Entrevistas

“A pauta econômica hoje é prioridade e o mercado vem cobrando isso”, aponta economista sobre governo eleito.

5 Minutos de leitura

No último domingo (30), os brasileiros elegeram o próximo presidente da república. A partir do dia 1º de janeiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será o chefe do poder executivo nacional. 

Este será o terceiro mandato do petista, que foi eleito no pleito mais acirrado desde a redemocratização do Brasil no final dos anos 1980, com 50,90% dos votos válidos. O atual presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro teve 49,10% dos votos. 

O processo de transição foi iniciado nesta quinta-feira (03), com o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin como representante da gestão que assumirá o Planalto em 2023. O plano econômico do próximo governo, no entanto, é uma incógnita que o mercado financeiro tenta decifrar. 

Nesta semana, nós conversamos com o economista-chefe da Messem Investimentos Gustavo Bertotti sobre o cenário inflacionário e a política monetária brasileira. O especialista nos ofereceu um panorama sobre o combate à inflação pelo Banco Central (BC) e os principais desafios no radar para o ano que vem. 

Confira abaixo a nossa conversa com o economista! 

O cenário macroeconômico 

Estamos com três meses seguidos de deflação no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A inflação brasileira está controlada? 

Nós estamos gerando deflação, motivada principalmente pela queda no preço dos combustíveis. Lembrando ainda que o Brasil passa por um processo de aperto monetário desde março do ano passado que vemos como necessário. 

Mas não podemos olhar somente para a deflação. Precisamos acompanhar também a difusão do IPCA, que é a porcentagem de itens em alta, para ver se essa inflação vai se espalhar menos. O que nós vemos no último IPCA-15 foi o contrário disso, o índice de difusão permanece relativamente estável em 61,1%, um valor alto. É um indicador que temos de ficar atentos. 

O Banco Central conduz muito bem o processo de política monetária, se mostrou vigilante ao cenário inflacionário na última ata (do Copom) e coloca pontos de preocupação principalmente pelo cenário externo. 

E ele não hesita em continuar com o aumento de juros caso necessário, vem conduzindo muito bem e trazendo um pouco mais de tranquilidade ao mercado mesmo com os juros que temos. São juros altos, mas necessários para combater essa inflação. 

Quais os principais obstáculos para o Brasil em 2023?  

São algumas pedras no sapato, eu diria. O que vem pressionando com muita força é o cenário externo, nós temos uma inflação global que vem desde a desestruturação da cadeia de oferta com a Covid-19 contexto muito incerto com a guerra na Ucrânia que continua pressionando commodities. 

A tensão geopolítica entre China e Taiwan, pelo setor tecnológico e a dependência que o Brasil tem da importação de semicondutores. Temos ainda a política de Covid Zero que continua em algumas regiões industriais da China. Isso tudo pressiona o preço das commodities. 

E nós temos um processo de aperto monetário nas economias desenvolvidas, e o Brasil tem uma relação muito forte de exportação com esses países. E o quanto esse aperto pode impactar non consumo internacional? 

Do lado doméstico, o risco vem crescendo. Nós temos um governo novo eleito que precisa dar continuidade nas reformas estruturantes que o Brasil tanto precisa, um risco fiscal que volta a ser falado, há uma preocupação muito grande com o teto de gastos. 

E esse governo novo vai ter de apresentar um plano econômico, algo que até agora não está claro. Os desafios são grandes para o país. Eu diria que nós temos um cenário externo bem conturbado e um doméstico que começa a pesar mais. 

O Brasil está gerando emprego, os dados do CAGED mostram isso, mas ao mesmo tempo esse mercado de trabalho pode voltar a pressionar a inflação.  

Quando veremos a Selic baixando? 

Eu acredito que no segundo trimestre de 2023, mantendo-se as estimativas de IPCA em queda. O que eu posso te afirmar é que vamos ter juros altos por mais um longo período de tempo para ancorar essas expectativas de inflação. Mas ainda assim vamos ter que avaliar todos os balanços de riscos que englobam o mercado internacional e doméstico. 

O que esperar do governo eleito? 

O que podemos ver de novidade no novo governo e o que pode ser mantido? 

É bem difícil de falar porque o governo eleito não apresentou ainda um plano concreto para a economia. Com o que vimos nos debates ainda não é possível ter uma clareza sobre isso. 

Nós vamos ter que observar as próximas semanas, como que isso vai andar. A pauta econômica hoje é prioridade e o mercado vem cobrando isso, podemos observar isso com a volatilidade no mercado. 

As estatais estão sofrendo muito por conta de uma incerteza que temos sobre a condução da economia e dos problemas que já tivemos em gestões passadas. O mercado está com uma aversão a risco e nós vamos depender muito desses planos mais concretos para conseguir fazer uma avaliação melhor do que esperar do novo governo. O dólar também tende a ganhar força. 

É um ambiente que não será fácil ao novo governo, Lula precisa apresentar propostas concretas e rápidas. 

Um dos nomes cotados para assumir o Ministério da Economia é o ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles. Caso confirmado, Meirelles é um nome que ajudaria a acalmar o mercado? 

É um nome que agrada o mercado, mas não seria o ponto principal (na avaliação do mercado). Nós precisamos ver um plano de governo voltado para a economia, para as políticas públicas, que seja compatível com a nossa realidade. 

Não seria só o ministro, você precisa ter uma equipe econômica competente e que possa passar essa confiança para o mercado. Por enquanto, ainda está muito nebuloso, então o mercado vai continuar observando muito isso. 

O Banco Central permanece autônomo? 

Eu não acredito em uma interferência do governo no BC e espero que essa seja uma questão superada. Isso seria um grande retrocesso para o Brasil. A política monetária precisa ser isenta do cenário político.  

O Banco Central é técnico, ele vem conduzindo muito bem a política monetária mesmo com esse cenário de risco elevado. Nosso BC é elogiado no mundo inteiro e na minha opinião ele deu aula na condução dos juros e no combate à inflação, algo que não vimos nos Estados Unidos e na Europa.


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Guilherme Guerreiro

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