A OPEP+ anunciou no domingo (02) cortes adicionais na produção de petróleo em cerca de 1,16 milhão de barris por dia (bpd), seguindo o movimento de redução já acordado em outubro de 2022 correspondente a 2 milhões de bpd, a maior redução desde 2020. Este movimento foi realizado sob o argumento de ser uma “medida de precaução destinada a apoiar a estabilidade do mercado de petróleo”, dado a recente queda dos preços da commodity ocasionada pelos temores de recessão envolvendo a crise bancária nos Estados Unidos. Mas quais os impactos desta medida e como ela está afetando o mercado?
Para começar, vamos situar os eventos. A OPEP+ é uma aliança entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), composta por Arábia Saudita, Argélia, Catar, Emirados Árabes Unidos, Equador, Gabão, Indonésia, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria e Venezuela e um grupo de países produtores de petróleo que não são da OPEP, incluindo Cazaquistão, México e Rússia. Esta aliança foi originada em 2016 com o objetivo de coordenar e regular a produção de petróleo e estabilizar os preços globais da commodity, visto que os países do tratado têm nesta fonte de energia grande parte das suas receitas. Atualmente, os países da OPEP+ correspondem em cerca de 40% da produção do petróleo bruto mundial.
Em virtude da invasão da Ucrânia pela Rússia no ano passado, os países do G7 – Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido pararam de comprar petróleo da Rússia e impuseram um teto de preço de US$ 60 por barril para as suas exportações, como forma de manter as receitas russas artificialmente baixas. A União Europeia também aplicou sanções ao petróleo russo por vias marítimas. Em decorrência destes acontecimentos, tem-se observado mudanças nas alianças globais entre Rússia, China, Índia e Arábia Saudita, uma vez que o preço mais alto do petróleo beneficia a Rússia a pagar por sua guerra contra a Ucrânia, auxilia a Arábia Saudita, um dos países líderes do grupo, a aumentar suas receitas e beneficia a China e Índia, que possuem acordos para adquirir a commodity a preços com desconto em relação ao valor praticado no mercado global.
Na sexta-feira (07), foi veiculado na Bloomberg que o Ministério de Energia da Rússia reduziu a produção de petróleo em cerca de 700 mil bpd em março. Contudo, ainda há grandes incertezas sobre qual efetivamente é a oferta russa de petróleo, dado certas inconsistências com o volume de exportações marítimas do país no período e o fato de que a Rússia havia anunciado em fevereiro que reduziria cerca de 500 mil bpd entre março e dezembro deste ano como retaliação às sanções impostas pelo ocidente e ao teto de preços imposto pelo G7. Isto é, considerando os cortes da OPEP e da Rússia, a oferta da commodity foi reduzida em cerca de 1,8 milhão de bpd.
Sendo assim, a alta recente de quase 7% (atingindo US$ 85/barril) do petróleo Brent após os anúncios de corte de produção adiciona mais uma componente inflacionária que reaquece, por um lado, os temores de uma inflação mais persistente que pode levar a novos aumentos de juros pelos bancos centrais. De fato, analisando a situação dos Estados Unidos, temos observado os dados do payroll (07) mostrando um mercado de trabalho resiliente, com a criação de 326 mil vagas de trabalho em fevereiro e de 236 mil vagas de trabalho em março e queda nos estoques de petróleo acima do previsto, com o mercado passando a precificar uma probabilidade de 66% de um aumento de 25 pontos-base no juro pelo Federal Reserve (FED) na reunião de maio. Na China, os indicadores de atividade (PMIs) dos setores industrial e de serviços também vêm mostrando expansão nas últimas leituras. Por outro lado, juros globais em patamares mais elevados podem reacender temores quanto a recessão econômica e por consequência, redução de demanda.
No Brasil, já estamos sentindo os impactos desta alta do Brent quanto à discussão sobre os preços de venda praticados pela Petrobrás, que vem sendo pressionada pelo governo para modificar a política de reajuste do preço dos combustíveis. Atualmente, a estatal trabalha com a referência do Preço de Paridade de Importação (PPI), que considera o valor do Brent, do câmbio e custos de frete dos combustíveis. Na semana anterior, o Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse em entrevista que a Petrobrás analisaria a mudança para um novo formato, baseado em custos internos de produção chamado de Preço de Competitividade Interno (PCI), após a eleição do novo Conselho de Administração que acontecerá no dia 27 de abril. Posteriormente às falas, a estatal publicou um comunicado de que não recebeu proposta do governo para mudar o PPI, contudo, as conversas seguem em andamento nos bastidores.
Em resumo, estamos com uma questão estrutural global de redução de oferta e tendência de aumento de demanda que mantém os preços do Brent acima do patamar de US$ 80 o barril. Em um cenário de queda dos preços, a sensação é de que a OPEP+ intervirá novamente nas cotações, anunciando novos cortes, a fim de resguardar os interesses econômicos do grupo. Analistas de bancos estrangeiros como UBS e Goldman Sachs, estimam que o petróleo possa chegar em US$100 em junho e US$95 em dezembro, respectivamente.