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Cenário Macroeconômico e Desafios para 2022

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As expectativas no início do ano 2021 eram pautadas principalmente pela aceleração no processo de vacinação e pelo relaxamento das medidas restritivas. Ao longo dos meses o Brasil tornou-se uma referência global em imunização e a esperada redução das medidas restritivas que tanto impactavam a atividade, começavam a trazer benefícios no âmbito econômico e social.  

Porém esses fatores positivos foram ofuscados pela deterioração do cenário macroeconômico ocorrida no segundo semestre, motivada principalmente pelo agravamento fiscal e a combinação de inflação com juros altos. Nesse âmbito a ancoragem das expectativas de crescimento de 2022 estavam comprometidas. 

As discussões com a PEC dos Precatórios somada aos ruídos políticos aumentaram aversão ao risco no mercado brasileiro, e logo, a apreciação do dólar frente ao real é um dos principais entraves que sustentam a inflação atual. Tal impacto justifica-se em parte, pela necessidade de importação de componentes e insumos tecnológicos para indústria.  

A crise energética global colocou em xeque os discursos de inflação transitória, como os bancos centrais vinham afirmando. Nesse sentido, o tom hawkish da ata do Comitê de Política Monetária americano (FOMC) divulgado em 05/01/22, considera aceleração do tapering não só através da redução do programa de recompra dos títulos, mas uma possível antecipação do ciclo de alta dos juros para o segundo trimestre deste ano. Cabe destacar que a política monetária contracionista também já é sinalizada em alguns países da Zona do Euro e na Ásia, convergindo para uma redução da liquidez global.  

Todavia, no Brasil o processo de aperto monetário iniciado em março de 2021 para combater os riscos inflacionários, corrobora diretamente para estabilidade do PIB observada no 3T/21 e nas expectativas de crescimento para esse ano, que de acordo com o último boletim Focus é de 0,36%. A pressão na curva de juros futura vem afetando principalmente setores mais sensíveis a alta de juros, ou seja, setores como varejo pela ótica do consumo e construção civil pela elevação das taxas de financiamento imobiliário.  

Nesse contexto, um dos principais termômetros do mercado, o índice Ibovespa acumula em média -15% de desvalorização nos últimos doze meses 1. Considerando o mesmo período de análise, na composição por índices setoriais as maiores desvalorizações ficam com IMOB (índice imobiliário) com -36,61% e ICON (índice de consumo) -30,90%. Já o índice de materiais básicos (IMAT) é o único que obtém destaque positivo de 6,66%.  

O fechamento negativo do Ibovespa em 2021, se deve principalmente ao saldo deficitário do investidor institucional, que registrou no ano uma retirada de recursos da bolsa brasileira na ordem de -R$ 78,53 bilhões. Mesmo com todas as adversidades domésticas, o destaque positivo é o saldo de fluxo de capital estrangeiro na B3 que fechou o ano com superavit de R$ 70,75 bilhões. 

Em linha com o fluxo estrangeiro, os resultados corporativos divulgados até 3T/21, na média surpreenderam as expectativas em termos de geração de receita, lucro e controle de endividamento. Outro fator que reforça a melhora significativa nos fundamentos, é o recorde na distribuição de dividendos e juros de capital próprio, que no ano de 2021 já é 68% superior ao ano de 2020. 

Diante desse cenário, 2022 começa com inúmeros desafios, que passam pelo âmbito doméstico como a manutenção ao teto de gastos, necessidades de reformas, eleições e erradicação da Covid19. Do lado internacional vivemos uma dicotomia entre crescimento global, variante ômicron e retirada de estímulos econômicos, sem contar as incertezas em relação a solvência das incorporadoras chinesas. 

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A educação financeira é uma histórica lacuna no nosso modelo de ensino, mas felizmente existem dezenas de iniciativas que trabalham para fechar esse gap, e o projeto desta coluna é mais uma delas. Temos como missão traduzir para você aquele “Economês” frequente no mercado financeiro, além de desmistificar os paradigmas mais comuns do cotidiano de um investidor. Vamos tratar de temas atuais e como eles podem impactar diretamente a maneira como você investe. Vamos propor reflexões sobre o cenário e como tirar o melhor proveito dele. Nosso intuito é trazer um ponto de vista do lado de dentro do mercado, como cada tema é tratado e discutido na frenética mesa de operações – um mundo fascinante. Estaremos aqui todas as segundas-feiras, sempre tratando do que é relevante para você e seus investimentos. Juntos vamos fazer investimentos mais inteligentes!"

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