Entrevistas

“A mesada é um instrumento de educação financeira”, aponta educadora Andressa Costa

4 Minutos de leitura

Educação financeira é assunto para a família inteira, isso já sabemos. Mesmo assim, muitas vezes pode ser difícil introduzir o assunto no âmbito familiar e, especialmente, educar financeiramente os mais jovens. 

Tudo isso pode ser um verdadeiro desafio para quem gerencia uma família. Pensando em tudo isso, nesta semana conversamos com a educadora financeira Andressa Costa, que é sócia e CKO na Tindin – Educação Financeira Gamificada. Andressa falou conosco sobre de onde surgiu o seu interesse por estudar mais a fundo as finanças no âmbito familiar, compartilhou dicas de como levar a educação financeira para os mais jovens e muito mais. 

A ENTREVISTADA 

Andressa Costa é graduada em Gestão Financeira e possui ainda certificação em Coaching Financeiro e pós-graduação em Psicopedagogia. Trabalhou como tradutora voluntária do Curso de Finanças da Universidade de Michigan pela Fundação Lemann e atuou como consultora de educação corporativa para grandes empresas como Hyundai, Honda, Luxottica, MSX International e Rodobens. 

Foi mentora em Startup Weekends, atualmente é educadora financeira, consultora educacional e também faz palestras e atua como coach de Finanças Pessoais. É sócia e CKO da Tindin – Educação Financeira Gamificada.


Saiba mais

Para a mentora Lu Santos, educação financeira transcende o que geralmente se pensa sobre como lidar com o dinheiro


ONDE SURGIU O INTERESSE POR ESTUDAR E TRABALHAR COM FINANÇAS DO PONTO DE VISTA FAMILIAR? 

Venho de uma família bem humilde, então sempre tive em mente que se quisesse mudar a nossa realidade teria que estudar e aprender a lidar com o dinheiro. Quando mudei minha carreira para a área educacional, percebi, com os estudos da pedagogia e psicopedagogia, a importância de se aprender finanças desde a infância. Isso foi em 2011 e países como Cingapura e Estados Unidos já trabalhavam o tema nas escolas bem antes disso. 

Comecei a observar o modelo desses países e me aprofundar no tema das finanças para o âmbito escolar e familiar, pois no Brasil nossos pais não aprenderam a lidar com o dinheiro nem na escola, nem com os pais deles, consequentemente não tiveram condições de nos ensinar. Então eu compreendi a necessidade de se educar financeiramente toda a família. 

VOCÊ TEM UM CANAL NO YOUTUBE COM A SUA FILHA E A EDUCAÇÃO FINANCEIRA NA INFÂNCIA É UMA DAS SUAS BANDEIRAS. PODE OFERECER A SUA VISÃO SOBRE COMO É IMPORTANTE QUE A EDUCAÇÃO FINANCEIRA SEJA FEITA DESDE CEDO? 

Na infância nosso aspecto cognitivo está bem apurado para absorver conhecimentos, há muitas janelas de oportunidade para o aprendizado, por isso o que se aprende na infância se consolida e é fortemente levado e aplicado pelo resto da vida. 

Além disso, as crianças têm a oportunidade de aprender de forma lúdica, divertida e natural, através de experimentação, jogos e simulações, não precisando sofrer consequências negativas do mau uso do dinheiro na vida real (adulta) para aprender “na marra”. 

ENSINAR UMA CRIANÇA A LIDAR COM DINHEIRO CERTAMENTE É MUITO DIFERENTE DE ENSINAR UM ADULTO, QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS E OS PRINCIPAIS DESAFIOS? 

Exatamente! E esse é um ponto importantíssimo! A criança tem um nível de ansiedade naturalmente maior que o de um adulto, além disso a noção temporal dela ainda é mais imatura, então para ela é difícil pensar em longo prazo, futuro, etc. 

Dessa forma, precisamos começar a construir essa visão de longo prazo de forma gradativa na criança, mas sempre trabalhando os conceitos da educação financeira no curto prazo e na realidade do cotidiano dela. A ludicidade, histórias, contos, jogos e brincadeiras ajudam bastante e trazer contexto para esse aprendizado.

COM QUE IDADE VOCÊ ACHA QUE É POSSÍVEL COMEÇAR A OFERECER ESSA EDUCAÇÃO FINANCEIRA PARA OS MAIS JOVENS? 

Desde bebê. É isso mesmo (risos), desde bebês podemos ensinar nossos filhos. Sabe quando os levamos ao mercado e eles apontam com o dedinho as embalagens dos produtos que desejam? Pois bem, é ali que começamos as primeiras lições relacionadas a escolhas de consumo. 

Nesse momento os pais já podem trabalhar a questão de que o bebê levará apenas um produto, então se ele pedir outro, basta mostrar os dois e dizer que ele precisa escolher qual prefere. Isso por volta de 1 aninho e meio, 2 aninhos. As embalagens coloridas e os personagens dos desenhos presentes nelas são fruto de muito estudo do marketing sobre o comportamento consumidor infantil, então precisamos, também, aprender a educar financeiramente nossos filhos desde cedo. 

Educação para o consumo é o primeiro passo, e as oportunidades estão nas idas aos mercados, padarias e outros estabelecimentos comerciais. 

PODERIA COMPARTILHAR CONOSCO ALGUMAS DICAS PARA TORNAR ESSE PROCESSO MAIS EFICIENTE? 

O primeiro passo é trazer o assunto dinheiro para o dia a dia da família, para a mesa do jantar. Um ótimo começo para tratar o assunto com as crianças é falar sobre sonhos e desejos de consumo. Os pais podem compartilhar com seus filhos os sonhos que querem realizar e mostrar que é preciso um planejamento financeiro para isso. 

Em seguida, é importante perguntar às crianças sobre os sonhos delas também (que podem ser brinquedos, jogos, eletrônicos, viagens, etc.). E aí fluirá uma conversa saudável sobre esse assunto. Um segundo passo bem eficaz é introduzir a mesada. Vale lembrar que a mesada é um instrumento da educação financeira, que tem por objetivo promover a oportunidade da criança começar a praticar a gestão do seu próprio dinheirinho e vivenciar as consequências do uso que faz dele. 

A mesada não é uma recompensa por afazeres domésticos, bom comportamento e boas notas na escola. Esses são deveres da criança e devem ser cumpridos sem nenhuma recompensa ou remuneração. 

Guilherme Guerreiro

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