Por conta das pressões inflacionárias geradas pela pandemia de COVID-19, crise hídrica, crise de abastecimento de insumos e problemas internos, o Brasil soma a sexta pior alta nos preços de todo o continente americano na soma dos últimos doze meses.
De junho de 2020 a junho de 2021, o Brasil acumula alta de 8,35% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado como a inflação oficial do país publicada pelo IBGE.
De acordo com dados oficiais, o Brasil só fica atrás de da República Dominicana (9,32% de inflação acumulada), Haiti (17,9%), Suriname (43,6%), Argentina (50,2%) e Venezuela (2720%).
De acordo com os últimos dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação brasileira subiu 0,53% no mês de junho. Em 2021, a alta já é de 3,77%.
A alta dos preços no acumulado de 12 meses já supera o teto da meta da inflação estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 5,25%.
Segundo o Boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central (BC), a inflação brasileira deve fechar o ano em 6,56%, de acordo com a publicação desta segunda-feira (26).
Confira a inflação acumulada dos últimos 12 meses de boa parte dos países do continente:
Venezuela | 2720% |
Argentina | 50,2% |
Suriname | 43,6% |
Haiti | 17,9% |
República Dominicana | 9,32% |
Brasil | 8,35% |
Uruguai | 7,33% |
México | 5,88% |
Estados Unidos | 5,4% |
Honduras | 4,67% |
Paraguai | 4,5% |
Jamaica | 4,4% |
Cuba | 4,2% |
Nicarágua | 3,94% |
Guatemala | 3,91% |
Fonte: TradingEconomics
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É importante ressaltar que a inflação é gerada por inúmeros fatores, internos e externos. A alta de preços no Brasil, é impulsionada por efeitos diferentes da inflação acumulada dos Estados Unidos, por exemplo.
No país norte-americano, os efeitos inflacionários são sentidos principalmente por conta do robusto plano de investimentos em infraestrutura no país, acompanhados da manutenção das baixas recordes de juros básicos, de 0% a 0,2%.
O resultado é uma alta acelerada nos preços, podendo prejudicar a população cuja renda não acompanhe a variação inflacionária.
Segundo a Federal Reserve (Fed) do país, porém, os efeitos são temporários e ainda não são um fator de extrema preocupação. Para dar sustentabilidade à economia, o governo Biden injetou trilhões em estímulos.
No Brasil, a situação é um pouco diferente. Em 2020, em plena pandemia de COVID-19, os efeitos inflacionários já eram sentidos nos alimentos das prateleiras de supermercado. Só no ano passado, a alta nos produtos alimentícios foi de 14%.
Em 2021, ano marcado pela recuperação econômica dos países desenvolvidos neste momento que é chamado de “pós-pandemia”, os problemas internos continuam pressionando os índices inflacionários.
Na política, a demora na resolução do Orçamento para 2021, CPI da Covid, Reforma Tributária fatiada e desgaste do Planalto ajudaram a deixar o clima ruim para o investimento estrangeiro.
A alta de casos de COVID-19 ainda é um fator preocupante. No início de 2021, o Brasil passou pelo pior momento desde o início da pandemia, paralisando mais uma vez diversos serviços e provocando isolamento social.
Nas refinarias, as altas sucessivas dos combustíveis, causadas pela variação no mercado internacional, ajudaram o IPCA a subir além do esperado. De acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o etanol subiu 23,1% só nos últimos quatro meses.
Por fim, a crise hídrica do Sudeste e Centro-Oeste do país deve provocar altas mais acentuadas da inflação até o término do ano. De acordo com órgãos governamentais, o período da estiagem deve acabar só em novembro.
Para suprir a demanda, o governo aprovou a ativação de usinas termelétricas, conhecidas por serem mais caras. Por isso, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já subiu a conta de luz em julho para a bandeira vermelha nível dois.
Além da conta de luz mais cara para o brasileiro, o setor industrial também deve sentir o impacto da crise. Além do custo operacional, o Ministério de Minas e Energia (MEE) estuda meios de negociar racionamentos voluntários do setor.
Com a alta da inflação, o mercado já projeta que a meta Selic, taxa básica de juros brasileira, deve ficar acima de 7% em 2021. Atualmente, ela está em 4,25%, com previsão de alta na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para acontecer nos dias 2 e 3 de agosto.
De acordo com o Boletim Focus, publicado semanalmente pelo Banco Central (BC), a meta Selic deve terminar o ano em 7% a.a.