Entrevistas

Para Allan Rodrigues, sócio da Grou Capital, a disciplina nos processos molda o sucesso de um fundo de investimentos 

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Os fundos de investimentos são uma das formas de aplicação mais populares do mercado financeiro. Com eles, é possível diversificar a carteira de investimentos de maneira mais rápida e prática do que seria viável a partir da compra avulsa dos ativos. 

A montagem e monitoramento da carteira de um fundo, no entanto, vai muito além da compra e venda de cotas a partir da plataforma da sua instituição financeira de preferência. 

Nesta semana, conversamos com exclusividade com Allan Rodrigues, sócio da Grou Capital, gestora de fundos especializada no mercado de ações. Allan compartilhou conosco como funciona a montagem de um fundo, desde a estruturação da equipe até o monitoramento de oportunidades e riscos nas operações. 

A seguir, você confere um resumo desta conversa. 

A ESTRUTURA DE UMA GESTORA  

Segundo Allan, a montagem de um fundo de investimentos vai além da estratégia escolhida para alocação de capital. O processo começa pela estruturação de toda a parte operacional que dá apoio para que a gestora consiga operar diariamente com eficiência, segurança. 

“Isso vai desde a escolha do local da gestora, qual a estrutura técnica que eu tenho, como eu acesso a minha rede de dados, como vai funcionar meu escritório de contingência, nuvens, etc”, aponta o sócio da Grou Capital. Depois disso, para ele, chega o momento mais importante para uma gestora. 

“Gestão é um business de pessoas, então a gestora é um negócio de pessoas”, afirma. Para Allan, um dos pontos mais importantes é ter profissionais com boa experiência no mercado a frente dos times de gestão, análise e pesquisa. “Do gestor a todos os analistas que fornecem as informações para esse gestor, a gente precisa de uma equipe sênior e totalmente dedicada. Mas eu também tenho uma equipe de backoffice e middle office fazendo todos esses processos operacionais do fundo acontecer”. 

Enquanto um gestor dedica seu dia a dia às operações de compra e venda de ativos e para a alocação de recursos nos fundos, as equipes de apoio precisam acompanhar o ritmo para que todas as operações definidas sejam de fato executadas. 

Allan destaca ainda que, embora o gestor do fundo seja a figura mais lembrada quando se fala na montagem dos fundos e nos resultados atingidos pelas aplicações, existem outras camadas no cotidiano de uma gestora. Ele explica que a área de risco – também um cargo sênior na Grou – é responsável por monitorar as operações realizadas diariamente pelo gestor e sua equipe. 

Para ele, a área de relacionamentos também é uma frente de atuação de suma importância para uma gestora. “Por mais que no final do dia o fator importante seja e o que o pessoal mais vê dentro de um fundo seja uma cota, explicar os resultados dá tranquilidade e segurança para o cotista entender como ganhamos dinheiro ou, em alguns momentos, como perdemos dinheiro. Ele entendendo o que está sendo feito, tendo uma comunicação boa da gestora com todos os seus parceiros de negócios, essa área de relacionamento faz com que a pessoa entenda o que é uma visão de longo prazo. Volatilidade vai existir dentro desse processo de investimento”. 

“Isso é o que a gente entende da formação de um fundo, tudo que envolve desde a estrutura física, da minha escolha de onde vai ser a minha gestora, até as pessoas que vão tomar as decisões e vão gerar aquela cota final”.

A MONTAGEM E GESTÃO DE UM FUNDO 

A equipe por trás da gestão de um fundo de investimentos pode ser estruturada de diversas formas, mas – como falado anteriormente – o básico é existam os times de gestão, análise, pesquisa e de gestão de risco. No caso da Grou, segundo Allan, a gestora conta um time de analistas de extensa experiência no mercado financeiro e um chefe de pesquisa. 

