economia norte-americana passava por turbulências, considerando as eleições por lá e problemas internos”.
Além disso, os BRICS, por exemplo, bloco que compõe o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, passavam por problemas de desconfiança do mercado internacional. O resultado é uma alocação mais forte para o Iene, visto como mais sólido pelo mercado.
Após o período mais intenso da pandemia, mercados emergentes, como o Brasil, ficaram um pouco mais atrativos:
“Além dos mercados emergentes, considere os EUA, com aumento de juros, recuperação do consumo e mercado de trabalho, aquele ganho registrado pelo Iene acabou sendo drenado”, afirma Fabrizio Velloni.
O Economista Chefe ainda aponta que com o aumento de juros nos EUA, o investidor mais conservador começa a virar os olhos para o Dólar, com o foco em rendimentos em renda fixa.
Para alguns economistas, os efeitos que prejudicam o desempenho do Iene talvez não sejam tão temporários como previsto anteriormente.
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É o fim do “safe haven”?
Para Pâmela Taubner, head de câmbio na SM Open Bank, é improvável que a atual desvalorização do Iene configure como um problema mais grave na economia japonesa:
“Dependerá de como o governo atuará”, diz ela. “Justamente por serem conhecidos como sólidos e conservadores, eu acho difícil um problema grave, afinal, qual país não enfrentou volatilidade drástica em sua moeda frente ao Dólar?”.
Para a head de câmbio, a intervenção do BoJ deve ampliar ainda mais a diferença entre os juros do Japão e as taxas nos Estados Unidos, que começaram a subir em março devido às pressões inflacionárias.
“Além da divergência de política entre os dois países, o crescente déficit comercial japonês, que se deve em parte ao salto nos custos de importações de petróleo e matéria prima, está ajudando a enfraquecer o iene”, ressalta ela.
Embora a moeda do país esteja passando por problemas, o Japão ainda é considerado uma das economias mais sólidas do mundo, com taxas estáveis de inflação e crescimento econômico.
“O futuro é difícil de prever”, diz Pâmela Taubner. “Mas sim, tudo pode mudar considerando possíveis acontecimentos que impactam a economia global, como a pandemia de COVID-19 e guerra na Rússia”.