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O mercado de petróleo

4 Minutos de leitura

A OPEP+ anunciou no domingo (02) cortes adicionais na produção de petróleo em cerca de 1,16 milhão de barris por dia (bpd), seguindo o movimento de redução já acordado em outubro de 2022 correspondente a 2 milhões de bpd, a maior redução desde 2020. Este movimento foi realizado sob o argumento de ser uma “medida de precaução destinada a apoiar a estabilidade do mercado de petróleo”, dado a recente queda dos preços da commodity ocasionada pelos temores de recessão envolvendo a crise bancária nos Estados Unidos. Mas quais os impactos desta medida e como ela está afetando o mercado? 

Para começar, vamos situar os eventos. A OPEP+ é uma aliança entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), composta por Arábia Saudita, Argélia, Catar, Emirados Árabes Unidos, Equador, Gabão, Indonésia, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria e Venezuela e um grupo de países produtores de petróleo que não são da OPEP, incluindo Cazaquistão, México e Rússia. Esta aliança foi originada em 2016 com o objetivo de coordenar e regular a produção de petróleo e estabilizar os preços globais da commodity, visto que os países do tratado têm nesta fonte de energia grande parte das suas receitas. Atualmente, os países da OPEP+ correspondem em cerca de 40% da produção do petróleo bruto mundial. 

Em virtude da invasão da Ucrânia pela Rússia no ano passado, os países do G7 – Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido pararam de comprar petróleo da Rússia e impuseram um teto de preço de US$ 60 por barril para as suas exportações, como forma de manter as receitas russas artificialmente baixas. A União Europeia também aplicou sanções ao petróleo russo por vias marítimas. Em decorrência destes acontecimentos, tem-se observado mudanças nas alianças globais entre Rússia, China, Índia e Arábia Saudita, uma vez que o preço mais alto do petróleo beneficia a Rússia a pagar por sua guerra contra a Ucrânia, auxilia a Arábia Saudita, um dos países líderes do grupo, a aumentar suas receitas e beneficia a China e Índia, que possuem acordos para adquirir a commodity a preços com desconto em relação ao valor praticado no mercado global. 

Na sexta-feira (07), foi veiculado na Bloomberg que o Ministério de Energia da Rússia reduziu a produção de petróleo em cerca de 700 mil bpd em março. Contudo, ainda há grandes incertezas sobre qual efetivamente é a oferta russa de petróleo, dado certas inconsistências com o volume de exportações marítimas do país no período e o fato de que a Rússia havia anunciado em fevereiro que reduziria cerca de 500 mil bpd entre março e dezembro deste ano como retaliação às sanções impostas pelo ocidente e ao teto de preços imposto pelo G7. Isto é, considerando os cortes da OPEP e da Rússia, a oferta da commodity foi reduzida em cerca de 1,8 milhão de bpd. 

Sendo assim, a alta recente de quase 7% (atingindo US$ 85/barril) do petróleo Brent após os anúncios de corte de produção adiciona mais uma componente inflacionária que reaquece, por um lado, os temores de uma inflação mais persistente que pode levar a novos aumentos de juros pelos bancos centrais. De fato, analisando a situação dos Estados Unidos, temos observado os dados do payroll (07) mostrando um mercado de trabalho resiliente, com a criação de 326 mil vagas de trabalho em fevereiro e de 236 mil vagas de trabalho em março e queda nos estoques de petróleo acima do previsto, com o mercado passando a precificar uma probabilidade de 66% de um aumento de 25 pontos-base no juro pelo Federal Reserve (FED) na reunião de maio. Na China, os indicadores de atividade (PMIs) dos setores industrial e de serviços também vêm mostrando expansão nas últimas leituras. Por outro lado, juros globais em patamares mais elevados podem reacender temores quanto a recessão econômica e por consequência, redução de demanda. 

No Brasil, já estamos sentindo os impactos desta alta do Brent quanto à discussão sobre os preços de venda praticados pela Petrobrás, que vem sendo pressionada pelo governo para modificar a política de reajuste do preço dos combustíveis. Atualmente, a estatal trabalha com a referência do Preço de Paridade de Importação (PPI), que considera o valor do Brent, do câmbio e custos de frete dos combustíveis. Na semana anterior, o Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse em entrevista que a Petrobrás analisaria a mudança para um novo formato, baseado em custos internos de produção chamado de Preço de Competitividade Interno (PCI), após a eleição do novo Conselho de Administração que acontecerá no dia 27 de abril. Posteriormente às falas, a estatal publicou um comunicado de que não recebeu proposta do governo para mudar o PPI, contudo, as conversas seguem em andamento nos bastidores. 

Em resumo, estamos com uma questão estrutural global de redução de oferta e tendência de aumento de demanda que mantém os preços do Brent acima do patamar de US$ 80 o barril. Em um cenário de queda dos preços, a sensação é de que a OPEP+ intervirá novamente nas cotações, anunciando novos cortes, a fim de resguardar os interesses econômicos do grupo. Analistas de bancos estrangeiros como UBS e Goldman Sachs, estimam que o petróleo possa chegar em US$100 em junho e US$95 em dezembro, respectivamente. 

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A educação financeira é uma histórica lacuna no nosso modelo de ensino, mas felizmente existem dezenas de iniciativas que trabalham para fechar esse gap, e o projeto desta coluna é mais uma delas. Temos como missão traduzir para você aquele “Economês” frequente no mercado financeiro, além de desmistificar os paradigmas mais comuns do cotidiano de um investidor. Vamos tratar de temas atuais e como eles podem impactar diretamente a maneira como você investe. Vamos propor reflexões sobre o cenário e como tirar o melhor proveito dele. Nosso intuito é trazer um ponto de vista do lado de dentro do mercado, como cada tema é tratado e discutido na frenética mesa de operações – um mundo fascinante. Estaremos aqui todas as segundas-feiras, sempre tratando do que é relevante para você e seus investimentos. Juntos vamos fazer investimentos mais inteligentes!"

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