O time de análise, de acordo com ele, é responsável pelo acompanhamento diário dos setores da economia que impactam os fundos geridos pela empresa. “Esse time de análise são as pessoas que estão ali no dia a dia cobrindo as empresas. Temos analistas do setor de varejo, saúde, proteína, temos analistas cobrindo o setor de commodities, pessoas dedicadas a diversos setores”, aponta. 

“Essas pessoas, fazendo a sua cobertura das suas áreas específicas, vão levando isso para o chefe de pesquisa de tal forma que isso possa ou não virar uma tese, um investimento dentro de um fundo”, explica. No caso da Grou Capital, uma gestora focada no mercado de ações, os analistas apontam possíveis oportunidades de investimentos. 

“Isso vai até o chefe de pesquisa, que já escutou outros analistas também, já olhou outros setores, para ver como que aquela tese vai conversar com o que nós já temos hoje de alocação”, detalha. E isso, segundo Allan, é “apenas” o momento inicial, onde são idealizados possíveis investimentos. O dia a dia do time de análise vai muito além de propor a alocação de investimentos em determinados papéis disponíveis na Bolsa. 

“Eles (analistas) não estão o tempo inteiro originando ideias novas, isso é parte do processo. Uma vez que eu tenho alocação, uma vez que eu já investi em algumas empresas que estão representadas lá no fundo, é esse time de análise que continua monitorando cada uma dessas teses de investimentos, cada uma dessas empresas”, afirma o sócio da Grou Capital. 

“O processo de originar as ideias e trazer as teses é onde você pode iniciar um longo caminho de investimento e de retorno. Porém, faz parte do escopo de trabalho do analista continuar monitorando todos os riscos que aquela empresa ou aquele setor está apresentando, continuar monitorando o discurso dos principais executivos com o que está acontecendo de fato no dia a dia da empresa”. 

É importante pontuar que os riscos apresentados nem sempre representam o momento de tirar o capital alocado de um investimento. Em determinados momentos, explica Allan, a estratégia correta pode ser montar uma proteção em volta de determinado papel em que o potencial de lucros compensa o risco assumido. 

A figura central nesse processo todo é o gestor, que fica responsável por avaliar as teses e transformá-las (ou não) em novos aportes para os fundos de investimento. Segundo Allan, o gestor tem a missão de – junto do chefe de pesquisa, tem a missão de analisar de uma forma mais ampla as ideias propostas pelo time de análise para entender o que cabe ou não dentro da carteira do fundo. 

“O gestor tem uma visão mais ampla, ele está olhando a história inteira daquele fundo, ele está olhando um processo mais macro. Então digamos que um analista está em um micro setor, está olhando ali aquele setor que ele cobre e o gestor está ouvindo todo mundo e tentando entender o equilíbrio de tudo isso”, explica. 

E de olho em toda essa situação, fica a diretoria de risco. O setor de risco, segundo Allan, é responsável por monitorar se os investimentos são compatíveis com as exigências impostas pela gestora. E esses requisitos vão muito além de mapear os riscos e potencial retorno em um investimento. 

“Enquanto o gestor está discutindo com o time de análise dele o que ele gostaria de comprar e vender ou o que ele gostaria de aumentar de exposição, eu tenho uma área de risco e tecnologia dentro dessa área de risco para – antes que isso vire de fato uma posição dentro do fundo – analisar se isso cabe no regulamento, se vai ficar dentro do risco que eu me propus a correr com meus cotistas, se está dentro do processo de liquidez que eu digo que vou honrar”, aponta Allan.


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AS VANTAGENS DOS FUNDOS PARA OS INVESTIDORES 

Para Allan, a diversificação acessível – a vantagem mais famosa dos fundos – é apenas uma parte de tudo que um fundo de investimento pode oferecer para os investidores. Ao contratar um fundo, o investidor está comprando muito do mais do que “apenas” diversificação, ele contrata os serviços de todas essas áreas de especialistas citadas anteriormente. 

