Entrevistas

“Um dos primeiros itens que as pessoas sentem que piorou com a pandemia foi a comunicação”, aponta especialista em comunicação estratégica

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Alinhar a comunicação interna e externa é um dos maiores desafios que uma empresa pode enfrentar atualmente. Com distanciamento social e a internet cada vez mais presente nas nossas rotinas, inclusive de trabalho, essas questões acabam ficando ainda mais intensas. 

Mas como uma empresa pode superar esses obstáculos e criar um ambiente de trabalho melhor para seus colaboradores e ainda entregar um produto/serviço de maior qualidade aos seus clientes? 

Na nossa entrevista exclusiva desta semana, conversamos com Bruna Lovato, especialista em comunicação estratégica e branding. Bruna compartilhou as dores que a fizeram criar a sua empresa, os principais desafios e o que uma boa comunicação pode fazer pelo seu negócio. 

A ENTREVISTADA 

Bruna Lovato é formada em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas e com especialização em Estratégias de Marketing e também em Negócios pela Ohio University. Trabalha na área da comunicação com foco em branding, endocomunicação, comunicação interna e diversas outras áreas de atuação. 

Está no mercado há 15 anos, passando por diversas áreas e empresas do setor de comunicação. Hoje, tem a sua própria empresa, a Bruna Lovato Comunicação e Branding. 

A EMPRESA 

Bruna percebeu no mercado que as empresas focam muito na comunicação externa. Com isso, ela notou que a comunicação interna das empresas acaba, com frequência, sendo deixada de lado. 

“Muitas vezes (as empresas) acabam esquecendo que precisam olhar internamente, precisam olhar para suas equipes, para suas pessoas. Essa comunicação precisa estar alinhada porque se não tem coisa que é falado e o que acontece dentro das empresas acaba não fechando com o que é vendido”, aponta. 

Segundo Bruna, a comunicação interna nas empresas acaba sendo feita “do jeito que dá” e isso, para ela, reflete diretamente no desempenho dos funcionários e consequentemente nos resultados da empresa. 

“Com a pandemia, essa questão cresceu ainda mais. Um dos primeiros itens que as pessoas sentem que piorou com a pandemia foi a comunicação e foi por isso também que eu resolvi criar a minha empresa”. 

Para Bruna, a sua empresa se destaca exatamente pela gama de serviços. Diferente de uma agência ou uma assessoria de imprensa, ela resolveu criar um negócio com uma gama de serviços mais estreita, com objetivo de atacar dores específicas dos clientes. “A gente não faz todos os serviços que muitas vezes as agências fazem, para focar na questão da comunicação e do branding”, explica. 


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OS SERVIÇOS 

Em um primeiro momento, é feito o mapeamento de tudo que está acontecendo dentro da empresa que contrata os serviços, com objetivo de entender os processos, o que está dando certo e os potenciais gargalos na rotina. Com isso, são sugeridos pontos de melhoria, sucedidos pela apresentação de um plano estratégico e acompanhamento dos processos à medida que eles são executados. 

“Eu brinco que é diferente de uma consultoria tradicional, onde o consultor entra e não tem data para sair. A minha ideia é justamente o contrário, treinar essas pessoas, qualificá-las, procurar as ferramentas, alinhar o que for necessário para que depois, com tudo isso estruturado a empresa caminhe com as próprias pernas”, aponta. Esse serviço é chamado de Estratégias de Comunicação e é considerado por Bruna como o carro chefe de sua empresa. 

A Bruna Lovato Comunicação e Branding ainda oferece serviços de treinamentos, feitas a partir da realização de oficinas. São dois focos para os treinamentos: os processos de comunicação da empresa e a área de branding. 

Na comunicação mesmo, são feitos treinamentos tanto pra gestores quanto para equipes como um todo explicando quais são os principais canais de comunicação, como que a gente identifica problemas, o que fazer com esses problemas”, explica. 

O outro serviço de treinamento é na área de branding. Segundo ela, a empresa já precisa ter um nível maior de organização e de noção de comunicação para realizar os treinamentos de branding. 

“São aquelas empresas que já sabem a importância (da comunicação), que já praticam a comunicação, que já tem bem estabelecidos os canais e aí começam a surgir algumas questões de branding, de reputação de marca. A gente trabalha justamente isso, alertando e mostrando para a equipe quais são os riscos da marca, quais são os pontos positivos desta marca, como trabalhar a reputação e como cada pessoa da equipe é responsável pela empresa e pela marca, não somente os gestores, o dono, enfim”. 

Existe ainda o estudo de posicionamento de marca, de branding. É feito o estudo tanto para implementação de uma marca nova quanto para um reposicionamento de uma marca já existente. “Muitas vezes quando a gente cria uma empresa, uma marca, ao longo do tempo ela vai mudando e aí se mantém a mesma linguagem e canais, se esquece que o público mudou, que são personas diferentes e que a gente tem que abordar de uma forma diferentes”, explica Bruna. 

É preciso então mapear diversos pontos: quais os objetivos desta marca, aonde ela quer chegar, com quem ela vai contar para isso, quais os serviços/produtos oferecidos. 

