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Biden ou Trump? Alguma diferença para o Brasil e para o Ibovespa? 

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A vitória de Biden é o cenário que os mercados preferem nesse momento, manutenção de um governo já instalado. As bolsas em geral, não gostam de mudanças abruptas, ao menos que a administração presente seja muito má vista pelos agentes econômicos, o que não é o caso. A vitória de Trump por outro lado, trará volatilidade e risco para as bolsas globais. Além de ser uma nova administração, Trump aumenta o sentimento de incertezas sobre a economia e as relações bilaterais da maior economia do mundo. O candidato republicano tem sinalizado na direção de uma política econômica mais protecionista, o que pode prejudicar a exportação de alguns setores importantes de empresas mundo a fora.

Sinto por cartas e podcast de gestores americanos, que Wall Street está dividida sobre os benéficos para a economia americana a vitória de Trump. Há os gestores que se apoiam na tese acima, de manutenção, previsibilidade e menos volatilidade como a melhor opção para os Estados Unidos, e existem aqueles que concordam que Trump é maior volatilidade, mas que seria benéfico para empresas americanas sua vitória, pois o ex-presidente deve vir com um pacote de redução de impostos agressivo.

Trump lidera a corrida presidencial em cinco dos seis estados mais importantes para determinar o resultado das eleições, que acontecem somente em novembro de 2024. Os estados de Arizona, Georgia, Michigan, Nevadas e Pensilvânia até esse momento são Trump, e Wisconsin com Biden. Esses seis estados são estados chaves.

Trump sai fortalecido como nunca das primárias republicanas, venceu em todos estados até esse momento e o concorrente mais forte, governador da Flórida Ron deSantis desistiu ainda no início do pleito, e apoiou o ex-presidente. O que aconteceu no estado de Nevada foi emblemático, a justiça estadual tirou Trump da disputa, fazendo com que a única oponente Nikki Haley, disputasse sozinha. A ex-embaixadora e ex-governadora perdeu para ela mesmo, com a ausência de Trump na cédula, os eleitores preferiram votar na opção nenhum dos candidatos, 62% contra 31% de Halley.

Já Biden, enfrenta uma depressão perante o povo americano. Ele não é nem de longe um dos líderes mais queridos da história americana. Seu carisma não empolga, e nem eleitores históricos do partido democrata vão as ruas para defender o atual presidente. Opositores usam vídeos atuais e o chamam de senil e velho demais para o trabalho. Muitos analistas dizem que o presidente somente ganhou as eleições de 2020 porque as pessoas estavam isoladas, dificultando a existência de comícios frente a frente com o eleitor. É consenso entre analistas políticos, que Trump consegue virar votos no presencial, e Biden não.

Se o oponente for mesmo Biden, creio que Trump está com a eleição na mão. Noto no eleitor americano, que é mais levado em conta ao votar para presidente, o fato do candidato parecer ser forte ou empolgante do que as posições e plataforma na economia e política externa. Diversas pesquisas mostram isso também, quando questionados por que acham que um candidato é mais indicado, os eleitores citam atributos como força e decisão do que ideias. Por isso muitas vezes o candidato prefere ser polêmico, mas sair de cima do muro com opiniões fortes.

E o que mudaria para o Brasil uma vitória de Trump?

O mundo mudou desde o último ano do mandato do republicano. Uma guerra entre Rússia e Ucrânia intensificou a divisão do mundo em duas grandes alianças. EUA, Europa e Japão, contra China, Rússia e Irã.

O próprio Trump voltará diferente. Ninguém esperava sua vitória em 2020, nem ele mesmo, foi uma surpresa para todos grandes nomes do partido republicano. Trump não tinha propostas concretas, time, nem estrutura para governar. Agora seria completamente diferente, ele já tem experiência de quatro anos na Casa Branca, e o staff republicano acredita desde já na sua vitória.

O Brasil também é outro em 2024. Começando pelo palácio do Planalto, Lula é o ocupante ao invés de Bolsonaro. As diferenças políticas e ideológicas de Trump e Lula são enormes, e sim devem ter impactos negativos na diplomacia e no mundo empresarial caso o presidente brasileiro queira bater de frente. É preciso que o Itamaraty assuma uma postura pragmática afim de manter o diálogo aberto. Recentemente, alguns países do alinhamento China, Rússia e Irã foram convidados para ingressar no BRICS, cujo qual tem o Brasil como um de seus membros. Por associação, o estado americano pode entender que somos aliados desses oponentes comerciais. Além disso, somos um dos principais concorrentes dos EUA quando o assunto são produtos do agronegócio. Mais um fator que pode ser pilar para uma quebra de amizade entre as duas geografias. Trump fala em ser bastante aguerrido na política comercial, colocar uma tributação de 10% sobre importações. No lado positivo, a tendência é que ele defenda a produção de petróleo, tirando incentivo de carros elétricos e energia renovável, beneficiando o Brasil, um dos maiores produtores de petróleo do mundo.

Outra medida de Trump que irá mudar o comportamento dos investimentos no Brasil, será a direção dos juros americanos, e dependendo do que o ex-presidente fizer, como redução da carga tributária mencionada acima, estimulará a economia, fazendo com que o FED diminua o ritmo de corte de juros. Caso o FED não baixe os juros como o mercado hoje espera, a bolsa brasileira tende a ser prejudicada, em primeiro lugar porque a renda fixa americana pagará mais fazendo com que muitos investidores não queiram se aventurar em países emergentes, e em segundo porque a não queda de juros americana pode influenciar na decisão interna de queda de juros do banco central brasileiro.



Já nesse começo de ano, a vitória esmagadora de Trump nas primeiras prévias do partido Republicano, ajudou a criar um sentimento de aversão a risco, principalmente em países emergentes. Os mercados já começaram a “tradar” eleição americana. A perspectiva então, é que a volta do ex-presidente aumente esse protecionismo, impactando a China, e todos os outros emergentes junto. Vale por exemplo, uma das empresas com maior peso do Ibovespa, é dependente diretamente da economia chinesa.

Em um episódio do podcast Stock Picker de dezembro de 2023, Ruy Alves da asset Kinea, falou sobre a questão.

“Ele vai apertar todo parceiro comercial dos Estados Unidos. Ele vai trazer o ‘Make America Great Again’, tentando trazer a indústria de volta para os Estados Unidos”, diz. “A chance de ele ganhar é alta. Devemos ter, ao menos, um susto com o efeito Trump, com todo mundo falando ‘vende China’, ‘vende exportador para os EUA’. Nós já estamos nos posicionando para isso”.

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A educação financeira é uma histórica lacuna no nosso modelo de ensino, mas felizmente existem dezenas de iniciativas que trabalham para fechar esse gap, e o projeto desta coluna é mais uma delas. Temos como missão traduzir para você aquele “Economês” frequente no mercado financeiro, além de desmistificar os paradigmas mais comuns do cotidiano de um investidor. Vamos tratar de temas atuais e como eles podem impactar diretamente a maneira como você investe. Vamos propor reflexões sobre o cenário e como tirar o melhor proveito dele. Nosso intuito é trazer um ponto de vista do lado de dentro do mercado, como cada tema é tratado e discutido na frenética mesa de operações – um mundo fascinante. Estaremos aqui todas as segundas-feiras, sempre tratando do que é relevante para você e seus investimentos. Juntos vamos fazer investimentos mais inteligentes!"

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