Smart Trade

Warren Buffett e análise de balanços: como identificar empresas com vantagem competitiva de longo prazo

5 Minutos de leitura

Já dizia Warren Buffett: “você precisa entender de contabilidade e deve compreender as nuances dessa ciência. Esse é o idioma dos negócios, um idioma imperfeito, porém, a menos que esteja disposto a fazer o esforço de aprender contabilidade – como ler e analisar demonstrações financeiras -, não deveria escolher ações por conta própria.”

Quem investe em renda variável já ouviu falar sobre o Warren Buffett, mega investidor norte americano que construiu fortunas em ações, mantendo ano após ano uma estratégia consistência de resultados, o que levou a ser idealizado como um “guru” do mercado financeiro. Esse artigo é inspirado no livro: Warren Buffett e a análise de balanços: como identificar empresas com vantagem competitiva de longo prazo por meio de suas demonstrações financeiras. Afinal de contas, quais são os critérios Buffett leva em consideração para fazer os seus investimentos a longo prazo?

Benjamin Graham, influente economista inglês que é considerado o precursor da estratégia “buy and hold”, e serviu de inspiração para Warren Buffett no início de sua jornada nos investimentos, identificou que no passado a grande maioria dos investidores da bolsa não davam a mínima consideração para os aspectos econômicos de longo prazo das empresas que estavam comprando, e o mercado no curto/médio prazo muitas vezes é ditado por vieses especulativos, levando o preço das ações a níveis absurdamente baixos, e são nesses momentos que Graham via uma oportunidade fantástica de ganhar dinheiro. Ele chegou também à conclusão de que se comprasse ações de empresas com cotações abaixo do seu valor intrínseco, no longo prazo, o mercado acabaria por reconhecer o seu erro e as reavaliaria para o valor justo. Essa é uma das formas de investimentos que conhecemos hoje como Investimentos em Valor.

Um exemplo de investimento bem sucedido por Buffett em 1973 foi na companhia The Washington Post, um jornal com uma vantagem competitiva durável, onde investiu cerca de US$ 11 milhões e em 2008, 35 anos depois, o seu valor cresceu para US$ 1,4 bilhão (uma valorização de mais de 12.000%). A parte mais interessante, considerando que Buffet não vendeu a sua participação na companhia, é que ele não pagou nenhum tostão sequer de imposto sobre o seu lucro.

Buffett definiu uma metodologia que considera vencedora, que lhe trouxe resultados magníficos no passado, e que ainda resultam em excelentes resultados atualmente, metodologia essa que leva em consideração três modelos básicos de negócios: empresas que vendam produtos exclusivos, prestam um serviço exclusivo, ou compram e vendem a baixo custo um produto ou serviço de que o público sempre precisa. Exemplo de uma empresa que vende um produto exclusivo e que Buffett ainda mantem posição relevante em seu portfólio é a Coca-Cola, onde por meio de processos de necessidade e experiência do consumidor, além da promoção publicitária, essa fabricante insere histórias de seus produtos em nossas mentes, e assim, nos induz a pensar neles quando vamos satisfazer uma necessidade. Essas empresas acabam por conquistar um lugar na mente do consumidor, e quando isso acontece, seus produtos nunca precisam ser modificados. A Coca-Cola vende o mesmo produto há 137 anos e muito provavelmente venderá pelos próximos séculos.

A consistência do produto é que cria a constância nos lucros das empresas. Se a empresa não precisa a todo momento lançar novos produtos, também não precisa investir milhões em pesquisa e desenvolvimento e nem terá de gastar bilhões reequipando a sua fábrica para produzir o modelo a ser lançado no ano seguinte. O resultado disso é que a companhia vai gerando reservas financeiras mais robustas, contraindo menos dívidas e ganhando poder de negociação frente a concorrência. Um movimento comum que acontece em empresas que estão com caixa financeiro bastante saudável, além de premiar os seus acionistas com dividendos e bonificações, é anunciar programas de recompra de ações – o que aumenta o lucro e a cotação de suas ações – tornando por consequência o acionista mais rico.

É por meio da análise das demonstrações contábeis que Buffett garimpa empresas com vantagens competitivas duráveis. As demonstrações financeiras podem ser de três tipos: a demonstração do resultado do exercício, o balanço patrimonial e a demonstração dos fluxos de caixa.

A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) de uma forma geral nos informa quando dinheiro a empresa gerou durante um determinado período. Os contadores das empresas tradicionalmente apresentam declarações do resultado para os acionistas a cada trimestre e ao fim do ano fiscal. Com a análise do DRE de uma empresa, Buffett pode analisar parâmetros tais como as margens das vendas, o seu retorno sobre o patrimônio líquido, a constância e direção dos resultados. As aquisições históricas de Buffett indicam que, em qualquer ano, a empresa deve ter lucro líquido anual suficiente para quitar todas as dívidas com o lucro obtido num período de três ou quatro anos. A Coca-Cola e a Moody’s, que são investimentos do portfólio de Buffett poderiam quitar todas as dívidas de longo prazo em um único ano.

