Nos últimos anos tivemos um grande debate sobre a capacidade das pessoas de tomarem decisões racionais e o efeito das redes sociais na tomada de decisões. As eleições de 2016 nos EUA e de 2018 no Brasil mostraram como as redes podem reforçar vieses políticos e, inclusive, alimentar extremismos em muitos casos.
Daniel Kahneman em seu último livro faz um estudo científico minucioso sobre a formação dos ruídos e dos vieses nas decisões humanas e uma conclusão fica clara em seu estudo, o ser humano é extremamente suscetível a tomar decisões muito falhas e os algoritmos são mais eficazes, mas não muito.
Em seu livro, Kahneman mostra um levantamento feito com cientistas sociais que buscavam encontrar a trajetória de vida de famílias vulneráveis. Este estudo foi feito com mais de 112 pesquisadores e 750 famílias e o melhor modelo preditivo conseguiu prever quem poderia ser despejado em 57% dos casos. Enquanto, um modelo estatístico simples de regressão linear conseguia prever 66%.
Apesar de uma diferença parecer pequena, não é, pois, estamos comparando o melhor entre cientistas extremamente qualificados e um modelo relativamente simples. Ainda assim, as pessoas quando questionadas preferiam seguir com o controle de suas decisões.
Este é o viés que entra no “vale do normal”, o ser humano não compreende pequenas diferenças estatísticas e tende a minimizar a importância de pequenos valores e maximizar o efeito de grandes valores. Exemplo, dada a probabilidade hipotética de um acidente acontecer seja de 20%, uma pessoa tende a assimilar este valor como algo mais próximo de 0, enquanto valores mais altos as pessoas tendem a assimilar como mais próximo de 100%.
O grande problema é que os algoritmos conseguem entender essas tendencias e direcionar as informações que as pessoas receberão de forma que elas tomem decisões de forma muito mais enfática do que seria num ambiente mais democrático.
As redes sociais diminuem a amostragem de informações diferentes que as pessoas consomem, elevando para próximo de 100% o percentual de informações viesadas e levando para próximo de zero informações que contradizem a nossa própria opinião.
Sendo assim, apesar de acharmos que tomamos decisões melhores somos extremamente vulneráveis aos algoritmos que conseguem prever melhor que nós quais decisões tomaremos e o que gostamos, mas não necessariamente o que é melhor para a sociedade pois os algoritmos não indicam nada que haja 50% de chance de você gostar, apenas o que há chances muito altas, excluindo, portanto, qualquer coisa que não seja conveniente e eliminando o diálogo, a empatia e entendimento de visões diferentes que são os diferenciais dos seres humanos.