Na última quarta-feira (20), o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) tomou uma decisão unânime: reduzir a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, de 13,25% para 12,75% ao ano. Essa mudança estava amplamente prevista pelos analistas de mercado. Em seu comunicado, os membros do Comitê também anteciparam futuras reduções de 0,5% em magnitude nas próximas reuniões. Eles enfatizaram a importância desse ritmo para manter a política monetária contracionista, crucial no processo de desinflação. Além disso, essa decisão está alinhada com a estratégia de convergência da inflação para a meta estabelecida, abrangendo os anos de 2024 e 2025.
As implicações dessa alteração na taxa Selic são significativas. Especialmente, as aplicações de renda fixa, em particular aquelas vinculadas a investimentos pós-fixados, devem experimentar uma gradual redução em seus retornos. Isso, por sua vez, incentiva os investidores a buscarem oportunidades com maior potencial de retorno na renda variável. No entanto, surpreendentemente, o Ibovespa registrou uma queda semanal de 2,31%, encerrando a semana com 116.009 pontos.
No âmbito interno, a reação ao comunicado do Copom desapontou parte do mercado que esperava um ritmo mais acelerado de cortes na Selic, de 0,75% até o final do ano. No entanto, o Comitê praticamente descartou essa possibilidade, preocupado com as pressões inflacionárias globais persistentes, incertezas sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e a sustentação da demanda agregada devido aos estímulos fiscais. O relatório bimestral de receitas e despesas também revelou a dificuldade do governo em aumentar a arrecadação de impostos a curto prazo, enquanto as despesas obrigatórias continuam crescendo. Portanto, a estabilidade das contas públicas e fiscais é crucial para atrair investimentos estrangeiros.
No cenário internacional, a decisão do Comitê de Política Monetária dos EUA (FOMC) de manter as taxas de juros na faixa entre 5,25% e 5,50% foi o destaque. No entanto, o discurso subsequente de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (FED), indicou a possibilidade de um aumento adicional de 0,25% até o final do ano e apenas dois cortes em 2024. Isso sinaliza que as taxas de juros nos Estados Unidos permanecerão em níveis elevados por um período prolongado. As expectativas de crescimento econômico mais forte e taxas de desemprego mais baixas em 2023 e 2024 sugerem que o mercado de trabalho segue fortalecido, o que tem implicações negativas para a dinâmica da inflação e a política monetária. Os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos, conhecidos como treasuries, atingiram 4,43%, valores não vistos desde 2007. Além disso, dados econômicos e decisões de bancos centrais de outros países adicionaram incerteza aos mercados globais. O S&P500 encerrou a semana com uma queda de 2,93%, o Dow Jones caiu 1,89%, e o Nasdaq recuou 3,30%. O dólar também teve um aumento de 1,48% durante esse período, e a curva de juros futuros no Brasil apresentou um aumento, com exceção dos vencimentos de curto prazo.
Dados de fluxos de investimentos da B3 indicam que, na última semana (de 18/09 a 20/09, última atualização disponível), houve uma saída de capital estrangeiro da Bolsa no valor de R$213,93 milhões. Em agosto, os investidores estrangeiros foram vendedores líquidos em R$ -13,21 bilhões, refletindo um sentimento global de aversão ao risco e realização de lucros, contudo o fluxo no ano segue superavitário em R$11,63 bilhões. O saldo de investidores institucionais também foi negativo na semana em R$1,176 bilhão (total de R$ -28,96 bilhões no ano), enquanto os investidores Pessoa Física registraram um saldo positivo de R$ 725 milhões (fluxo positivo em R$ 6,00 bilhões no ano).
Apesar dessa correção de curto prazo no Ibovespa, permaneço otimista em relação ao Brasil, devido à continuidade do ciclo de queda da taxa Selic, ao retorno dos fluxos domésticos e aos níveis de valuation atrativos. O índice Preço/Lucro do Ibovespa negocia atualmente em torno de 8,1x, bem abaixo da média histórica de 11x. A XP estabelece um valor justo para o Ibovespa em 133 mil pontos até o final de 2023.