Na quarta-feira (14), o Comitê de Política Monetária (FOMC) do Federal Reserve (FED), o banco central dos EUA, anunciou de forma unânime a manutenção da taxa de juros na faixa de 5% a 5,25% ao ano, interrompendo uma sequência de dez aumentos consecutivos iniciada em março de 2022. Essa decisão está em consonância com as expectativas do mercado, que esperavam a manutenção da taxa no atual patamar – o mais elevado desde 2007. No entanto, o comunicado do FED indica a possibilidade de retomada do ciclo de aperto monetário em futuras reuniões. Diante desse cenário, qual mensagem o FED transmitiu e quais são as perspectivas para a trajetória futura dos juros nos Estados Unidos?
De acordo com o comunicado da instituição, “O Comitê está preparado para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado caso surjam riscos que possam impedir o alcance de suas metas. Indicadores recentes sugerem que a atividade econômica segue crescendo em ritmo modesto. Os ganhos de empregos foram robustos nos últimos meses e a taxa de desemprego permaneceu baixa. A inflação continua elevada”. Em relação aos dados econômicos, o PIB do primeiro trimestre de 2023, divulgado em 25 de maio, registrou um crescimento anualizado de 1,3%, superando as projeções dos analistas de 1,1%. O relatório do payroll, divulgado em 2 de junho, indicou a criação de 339 mil postos de trabalho fora do setor agrícola, superando as expectativas de abertura de 190 mil vagas. A taxa de desemprego ficou em 3,7% no mês, comparada à expectativa de 3,5%. Os dados de inflação também reforçaram a perspectiva de manutenção das taxas de juros. O índice de preços ao consumidor (CPI) aumentou 0,1% no mês de maio, com uma queda nos preços da gasolina, em comparação com o avanço de 0,4% em abril e abaixo da expectativa de alta de 0,2%. O CPI acumulou uma alta de 4% nos últimos 12 meses, o menor patamar desde março de 2021. O dado de inflação ao produtor (PPI) demonstrou uma queda de 0,3% em maio em relação a abril, uma queda um pouco maior do que o previsto pelo consenso, que esperava um recuo de 0,1%. O PPI acumulou uma alta de 1,1% nos últimos 12 meses. A manutenção de juros é uma resposta cautelosa e estes indicadores fornecem um contexto importante para a decisão do FED.
O comunicado divulgado pelo FED também destaca o compromisso do banco central americano em trazer a inflação para a meta de 2%. Além disso, a manutenção da faixa-alvo estável nesta reunião permite que o Comitê avalie informações adicionais e continue monitorando as implicações para a política monetária. De acordo com as projeções do colegiado, o FOMC prevê uma faixa de juros entre 5,5% e 5,75% até o final de 2023, o que sugere a possibilidade de mais dois ajustes de 0,25 pontos-base na taxa ao longo deste ano. Para o final de 2024, a projeção é de juros em 4,6%, seguidos por uma estimativa de 3,4% em 2025. A longo prazo, oito dirigentes do FED esperam que os juros se estabilizem em 2,50%, embora haja uma maior dispersão nas demais projeções. Em uma coletiva de imprensa após a divulgação da decisão, o presidente do FED, Jerome Powell, destacou que as expectativas de inflação estão ancoradas no longo prazo e que o banco central está atento aos riscos inflacionários. Ele ressaltou que, por esse motivo, esperam-se mais medidas de aperto na política monetária ainda em 2023. Powell enfatizou que a manutenção das taxas de juros neste momento é uma continuação do ciclo de elevação, pois não há um progresso significativo no núcleo da inflação.
Assim, os indícios sugerem que o FED pode iniciar o ciclo de cortes dos juros somente a partir do primeiro trimestre de 2024, dependendo dos dados econômicos. É importante ressaltar que o mercado tende a precificar esses eventos com antecedência. No entanto, taxas de juros mais altas nos Estados Unidos podem levar a uma valorização do dólar em relação ao real, pois os investidores tendem a buscar melhores rendimentos no exterior. Esses efeitos podem ter impactos de longo prazo, uma vez que juros elevados nos EUA indicam uma desaceleração da economia global, visto que ela é altamente dependente do dólar e da economia americana, além de tornar os empréstimos mais caros. Essa desaceleração tende a afetar o Brasil reduzindo a demanda por produtos e serviços brasileiros, mas também pode ajudar a mitigar a inflação doméstica. A próxima reunião do FED está agendada para o dia 26 de julho, quando será divulgada uma nova decisão.