Outra demonstração é o Balanço Patrimonial que é dividido em duas partes: ativo e passivo. Buffett em sua busca por empresas com vantagem competitiva durável, está procurando algumas coisas específicas nas subcategorias de cada uma das classes. Se virmos muito ativo disponível sob a forma de caixa, dinheiro em contas bancárias e valores mobiliários negociáveis, e pouca ou nenhuma dívida, é bem provável que a companhia conseguirá superar os tempos mais difíceis. Mas se está precisando muito de dinheiro e se percebe sentada sobre uma pilha de dívidas, a organização provavelmente é um navio que está afundando e que nem mesmo o mais habilidoso gestor poderá salvar. Buffett costuma dizer que fabricar um produto consistente, que não precisa mudar, significa ter lucro constante. Um produto sólido significa que você não precisa gastar montes de dinheiro modernizando seu ativo imobilizado só para se manter competitivo, o que libera muito dinheiro para outros empreendimentos rentáveis. Ele costuma dizer que a regra é simples: pouca ou nenhuma dívida no longo prazo dentro do balanço patrimonial, significa uma excelente aposta.

E por fim, a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), que foi uma criação dos contadores para monitorar o dinheiro que entra e sai do seu caixa. A DFC é divida em três sub seções:

  • Fluxo de caixa das atividades operacionais: começa com o lucro líquido e soma o valor da depreciação e da amortização. Embora de um ponto de vista contábil sejam despesas reais, a depreciação e a amortização não consomem dinheiro algum, pois representam o que já foi gasto anos antes, o resultado disso é o caixa total das atividades operacionais.
  • Fluxo de caixa das operações de investimentos: essa área aponta todos as despesas com ativos fixos feitas durante um determinado período contábil. As despesas com ativos fixos são sempre um número negativo porque representam gastos, o que acarreta em um esvaziamento do caixa.
  • Fluxo de caixa das atividades de financiamento: mede o fluxo de entrada e saída de dinheiro em uma empresa gerado por operações financeiras.

Buffett descobriu que, se uma companhia está historicamente gastando 50% ou menos do seu lucro líquido anual em despesas com ativos fixos, aquele é um bom lugar para procurarmos uma vantagem competitiva durável. Se ela está constantemente gastando menos de 25%, é muito provável que isso aconteça por causa da existência de uma vantagem competitiva durável a seu favor.

Foi desta forma encontrando vantagens competitivas através das demonstrações contábeis que Buffett transformou a sua holding, a Berkshire Hathaway, no império que é hoje. Ela já foi uma empresa medíocre no altamente competitivo setor têxtil. Buffett comprou uma participação controladora, parou de pagar dividendos a fim de acumular ativo disponível e depois, usou o capital de giro da companhia para comprar uma seguradora. Em seguida, utilizando o ativo da seguradora, ao longo de anos foi comprando empresas que possuíam vantagens competitivas duráveis. 

Smart Trade

A educação financeira é uma histórica lacuna no nosso modelo de ensino, mas felizmente existem dezenas de iniciativas que trabalham para fechar esse gap, e o projeto desta coluna é mais uma delas. Temos como missão traduzir para você aquele “Economês” frequente no mercado financeiro, além de desmistificar os paradigmas mais comuns do cotidiano de um investidor. Vamos tratar de temas atuais e como eles podem impactar diretamente a maneira como você investe. Vamos propor reflexões sobre o cenário e como tirar o melhor proveito dele. Nosso intuito é trazer um ponto de vista do lado de dentro do mercado, como cada tema é tratado e discutido na frenética mesa de operações – um mundo fascinante. Estaremos aqui todas as segundas-feiras, sempre tratando do que é relevante para você e seus investimentos. Juntos vamos fazer investimentos mais inteligentes!"

81 posts

Sobre o autor
A educação financeira é uma histórica lacuna no nosso modelo de ensino, mas felizmente existem dezenas de iniciativas que trabalham para fechar esse gap, e o projeto desta coluna é mais uma delas. Temos como missão traduzir para você aquele “Economês” frequente no mercado financeiro, além de desmistificar os paradigmas mais comuns do cotidiano de um investidor. Vamos tratar de temas atuais e como eles podem impactar diretamente a maneira como você investe. Vamos propor reflexões sobre o cenário e como tirar o melhor proveito dele. Nosso intuito é trazer um ponto de vista do lado de dentro do mercado, como cada tema é tratado e discutido na frenética mesa de operações – um mundo fascinante. Estaremos aqui todas as segundas-feiras, sempre tratando do que é relevante para você e seus investimentos. Juntos vamos fazer investimentos mais inteligentes!"
Conteúdos
Postagens relacionadas
Smart Trade

Análise das Trajetórias das Taxas de Juros nos Estados Unidos e no Brasil

4 Minutos de leitura
Os mercados financeiros têm acompanhado de perto as perspectivas das trajetórias das taxas de juros nos Estados Unidos e no Brasil. A…
Smart Trade

Bolsa em queda: o que justifica o estresse dos mercados em 2024?

2 Minutos de leitura
Dezembro de 2023. O discurso no mundo era de seis cortes de juros nos EUA a iniciar já no primeiro semestre; e,…
Smart Trade

Impacto dos Conflitos no Oriente Médio no Mercado de Ações Brasileiro e na Inflação Global

3 Minutos de leitura
Os conflitos no Oriente Médio têm desencadeado ondas de instabilidade que reverberam além das fronteiras da região, afetando economias ao redor do…