“Você com um único investimento está alocando dinheiro, no nosso caso, em aproximadamente 15 empresas. Com uma única alocação você diversificou o seu investimento, mas vai além disso”, aponta. “Quando você opta por investir através de um fundo, você na verdade está contratando tudo isso no seu investimento. Você está contratando toda a expertise de um time de análise completo, você está contratando toda a expertise de um time de pesquisa, está levando junto com esse investimento tudo que nós investimos em sistema de riscos, sistema de monitoramento”. 

A gestão ativa é o grande ‘trunfo” dos fundos de investimentos, pois toda a estrutura de uma gestora proporciona ao investidor um monitoramento diário dos ativos dentro da sua carteira que na maioria das vezes não é possível fazer.  

“É muito fácil hoje você investir em ações aqui no Brasil. Você abre uma conta em uma corretora, você pode ter uma assessoria para fazer isso, mas o mais complicado desse processo é que você não vai conseguir acompanhar o seu investimento da forma como um fundo de investimento acompanha”, aponta o sócio da Grou Capital. “Nós temos pessoas dedicadas do primeiro minuto da abertura do pregão até o pós-fechamento da Bolsa. Estamos o tempo todo dedicados ali, olhando para a tela, acompanhando o que está acontecendo dentro de um único dia de pregão”. 

Para além da diversificação e do monitoramento dos pregões, Allan compartilha que o time de analistas da Grou constantemente marca visitas a empresas para avaliar se os processos no dia a dia delas estão de acordo com o que o mercado enxerga e atentos a possíveis riscos antes que eles possam impactar a carteira do fundo. 

“Além da pessoa que está lá no escritório conversando, nesse exato momento eu tenho dois analistas aqui da Grou que estão dentro de uma fábrica olhando a produção deles e validando se tudo aquilo que a gente recebe de informações deles procede”, aponta. “Você tem a tranquilidade (ao investir em um fundo), de continuar exercendo a sua atividade – seja você um estudante, médico, um pintor, um administrador – da mesma forma que nós estamos dedicando todo nosso tempo para fazer aquilo que nós escolhemos”.

GESTÃO EM TEMPOS DE CRISE 

Nos últimos 15 anos, podemos presenciar o acontecimento de diversas crises no Brasil e no mundo, desde a crise financeira de 2007 até a pandemia de Covid-19 e, por último, o conflito entre Rússia e Ucrânia no leste europeu. Esses momentos, como explica Allan, têm impactos diversos no mercado acionário – onde atua a Grou Capital –, podendo afetar mais ou menos as bolsas de valores. 

Allan, hoje responsável pelo relacionamento institucional da gestora, explica que o fator mais importante para lidar com esses momentos é justamente entender como funcionam os fundos. Entendendo o que acontece no dia a dia das gestoras e como um fundo é montado e o nível de disciplina dentro da empresa, é possível transmitir uma mensagem de maior segurança para os cotistas do fundo. 

“A gente começa antes do pregão realizando uma reunião matinal, onde todas as equipes estão presentes, acontece religiosamente todos os dias. A gente consegue ouvir o gestor, o que ele tem de insight dos cenários macroeconômicos, ou seja, o que aconteceu na noite anterior pós-fechamento do pregão, o que aconteceu na madrugada, como foram as aberturas dos mercados globais e escutar também de cada analista o que eles estão vendo dentro de seus setores”, aponta. 

Para ele, a chave para o sucesso de uma gestora se dá nesses pequenos rituais. Uma gestora que se mantém atenta aos comunicados emitidos pelas empresas listadas na Bolsa, que se mantém revisitando as teses de investimento e rediscutir em equipe os processos. Durante o pregão, segundo Allan, esses processos se tornam ainda mais dinâmicos. 

Em um momento como o atual, de pressão inflacionária e taxas de juros elevadas, muitos investidores acabam migrando para o mercado de renda fixa – com taxas mais atraentes do que o normal – por medo dos riscos atrelados ao mercado de renda variável. Allan avalia, no entanto, que o momento é de entender que decisões tomadas de forma impulsiva podem não estar de acordo com os objetivos a longo prazo do investidor. 