A IMPORTÂNCIA DE UMA COMUNICAÇÃO CONSOLIDADA 

Para Bruna, o impacto de uma comunicação bem estruturada dentro de uma empresa pode ser resumido em seis itens de grande importância. O primeiro ponto para ela é que uma boa comunicação evita rumores, fofocas e afins pois a confiança das pessoas na empresa, na marca, é maior. 

E seguindo pela mesma lógica, o segundo ponto é exatamente sobre pertencimento. As pessoas entendem os processos, sabem os objetivos da empresa e se sentem parte do negócio. 

Em terceiro lugar, Bruna fala sobre a importância de se ter espaço para externalização de dúvidas. “Isso é muito importante, com a pandemia parece que a comunicação melhorou, mas pelo contrário. Muitas vezes as pessoas não conseguem se expressar, as empresas não conseguem se expressar, cada um entende o que quer e isso impacta em retrabalho, aumento de custos, atraso de prazos e uma infinidade de problemas que podem ser corrigidos pela comunicação”, explica. 

O quarto ponto é a melhora da imagem, tanto para o público interno quanto para o público externo. “Aquele profissional que trabalha na empresa vai para casa, vai para faculdade, e ele vai falar bem da empresa. Isso acaba melhorando a imagem da empresa com todos os públicos”. 

Uma boa comunicação ainda aumenta o alinhamento e a produtividade. Com todo mundo falando a “mesma língua”, as equipes conseguem entregar as demandas com maior eficiência. 

O último ponto para Bruna é o clima organizacional, que para ela é muito claramente impactado por processos de comunicação mais eficientes. “É nítida a diferença no clima organizacional. Porque muitas vezes acontece, por exemplo, de a empresa comprar uma filial e ninguém sabia disso”, aponta. Esse tipo de situação gera uma chateação dentro da equipe, que pode ser evitada a partir de processos eficientes de comunicação. 

INOVAÇÃO EM COMUNICAÇÃO 

Por fim, conversamos com Bruna sobre os principais desafios que ela encontra para inovar dentro da sua área, a comunicação. Para ela, o maior desafio é justamente a falta de comunicação e alinhamento dentro das equipes. 

“Às vezes uma equipe está pensando X e a outra equipe está pensando Y, elas pensam que conversaram e que entenderam o que cada uma deve fazer. Mas quando a gente vai ver o resultado, não está alinhado, não está conciso. E com a pandemia isso piorou bastante, porque por mais que nós estejamos online mais tempo, é uma comunicação ‘truncada’, é uma comunicação que não é completa. Em muitas vezes o olho no olho é necessário, então o principal desafio que vejo é esse. 

Outro desafio para ela é que hoje em dia existem muitos canais de comunicação e, com isso, as pessoas acabam perdendo o foco tanto na vida pessoal quanto profissional. “Às vezes a empresa tem muitos canais, é blog, e-mail, intranet, é WhatsApp, é mural. Enfim, é uma infinidade de canais, cada um comunicando uma coisa diferente com uma linguagem diferente. Essa questão de ter muitos canais acaba fazendo com que as pessoas percam o foco, o que eu sempre indico é que se estude e se analise quais são os canais que funcionam e que sejam mantidos esses canais.”, explica. 

“Às vezes o que funciona pra maioria, pra minha empresa não funciona, e tá tudo bem. A gente vai adequar para o que funciona. Se para minha empresa o que funciona ainda, como antigamente, o mural, eu vou manter isso na minha empresa”, aponta Bruna. “Mas não adianta eu querer transpor a mesma linguagem de um mural para um blog, por exemplo. Essa questão de ter muitos canais acaba fazendo isso, as informações acabam se perdendo e as pessoas também, elas não sabem para onde elas devem olhar”. 

O terceiro ponto de atenção é a falta de conhecimento sobre a importância da comunicação estratégica dentro das empresas. Para Bruna, o setor de comunicação e marketing por muitos anos ficou meio “abandonado” pelas empresas. 

“Ainda há uma resistência em verificar a importância disso, verificar quais são os resultados. Isso porque, como a comunicação é mais empírica, a gente não consegue medir através de números e isso acaba complicando um pouco porque as pessoas ainda têm uma certa resistência”. 

A falta de estratégia e linguagem adequada é outro obstáculo. “Se quer fazer muito, mas ao mesmo tempo não se entrega nada. A linguagem não está concisa, a linguagem não reflete o que a empresa é, as pessoas não entendem o que é enviado, escrito, falado, porque falta uma estratégia. Falta um olhar por trás para analisar se aquele material, se aquela ação, está de acordo com o que a empresa espera”. 

Por fim, Bruna reforça a importância da comunicação interna. Segundo ela, um erro muito comum é que as empresas dedicam muita atenção à parte externa, mas pouca atenção para os processos internos. “Isso é um dos principais enganos e hoje em dia, com redes sociais, sites e tudo mais ficou ainda mais claro a gente saber que as vezes o que uma empresa vende não é verdade. Isso é um risco enorme para a marca, um risco enorme para as pessoas que trabalham nela e para a própria empresa”. 

Guilherme Guerreiro

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