Há alguns meses analistas de mercado vêm avaliando as dificuldades das empresas de varejo no Brasil, em especial o setor de eletroeletrônicos, onde algumas gigantes figuram na bolsa.
No dia 11 de janeiro deste ano essa dificuldade que já era demonstrada nos balanços das empresas veio à tona com a notícia divulgada em fato relevante pela Americanas (AMER3) depois de encontrar um rombo superior a 20 bilhões nos seus dados financeiros decorrentes de “inconsistências em lançamentos contábeis” o resultado no pregão seguinte foi devastador para ações da companhia com queda de 77% em um único dia, e que hoje já acumula mais de 90% de queda no ano.
Suas concorrentes correram para anunciar ao público que não foram impactadas pelo mesmo tipo de erro contábil e que suas demonstrações financeiras eram confiáveis.
Nessa data o cenário pareceu favorável aos competidores do setor, principalmente Magazine Luiza (MGLU3) e o agora denominado Grupo Casas Bahia (VIIA3), pois além da expectativa do início de queda de juros no Brasil ainda poderiam brigar pela fatia de mercado que a Americanas deixaria na ocasião de possíveis fechamentos de lojas.
No entanto mesmo com perspectivas melhores, as ações do varejo tiveram até aqui um ano para esquecer, onde até o momento o preço dos ativos não correspondeu a expectativa criada, no ano as ações da Magazine Luiza que chegaram a subir pouco mais de 70% em relação a 2022 agora caem quase 10%, o Grupo Casas Bahia por sua vez amarga uma queda de 70% nas suas ações em 2023, emplacando o terceiro ano seguido de quedas fortes na cotação.
Mas o que aconteceu para essa quebra tão grande de expectativas?
Muitos fatores justificam o insucesso das companhias deste setor na bolsa, mas vamos destacar três deles.
1 – Outros players “roubaram” a fatia de mercado deixada pela Americanas, destacando aqui o Mercado Livre, que apresentou crescimento de 25% no Market Share no Brasil e viu seu Lucro Líquido saltar 113% no último trimestre a nível global e suas BDR’s negociadas no Brasil acumulam quase 50% no ano.
2 – Queda de juros está sendo mais lenta e gradual do que o mercado imaginava, a resistência do Banco central justificada com dados econômicos e uma inflação insistente no início do ano fez com que os cortes só começassem a ocorrer em 02 de agosto, dessa forma o efeito positivo esperado pelos analistas que é o crescimento da demanda por produtos e a redução do custo de capital das empresas deve ser pouco perceptível em 2023.
3 – Resultados abaixo da expectativa foram verificados nos balanços até aqui, no ultimo trimestre o Grupo Casas Bahia reportou prejuízo de 492 milhões enquanto Magazine Luiza reportou prejuízo de 198 milhões, ambos pressionados pelo custo de capital devido a taxa de juros em alta.
Recentemente o Grupo Casas Bahia, fez uma oferta de ações visando aumento de capital e projetando arrecadar cerca de 1 bilhão de reais, no entanto a oferta foi precificada 27% abaixo do valor de mercado do dia anterior ao da precificação da oferta, a empresa levantou menos recursos do que o estimado, o que fez as ações também caírem para o patamar de 0,80 uma queda de mais de 30% em apenas 3 dias.
As empresas seguem confiantes na redução da taxa Selic e projetam trimestres melhores, somente a Magazine Luiza, estima que cada 1% de queda na taxa Selic gere uma economia anual de mais de 150 Milhões de reais nas suas despesas financeiras, além de uma redução na inadimplência e aumento de demanda por produtos de maior valor, destravando as vendas de fim de ano, que serão bastante relevantes para melhora do resultado anual.
A expectativa por melhoras na performance desses ativos se renovam para o próximo ano, as companhias buscam se capitalizar, e atualizar seu posicionamento de marca (Rebranding) com objetivo de recuperar o tempo perdido e voltar a performar nos níveis de pré pandemia, os analistas de mercado por sua vez esperam por dados melhores para renovarem suas apostas.