Após um primeiro trimestre repleto de reviravoltas nas economias mundiais, teve início, na metade de abril, a divulgação dos resultados corporativos das empresas listadas na bolsa. No Brasil, o mercado financeiro volta suas atenções para esses fatos a fim de acompanhar como as medidas econômicas contracionistas realizadas para o controle da inflação realmente afetaram as empresas.
O calendário de resultados geralmente acompanhado por analistas, investidores e especuladores, neste primeiro trimestre de 2023, também chamará a atenção de economistas e governos. Após um início de ano Hawkish, a maioria dos Bancos Centrais ao redor do mundo acredita estar chegando no teto de juros, e o desempenho de suas economias, através das empresas, será um fator decisório para o fechamento da curva.
No território nacional, vivenciamos um primeiro trimestre de alta volatilidade e queda na bolsa, que recuou 2,63% em 2023, causados principalmente por incertezas políticas e pelo embate entre o novo governo e o Banco Central. Uma vez que o PT busca maneiras para reduzir os juros e aumentar os incentivos econômicos, uma temporada de balanços fracos poderia se tornar mais um argumento para o partido.
Para a XP, é esperada uma retração no lucro por ação e no lucro operacional das empresas do Ibovespa em comparação com o primeiro trimestre de 2022. O valor das commodities, em geral mais baixo, e o real mais forte frente ao dólar também devem trazer quedas na comparação para exportadores. A casa de análise da corretora espera os principais resultados positivos dos setores do agronegócio, bens de capital, shoppings, varejo de alta renda, telecomunicações, transportes e energia elétrica.
A expectativa positiva para o setor do agronegócio se dá pelo preço em que as commodities foram hedgeadas, a estimativa de uma melhora na produção devido ao clima e aos menores custos logísticos. Para o setor de bens de capital, a XP acredita em um aumento de vendas que deve favorecer principalmente Randon, Marcopolo e WEG, empresas que devem demonstrar resiliência no setor.
No setor de shoppings, os dados de vendas de janeiro a março de 2023 foram mais fortes do que no ano de 2022, e o aumento dos valores médios de aluguéis traz uma expectativa de crescimento de resultado. Enquanto no varejo de alta renda, esse aumento de vendas demonstra a resiliência do setor à queda do poder de consumo. Porém, o varejo ainda é um nicho que pode sofrer no segundo trimestre com a possível mudança na tributação de ICMS.
No setor de Telecom, a XP mantém uma visão positiva para a TIM e a Vivo, que estão consolidando sua base de clientes adquirida da OI e conseguindo aumentar os valores cobrados sem perder clientes. Em relação ao setor de transportes, a normalização da produção de carros traz uma maior previsibilidade e gerenciamento de custos e receitas, o que deve resultar em um melhor desempenho para o setor. Por fim, o setor de geradoras de energia é destacado devido a um aumento de chuvas no início do ano, que criou uma expectativa de produção acima do esperado.
Assim, a XP acredita que os resultados do primeiro trimestre de 2023 podem apresentar queda nos comparativos anuais, o que seria resultado das medidas de combate à inflação adotadas pelo Banco Central. Esses resultados mais fracos podem ser utilizados pelo governo como argumento para solicitar uma redução nas taxas de juros. Apesar dessa expectativa de queda nos resultados, alguns setores podem surpreender e se tornar alvo de novos fluxos de investimento.