“A gente vive em um momento em que temos muito acesso à informação, seja ela mais alarmista ou mais construtiva. O investidor precisa tomar as decisões dele baseado naquilo que ele está seguro em um processo de investimento” aponta. Para o sócio da Grou Capital, é importantíssimo que gestoras de fundos mantenham uma comunicação clara e que dê segurança aos seus cotistas, para que eles possam tomar decisões como abrir mão ou não de sua cota no fundo ou de aumentar sua exposição à carteira do mesmo. 

“Se você abrir o jornal hoje, você vai ver juros alto, inflação alta, dólar mais caro (comparado a níveis pré-pandemia). Todos os fatores que estão nas capas dos jornais, muitas vezes levam o investidor a tomar uma decisão de curto prazo. Na maioria das vezes, investimentos são (pensados para) longo prazo, ações são investimentos de longo prazo”. 

A transparência nos processos é crucial para lidar com o emocional dos investidores nesses momentos. No caso da Grou, Allan destaca que a gestora acredita e aposta muito em tendências a longo prazo, com investimentos ligados a diversas commodities como lítio, urânio e níquel. 

Ele ainda aponta que é importante o investidor ter em mente que, quando se fala em diversificação, o assunto é mais complexo do que apenas alocar capital em diferentes papéis da Bolsa. “A diversificação da carteira dele (investidor), não é uma diversificação de nomes ou de empresas. Ele realmente precisa ter um portfólio equilibrado que suporte momentos de volatilidade como estamos vivendo”, aponta. 

“Do nosso lado, o que a gente faz o tempo todo é relembrar o que fazemos, porque fazemos e o que estamos olhando. Eventos de curto prazo, e a gente torce dia após dia que essa guerra seja um momento de curto prazo, as vezes impactam positivamente ou negativamente o preço de determinada ação, mas nenhum gestor começou uma tese de investimento olhando para isso. A gente começa olhando uma tendência, uma mudança disruptiva dentro de um setor”. 

Allan ainda destaca que o processo de assessoramento é de extrema importância para que o investidor se sinta mais seguro com seus investimentos. Mais do que apenas diversificar sua carteira de forma rápida através de um fundo, é importante que o investidor diversifique sua carteira de uma forma mais efetiva comprando diferentes classes de ativos, cotas de fundos de diferentes gestores, etc.


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No dia a dia da gestora, no entanto, ele afirma que os momentos de crise não têm um impacto tão grande na parte operacional da Grou Capital. Esses momentos demandam mais atenção, mas Allan afirma que a disciplina na execução dos processos de gestão do fundo faz com que as execuções sejam mais eficientes. 

“Uma vez que eu monitorei os riscos A, B, C e D, um desses riscos foi atingido e lá no passado eu falei que se acontecesse isso eu iria zerar aquela posição, só resta executar. Antes mesmo de eu pensar em o que posso aproveitar de oportunidade dentro de uma crise, o nosso principal papel – o que manda nosso manual de política de investimento, de aplicação de recursos – é fazer a proteção do patrimônio do cotista”, aponta. 

Se, de um lado, é quase impossível prever momentos de crise como a pandemia de Covid-19 e o atual conflito no leste europeu, as gestoras como a Grou caminham cada vez mais na direção de aprimorar os seus processos para responder a esses momentos quando necessário. Para isso, segundo Allan, a gestora tem investido pesado em aprimorar a automatização dos seus processos, tornando a parte operacional mais eficiente e melhor estruturada para proteger o investimento dos cotistas. 

“Eu tenho um escritório robusto em termos de tecnologia, se faltar energia tem geradores, tenho site de contingência. Tenho formas de operar de qualquer lugar onde eu tenha acesso a rede. Passamos o período mais crítico da pandemia muito seguros de tudo que estava acontecendo na nossa empresa, na nossa gestora e nos nossos fundos”, explica. 

Guilherme Guerreiro

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